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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

3. Domingo após Epifania / último domingo após Epifania, 25.01.2015

Predigt zu Mateus 17:1-9, verfasst von Harald Malschitzky

 

Estimadas irmãs, estimados irmãos em Cristo.

A vida humana, em suas etapas distintas, transcorre em determinado ritmo repetitivo. Por mais que aqui se escondam perigos, caricaturados, por exemplo, no filme Tempos Modernos de Charles Chaplin, nós precisamos de um certo ritmo, de clareza das próximas tarefas, de “planejamento”. Sem isso a nossa vida se transforma em um caos. No entanto, precisamos e até dependemos de momentos diferentes que rompem os limites do ritmo e da mesmice, como, por exemplo, encontros com familiares ou amigos, algum passeio, programas oferecidos pela igreja, tais como retiros, congressos e, sem dúvida, os cultos. Momentos assim costumam dar um novo impulso e ânimo para voltar ao dia a dia. Além disso, há os acontecimentos mais pessoais que marcam: Confirmação, noivado (onde ainda existe!), casamento, nascimento de um filho. Mas é no terreno da religiosidade e da fé que costumam acontecer os maiores impactos: um congresso de jovens inesquecível (particularmente me lembro do primeiro do qual participei em 1955 (!) e que – suspeito – me despertou para lá adiante estudar teologia), um congresso ou retiro de mulheres, um encontro de casais, uma experiência pessoal de fé. Tudo isso, muitas vezes, influencia bastante o rumo de nossas vidas. Momentos assim são tão fortes que gostaríamos de congelar a imagem, de ficar para sempre no âmbito e nos limites de tal experiência.

A Bíblia registra muitas cenas de forte impacto para pessoas ou para toda uma comunidade. Lembremos apenas Abraão, Moisés, o povo de Nínive, que foi convertido, o profeta Jeremias, que lutou para fugir do impacto, o profeta Isaías que ficou tomado de medo, Zacarias que ficou mudo por um tempo, Simeão que viu a promessa de Deus cumprida no nascimento de Jesus, Paulo que, por um momento, ficou cego...

Um dos textos bíblicos sugerido para este domingo é do evangelho de Mateus, que ilustra de forma magistral o encontro com o sagrado, o impacto, as reações... Ouçamos, do capítulo 17, os versículos   1 a 9.

Jesus costumava afastar-se das multidões para orar. Segundo o texto, ele convida três dos discípulos para ir com ele, três que teriam papeis importantes no início da cristandade. Ali no monte os três tiveram uma experiência absolutamente inusitada e única: Jesus é transfigurado e envolvido em brilho muito forte (como o sol!) e está conversando com Moisés e com Elias. Deve ter sido uma imagem que não poderia ser esquecida. Por isso não admira a reação pronta de Pedro: “É bom estarmos aqui”. Não só: Se possível, esse momento precisa ser fixado para que o deslumbramento e a experiência não terminem. Pedro tem uma proposta muito prática: Armar três tendas, uma para Jesus, outra para Moisés e outra, ainda, para Elias! Ele ainda estava falando, quando eles tiveram uma nova experiência: Uma nuvem os envolveu e se fez ouvir uma voz que dizia: “Este é o meu filho amado em quem me comprazo, a ele ouvi”. O medo se apossou dos três. Jesus se aproxima e os traz de volta à realidade com um toque e outra expressão que aparece muito na Bíblia: “Não temais”. Em seguida toma o caminho de volta e pede que os discípulos por ora nada contem do que aconteceu.

A aparição de Moisés e Elias confirma que Jesus é o messias anunciado e esperado e que tem suas raízes no povo de Israel. Jesus não é uma figura estranha de outro mundo, mas está ancorado na história de seu povo. A voz confirma que este Jesus é o filho amado de Deus. Acontece que sempre de novo surgiam dúvidas, até o próprio João Batista perguntou por sua autenticidade. Havia quem achasse Jesus muito simples, ou quem não conseguisse aceitar que o filho de José fosse o Messias; já para outros e ele era liberal demais e se envolvia com pessoas que eram discriminadas por diversas razões; ele ousava fazer uma releitura da lei e dos profetas a partir do imensurável amor de Deus. Sim, era preciso dizer e afiançar: Ele mesmo, e não outro, era o Messias! E por que será que ele pede aos discípulos para ainda não contarem nada se sua experiência? Na tentativa de entendê-lo surgiram diversas leituras. Eu tomo emprestada uma das mais simples: Diante de Jesus e diante dos discípulos ainda estava um difícil caminho de sofrimento e de morte. Qualquer euforia iria causar mais mal-entendidos e criar falsas expectativas. Nada deveria ofuscar o fato de que Deus se revelava em Jesus de Nazaré, não em um semideus ou em um herói qualquer como eram muitas divindades de gregos e romanos, por exemplo. Um texto que o apóstolo Paulo cita em sua carta aos Filipenses o formula de forma muito bonita: “Cristo (...) a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens, e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte, e morte de cruz (2. 7-8).

Vivemos um tempo de intensa feira de religiões e religiosidades, o que muitas vezes nos dificulta encontrar o rumo cristão. Por isso mesmo é imperioso prestarmos muita atenção ao testemunho bíblico de Jesus. O “filho amado de Deus” deu a sua vida em favor da nossa vida e da nossa liberdade e comunhão. Estamos prestando atenção ao que nos diz esta voz? Não se trata apenas de ficarmos extasiados diante da grandeza do Cristo e de sua humanidade, não é suficiente termos “Jesus no coração”, colocarmos ele e os profetas em tendas. A pergunta é o que me determina na vida... e também na morte! Celebrações, por mais pomposas que sejam, não podem substituir uma vida pautada pelo exemplo de Cristo, que se humilhou e segue conosco. Jesus Cristo é aquele que nos toca e diz: “Não temais”, para em seguida seguir o caminho e nos convidar ao discipulado, um discipulado que nem sempre é coroado de glória, mas que pode implicar sofrimento e decepções. Aliás, o fato de Jesus dizer “não temais” não é uma “vacina” que nos imuniza contra o pecado e o erro. O mesmo Pedro que –apressadamente- queria montar três tendas, que em outro momento juraria fidelidade incondicional ao seu Senhor, negou o seu mestre três vezes justamente quando este se sentia só e até abandonado de Deus. Ainda assim, ele foi usado por Deus como um dos líderes da jovem igreja cristã. Mas isso só foi possível porque Jesus não aceitou ficar no monte, longe do mundo e da vida. Não só isso: Ele pôde experimentar em sua vida o que significa viver o perdão e do perdão, o que significa ter uma nova chance... Quem, em determinado momento, estava tão embasbacado com a experiência sagrada no monte, a ponto de propor ficar ali mesmo, foi levado e enviado ao mundo para ser testemunha.

Num primeiro momento o pedido de Jesus para que os discípulos nada contem do que experimentaram, não deixa de ser intrigante. Não seria uma boa propaganda em favor de Jesus, divulgar o que acontecera aos quatro ventos? Talvez, mas poderia levar a uma imagem distorcida. Quem sabe as pessoas esperariam de Jesus uma vida cheia de graça, sem dor, sem sofrimento, fora do mundo real. Ora, até hoje caímos facilmente nesta cilada, principalmente em situações de dor, sofrimento e morte: Não sabemos o que dizer, “queimamos” uma etapa e nos refugiamos na ressurreição. Não que ela não seja importante, muito pelo contrário, ela é o cerne da mensagem cristã, mas ela não elimina simplesmente a dor do sofrimento. Porque ela é a nossa esperança e o horizonte final de nossa existência, podemos viver com desprendimento sem medo de perdermos algo que supostamente seria nosso (minha vida, meu bem-estar, minha saúde, etc.). Por causa da ressurreição podemos ter certeza de que o Cristo não nos deixa sós, mas de que, assim como na descida do monte, ele já caminha na nossa frente e quando tropeçamos ele dirá “não temas”. Em uma oração no campo de concentração, em meio a medo e temor pela própria vida e pela vida de seus familiares, Dietrich Bonhoeffer se expressa assim: Senhor Jesus Cristo, experimentaste a penúria, foste pobre, preso e desprezado tal qual eu. Tu conheces toda a miséria humana. Tu ficas ao meu lado mesmo quando todos me abandonam. Tu não te esqueces de mim e sempre procuras por mim. Senhor, aconteça o que acontecer neste dia, teu nome seja louvado!

Felizes as pessoas que tiveram e têm o privilégio de experiências fortes e marcantes em seu caminho de fé. Não esqueçamos que também tais experiências não são nossa propriedade, mas um compromisso maior com o discipulado no mundo, não longe dele. Amém.

Oração: Obrigado, Senhor, por todas as belas experiências em nossas vidas. Obrigado por tu te revelares de tantas formas. Enche nossos corações com a alegria por tua presença. Tira-nos de nós mesmos e vai conosco para o mundo a fim de vivermos a tua vontade. Amém.

 



Harald Malschitzky
São Leopoldo – RS/Brasil
E-Mail: harald.malschitzky@terra.com.br

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