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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

2º Domingo na Quaresma, 01.03.2015

Predigt zu Romanos 4:13-25, verfasst von Elisandro Rheinheimer

 

 

Em uma frase, o texto da pregação de hoje, Romanos 4.13-25, está a nos dizer: “como Abraão você é aceito, salvo, pela fé e não por fazer o que a lei manda”.

Quando falamos em fé, cada um de nós que participa do culto dominical vai responder rapidamente, sem pestanejar, junto com o escritor de Hebreus, que “fé é a certeza de coisas que se esperam e a convicção de fatos que não se vêem” (Hb11.1). No entanto, esta certeza e convicção entendemos como sinônimo de “acreditar muito” que Deus vai fazer aquilo que queremos. Dizemos assim: “vai na fé que vai dar certo”; ou “você tem que mentalizar”, pois fé é certeza do que ainda não se vê; ou “você tem que acreditar do fundo do teu coração que Deus vai te dar”. A compreensão é tal que Deus se torna nosso devedor de acordo com a força que empreendemos em acreditar. Ou seja: acredito muito, recebo muita bênção; acredito pouco, recebo pouca bênção - as “receitas de salvação” e propósitos a Deus são feitos no mesmo intuito. Isto, no entanto, é fé esotérica, uma fé que transforma homens em super-homem e mulheres em mulher-maravilha. O detalhe é que ambas as personagens são ficção.

A fé pela qual Abraão foi aceito é outra. A diferença entre uma fé esotérica e uma fé no sentido bíblico, como a de Abraão, é:

  1. no conteúdo. A fé esotérica é uma fé que tem por conteúdo, meio e fim os desejos do ser humano (e não os de Deus), sejam eles egoístas ou os mais legítimos e honrosos que quiserem ser. Exemplo: “eu acredito muito (tenho fé) que Deus vai me dar a vitória e eu vou conseguir um carro novo”. O que temos é os interesses do ser humano no centro e Deus sendo seu serviçal. Onde está o “seja feita a tua vontade” do Pai Nosso? Uma fé no sentido bíblico iria perguntar: e se Deus não quiser? E se Deus entender (porque Ele é onisciente) que o carro novo não vai contribuir no teu bom testemunho? Na fé do tipo esotérica Deus é “obrigado a fazer o que nós queremos e não que Ele quer. Imagine só se isso e possível! Já a fé de Abraão tem por conteúdo a promessa do próprio Deus e não seus desejos mais ilustres. É o que lemos no texto de Gênesis 17.4,6: “eu faço com você esta aliança: prometo que você será pai de muitas nações. [...] farei com que os seus descendentes sejam muito numerosos, e alguns deles serão reis”. É nesta promessa que Abraão deve “crer contra toda esperança”, uma vez que ele tem 100 anos e Sara 90, uma idade totalmente inapropriada para filhos, tanto que Abraão ri. Cabe aqui frisar: na fé esotérica insinua-se que Deus faça o que eu quero; na fé bíblica Deus faz o que for o melhor para mim, mesmo que eu não entenda ou não goste, para honra e glória de seu santo nome. Essa é a primeira diferença.

  2. no jeito de crer. Na fé esotérica, crer é igual a pensamento positivo, é acreditar muito com todas as forças, aliás, é algo que se produz com as próprias forças, ainda que supostamente por inspiração divina. Na fé conforme Abraão crer é algo no qual a pessoa se encontra, não tem outra escolha, todas as suas possibilidades e forças acabaram, é dependência absoluta de Deus. O trecho que lemos em Gênesis 17 ilustra muito bem. Nesse trecho vemos Deus anunciando que Abraão e Sara ficarão grávidos logo após tentativa frustrada de fazerem a promessa de Deus acontecer por suas próprias forças, afinal, Sara tinha resolvido entregar sua escrava Agar a Abraão para que se concretizasse a promessa de ser “pai de numerosas nações”. O “jeitinho à brasileira” só trouxe tumulto para a família. É Deus quem cumpre suas promessas e não o ser humano. Para não haver dúvida quanto a isso, Deus novamente afirma a Abraão que será “pai de numerosas nações” só que o meio será o que Ele escolheu, a saber: Sara vai ficar grávida aos 90 anos contra toda probabilidade biológica. Cabe aqui frisar que Deus inverte o conceito do patriarca: é Abraão quem depende de Deus e não Deus de Abraão; e é Abraão quem faz o que Deus quer e não Deus o que Abraão quer. Esta é a segunda diferença.

Como vemos, a fé pela qual Abraão foi aceito é uma fé que se lança inteiramente ao cuidado de Deus para que seja feita a sua vontade. Esta fé aconteceu quando Abraão perdeu a ilusão de que ele e Sara controlavam alguma coisa. Quando dependeram inteiramente de Deus, quando “creram contra toda esperança” na promessa, nasce Isaque, literalmente filho da promessa. Conosco também é assim e somos convidados continuamente a fazer esta mesma experiência consistente de fé. Fé acontece quando perdemos a ilusão de que controlamos nossa vida.

Nosso “velho Abraão” ou nossa “velha Sara” sempre quer ter o controle de todas as coisas em suas mãos, quer sempre definir seu destino, quer sempre dar um jeitinho, quer saber o que é melhor e só descobre o que de fato é melhor quando faz a experiência amarga de perceber na pele sua vulnerabilidade: quando perde o carro, a casa, o trabalho, os amores, a honra e a dignidade, etc. Neste sentido a maior glória e louvor dados a Deus vem a ser a oração: “Deus tudo desmoronou, todo sonho desapareceu e se tornou ilusório, o que eu vejo não me deixa feliz, me perdoe o tempo em que eu achava que eu mandava em mim mesmo e que eu controlava alguma coisa; eu não sei o que fazer, que direção tomar, mas eu me entrego aos teus cuidados e seja feita a tua vontade”. Quando chegamos a esta dura e libertadora oração, chegamos à fé bíblica, conforme Abraão, e deixamos de lado a fé esotérica.

Esse vem a ser o momento áureo de nos achegarmos à Ceia do Senhor porque fomos preparados pelo próprio Deus para participar do seu banquete celestial. Neste momento experimentamos que não temos onde nos agarrar senão nele, ou definhar. Neste momento compreendemos que Deus quer cumprir suas promessas conosco como fez a Abraão. Que promessas? Promessas que Ele nos dá a partir de sua palavra lida, estudada, entranhada e pregada, a exemplo do que hoje recebemos do evangelho de Marcos onde Ele promete: “quem quiser pois salvar a sua vida perde-la-á; e quem perder a vida por causa de mim e do evangelho salva-la-á. que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Que daria um homem em troca de sua alma? Porque qualquer que, nesta geração adúltera e pecadora, se envergonhar de mim e das minhas palavras, também o Filho do Homem se envergonhará dele, quando vier na glória de seu pai com os santos anjos” (8.35-38). Promessas que não são egoístas e individualistas comoas do ser humano, focadas no aqui e agora passageiro, mas promessas que projetam a eternidade. Na Ceia, a promessa que Ele quer cumprir é “isto é o meu corpo que é dado por ti” e “este cálice é a nova aliança em meu sangue, derramado em favor de vocês para o perdão dos pecados”. Só que esta promessa se cumpre e chega especialmente ao auge de seu significado quando, em vez de nos abstermos com vergonha do fracasso pessoal, nos achegamos aos braços amorosos de Jesus e entregamos a Ele tudo o que nos afasta de viver vida abundante, que é nosso pecado vivido em suas facetas nas maiores vulnerabilidades da vida. Aí é chegada a hora de dizer: “Jesus Cristo toma este e aquele pecado, todas as minhas dúvidas e todas as minhas falsas certezas na vida, toma minha angustia, desilusão, limitações, vergonha e dá-me perdão, salvação, alegria, amor e paz verdadeiros”. E isto Ele fará. Entregue-se!

Por fim quero terminar esta pregação com a seguinte história*:

No meio da noite, uma casa está em chamas. A família ainda muito assustada, do lado de fora, tem de presenciar a terrível cena de ver sua casa sendo consumida pelo incêndio, quando repentinamente dão-se conta que o filho caçula de 5 anos ainda está dentro da casa. O pequeno, com medo das chamas e da fumaça, sobe as escadas até o sótão da casa de onde pode ser avistado. E agora? Os pais de pequeno olham um para o outro sem saber o que fazer, pois não há mais como entrar na casa. Então uma janela é aberta no sótão da casa e o menino clama por ajuda. Seu pai o vê e pede que ele pule.

O pequeno somente vê fogo e fumaça e tem medo. Ainda assim ouviu a voz de seu pai e respondeu: Papai eu não te vejo”. Ao que o pai responde: “não tenha medo meu filho! Tu não me vês, mas eu te vejo e isso é o suficiente. Pule! Eu te seguro aqui embaixo.”

Assim o menino pula da janela e seu pai o recebe em seus braços!!!

 

Que aprendamos cada vez mais a fazer o exercício de nos lançar aos braços do Pai na Ceia do Senhor. Quando não temos controle de mais nada, quando o fogo e a fumaça obscurecem toda a visão é preciso confiar mais ainda na visão do Pai que não nos deixa sós. Por isso Ele entregou seu Filho para morrer em nosso lugar, “...por causa de nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação”, conforme termina o texto de Romanos. Quem recebe este amor não fica com ele somente para si, mas quer viver espalhar para toda a criação vivendo o comprometimento do amor desinteressado.

Que Deus nos ajude! Amém!

 



P. Elisandro Rheinheimer
Tangará da Serra/MT
E-Mail: ieclbtangaradaserra@hotmail.com

Bemerkung:
*história original de Werner Forneberg (Deutsche Seite, Jornal Evangélico Luterano, setembro de 2014, em reflexão do P. Jaime Jung)


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