Göttinger Predigten
Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach
Penúltimo Domingo do Ano Eclesiástico, 18.11.2007
Predigt zu Lucas 21:5-19, verfasst von Helmut Burger
Prezada comunidade, irmãs e irmãos!
"Ganhareis vida verdadeira" - Jesus
Deve ter sido lindíssimo o templo em Jerusalém, ricamente enfeitado com as doações de crentes. Não é só na Bíblia que a beleza do templo de Jerusalém é comentada. Há outros registros a respeito deste santuário nos arquivos da história. Era um recinto, dentro do qual as ansiedades humanas encontravam repouso, onde a insaciável sede por vida se podia saciar na inesgotável Palavra de Deus. Mesmo se Jesus pronunciasse lá dentro palavras serias e duras de ouvir, envolto pelo sagrado do lugar, até estas palavras se tornavam bálsamo para a alma. Posso compreender os discípulos de então e a sensação do sagrado que eles experimentaram.
E aí vem Jesus e diz que este belo templo será destruído.
Penso imediatamente num prédio de igreja muito bonito na cidade de Gütersloh na Alemanha, dentro do qual experimentei, juntamente com brasileiros radicados na Alemanha, vários destes momentos sagrados. Disseram-me que essa igreja foi, agora, vendida. A comunidade precisava de dinheiro. Para mim essa notícia foi um choque, do qual custo a refazer-me. A partir daí posso imaginar bem o que sentiram os ouvintes de Jesus, quando ele lhes disse, que o bonito templo em Jerusalém seria destruído. Jesus disse isso com a maior da naturalidade, como se isso fosse a coisa mais normal do mundo. O ambiente sagrado não é algo essencial na vida. Essencial é outra coisa.
Com isso Jesus nos convida para olharmos em outra direção. É como se, em meio à meditação bonita no templo, ele tivesse ligada a televisão para a transmissão de um dos muitíssimos noticiários. Numa imensa tela vemos imagens de guerras, de atentados suicidas e de revoltas. Imagens de terremotos com pessoas soterradas, imagens de epidemias como Aids ou Dengue, de pessoas na extrema miséria e imagens de catástrofes de todo tipo, sem falar dos confrontos de policiais com a máfia da droga. Enfim: Imagens nojentas de sofrimento, desespero, raiva e mentira.
Não! Não troca de canal! Jesus apenas quer indicar, onde ele quer ver seus seguidores. Ele os quer bem no meio desses terríveis acontecimentos. É ali que é necessário o testemunho da vida. É ali que são necessários esperança e abraços. É ali, bem no meio das crueldades do mundo, que é necessário o testemunho de fé.
Os discípulos inicialmente não entenderam, o que Jesus pretendia com a menção de todas aquelas coisas terríveis. Queria ele assustá-los para que se convertessem, já que as prédicas no sagrado do templo não surtiram efeito? Assustados eles perguntam: "Quando acontecerá isso? Que sinal nos indicará essas coisas?" Queriam poder preparar-se para tal, fazer estratégias de como sair ileso de tudo isso. Sempre houve e haverá pregadores que se aproveitam do nosso medo das coisas terríveis, para forçar psicologicamente pessoas a se converter querendo indicar-nos atalhos pelos quais podemos escapar. Mas Jesus não usa as crueldades como se fossem um chicote para assustar. Há pregadores que assim o fazem.
Jesus tem outra intenção. Somos suas testemunhas! E como tais ele nos quer ver bem no meio das crueldades do mundo. Não iremos mudar as crueldades, mas poderemos fazer as pessoas sentir em meio a tudo isso o abraço de Deus. Também os evangelistas Mateus e Marcos ressaltam essa indicação de Jesus. Jesus havia dito aos seus que "depois da minha ressurreição irei adiante de vós para a Galiléia (Mt. 26,32 e Mc 14,28)". Galiléia representava, no tempo de Jesus, a região do terrorismo, do contrabando, do racismo e do absoluto desrespeito aos direitos humanos. Representava a região de maior desespero, mentira e raiva. Lá Jesus quis ver os seus para que as pessoas sentissem o abraço de Deus.
Depois da ressurreição de Jesus os apóstolos, porém, se refugiaram naquela sala, que para eles virara o lugar mais sagrado do mundo, a sala da celebração da Santa Ceia com Jesus. Ninguém pensou em ir para a Galiléia, preferiram o lugar sagrado. Foram necessárias as mulheres, que no dia da Páscoa ouviram mais uma vez a ordem do mestre: Dizei aos seus discípulos que ... ele vai diante de vós para a Galiléia; ali o vereis (Mt 28,7 e Mc 16,7). Felizmente os apóstolos, ao menos alguns deles, foram para a Galiléia (Mt 28,16). Foram para dentro das crueldades relatadas por Lucas. Se não tivessem ido, não teríamos hoje a Igreja. Felizmente existem discípulos, também hoje, que vão.
Eles foram com muito receio, receio esse que continua até hoje. Por isso Jesus os envia com uma promessa. Em Mateus Jesus diz: Eu estou convosco, mesmo se o mundo desabar (Mt 28,20). Conforme Lucas Jesus diz: Não vos preocupeis, porque eu vos darei boca e sabedoria" (V. 15). Felizmente houve e há cristãos que confiam nessa promessa, enfrentando os mais poderosos e os mais sábios de todos os tempos, podendo fazer a experiência de que "estes não podem resistir nem contradizer" ao abraço de Deus.
E então acontece a surpresa. Tudo o que os antigos procuraram no sagrado do templo, o que os apóstolos procuraram no local da Santa Ceia, o que todos procuram, seja onde for, tudo isso, os que foram para as Galiléias, que foram para dentro das crueldades do mundo, experimentaram e continuam experimentando. Jesus o formulou assim:
"Não se perderá um só fio de cabelo da vossa cabeça" (V.19).
Mateus diria: Na Galiléia viram Jesus. Lucas lembra a promessa de Jesus:
"Ganhareis a verdadeira vida, ganhareis as vossas almas." (V. 19).
Amém
P.S.:
Enquanto escrevo isso a TV está noticiando que faleceu o irmão do famoso tenista brasileiro Guga (Gustavo Kuerten). Ele não era apenas o maior torcedor de seu irmão, era também deficiente e estava preso à cadeira de rodas. Ressalta a mídia que era o ótimo relacionamento com esse irmão que manteve a família toda voltada para as misérias atuais, provocando o imenso trabalho de ação social desenvolvido. Em meio à tristeza predominaram palavras de gratidão por tantos abraços experimentados da parte de Deus. Tais exemplos, felizmente, podem ser repetidos às centenas, em que pessoas ganharam a verdadeira vida, ganharam alma.