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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

1º Domingo de Advento, 29.11.2015

Predigt zu Lucas 21:25-36, verfasst von Pedro Puentes Reyes

 

“Graça, misericórdia e paz da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Senhor.”  Amém (2 Tm1:2)

Irmãos e irmãs:
O texto para prédica deste domingo faz parte de um diálogo entre Jesus e as pessoas que o seguem. Para reflexão proponho, como eixo de interpretação, o tema da busca por segurança. Assim, enquanto para Jesus a segurança é possível em meio ao cotidiano da vida com toda a sua ambiguidade, para estes discípulos ela está atrelada à estabilidade advinda do Templo de Jerusalém.

O relato é introduzido por várias rupturas. Por exemplo, o comentário de Jesus (v. 2-4), sobre a oferta da viúva pobre é interrompido pela exaltação à grandeza do Templo de Jerusalém (v.5), que fazem alguns discípulos. Fala que, por sua vez, é quebrada pela maneira inesperada com que Jesus responde a pergunta pelos sinais sobre a destruição do Templo.

Entendo que o contraste está entre o fascínio dos discípulos pelo Templo de Jerusalém, como aquilo que confere estabilidade e segurança a vida do povo, e a afirmação de Jesus, que seguindo a tradição profética de Miqueias e Jeremias quanto ao Templo, anuncia: “Não ficará pedra sobre pedra”. Perante a atônita incredulidade dos discípulos o mestre, com uma simplicidade incisiva, diz: “vejam” e “ouçam” a sua volta. Considerem! Tudo neste mundo está sob a ameaça da deterioração e da destruição. Essa ameaça pode vir pela mão humana: guerras, revoluções, mortes, prisões, ódios. Ou por fenômenos naturais: terremotos, fome, epidemias, coisas espantosas e sinais no céu. “Vejam”, “ouçam” e questionem: se aquilo que foi colocado você considera como garantia de segurança para a vida um dia for abalado e destruído, o que sustentará suas vidas?

O que estas palavras podem nos dizer hoje? Eis o nosso desafio. Para tanto perguntamos: existe ao nosso redor, algo que realmente seja estável e capaz de nos conceder segurança permanente?
Se respondermos de forma afirmativa, a desilusão e a frustração virão ameaçar o nosso viver. Isto, porque, cedo ou tarde, o seguro se torna instável. Não é por acaso que o evangelho adverte: "Não acumulem para vocês tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e furtam” (Mateus 6:19). Por outro lado, se a resposta for negativa, corre-se o risco de desestabilizar a vida ou relativizá-la a tal ponto de ficarmos a deriva, ou submersos na angústia. Por isso, um pouco de estabilidade e segurança são necessárias para viver.

Constatamos assim que a vida nunca é de um jeito ou do outro, ela tem muitas nuances. Quem quiser apagar essa tensão acabará construindo uma vida de ilusão. Vivemos entre a seguridade e a insegurança, por causa da transitoriedade da vida, e não há como reduzi-la a um destes extremos. É inevitável, não temos como fugir do fato de que precisamos das coisas deste mundo, mesmo sabendo que elas são passageiras. Vivemos sob o alerta da palavra do mestre Jesus: “Onde estiver o seu tesouro, ali também estará o seu coração" (Lucas 12:34).

Então, como organizar nosso viver para enfrentar a vida, aceitando os limites que ela nos impõe? Como nutrir a vida para que haja alegria nos momentos de conquistas, e que, ao mesmo tempo, amenize o fardo da insegurança natural que há na existência?

A imagem da mulher viúva e pobre ofertando é a representação gráfica da proposta do Evangelho de Jesus. Ela representa a total fragilidade da vida: à margem da sociedade, sua existência cotidiana dependia da boa vontade e misericórdia das outras pessoas. Isto é confirmado por Jesus mediante o comentário - “deu tudo o que possuía para viver” (v.4b). O que chama a atenção nesta mulher é que se, por um lado, seu gesto de ofertar revela uma vida de instabilidade e insegurança, por outro lado, as palavras de Jesus também afirmam que ela tem uma força e grandeza. Assim, nos perguntamos: Qual o segredo desta mulher viúva e pobre? De onde ela tira tamanha segurança, em meio a sua total fragilidade e instabilidade?

Antes de responder a esta pergunta observemos que, diferente dos evangelhos sinóticos, o relato no evangelho de Lucas acontece no Templo (v. 37-38). Enquanto Jesus está no Templo de Jerusalém e anuncia sua destruição, ele afirma que o que permanece são o Filho do Homem (v. 27 e 36) e as Palavras de Jesus (v.33). A sugestão é que tudo neste mundo pode desabar, até o que há de mais sagrado, como o Templo e o culto a Deus, mas o núcleo central permanece: Deus, em Cristo, e sua Palavra.

Agora podemos dizer que o segredo da segurança da mulher viúva e pobre encontra-se na total dependência e confiança que ela deposita em Deus e sua Palavra.
A Palavra, que se fez carne em Cristo, permanece tanto nos sucessos como nos fracassos desta vida. Sobre essa Palavra o profeta Isaías escreve: “Ela não voltará para mim vazia, mas fará o que desejo e atingirá o propósito para o qual a enviei” (Isaías 55:11). Trata-se de uma Palavra que está carregada do desígnio daquele que a pronunciou, por isso ela torna-se o único sustento na ambiguidade da vida, e essa mulher viúva e pobre sabia disso.

É essa Palavra que vem a nós e se torna: Consolo em nossas aflições; Esperança, em meio ao desespero; Doce, na amargura; Promessa de nova vida, em meio à morte; Aconchego, na solidão; Paz, no tempo da angústia e do medo; Nova chance, na desilusão; Perdão, perante a falta; Gratidão, na alegria.

Hoje, quando damos início ao tempo de Advento, tempo de espera pela Palavra encarnada, precisamos reconhecer, mais do que nunca, a ambiguidade e provisoriedade da vida. Urge falar a verdade sobre a nossa existência: ela é frágil e passageira. E que, na sua ambiguidade e contradição ela necessita da Palavra que cria e recria a criação.

A Palavra de Deus, para a qual nos preparamos em Advento e recebemos no Natal, nos concede o sustento para trabalhar pela transformação deste mundo, com dedicação e alegria, como se tudo fosse perdurar para sempre. Nisto não há contradição, porque a radicalidade do Evangelho consiste em que mesmo na provisoriedade deste mundo Deus fez sua moradia. Desta forma, Deus sustenta tudo pela sua Palavra, pelo seu Cristo-Palavra encarnada. E nos envia à concretização dessa Palavra como amor em forma de serviço, justiça e paz.

Que neste tempo de Advento, enquanto nos preparamos para a celebração da vinda do nosso Senhor, possamos com coragem abandonar as falsas seguranças para nos agarrar ao que neste mundo permanece. Tudo isto, para que se cumpra em nós a palavra do evangelho que diz: “É na vossa perseverança que ganhareis a vossa alma” (v.  19). Amém.

 



P. Dr. Pedro Puentes Reyes
Porto Alegre, Rio Grande do Sul)
E-Mail: pedro3433@yahoo.com.br

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