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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

VÉSPERA DE NATAL, 24.12.2015

Predigt zu Lucas 2:1-7, verfasst von Scheila dos Santos Dreher

 

Que a graça de Deus seja conosco!

Não raras vezes tomamos conhecimento do nascimento de um bebê. Se for filho ou filha de alguém da nossa família ou de um casal de amigos, esperamos pelo nascimento com expectativa e celebramos com muita alegria quando recebemos a notícia. Raro é recebermos notícias do nascimento de alguém que está na linha de sucessão real porque, à nossa volta, governantes são eleitos, em geral, nas urnas. Recentemente nasceu a filha do casal William e Kate, que encontra-se na sucessão real do trono britânico. O anúncio do nascimento foi feito com muita pompa, por um cerimonialista real, em frente ao hospital onde nasceu a criança, ainda que as notícias veiculadas tenham mantido a privacidade da família real. A criança, já intitulada Princesa de Cambridge, foi saudada em grande estilo por uma multidão de pessoas que se colocou em frente à maternidade em Londres, na Inglaterra.

Convido a ouvirmos o testemunho bíblico do nascimento de Jesus, segundo o Evangelista Lucas:

“Naquele tempo o imperador Augusto mandou uma ordem para todos os cidadãos do Império se registrarem, a fim de ser feita uma contagem da população. Quando foi feito esse primeiro recenseamento, Cirênio era governador da Síria. Então todos foram se registrar, cada um na sua própria cidade. Por isso José foi de Nazaré, na Galiléia, para a região da Judéia, a uma cidade chamada Belém, onde tinha nascido o rei Davi. Foi registrar-se com Maria, com quem tinha casamento contratado. Ela estava grávida, e aconteceu que, enquanto estavam em Belém, chegou o tempo de a criança nascer. Então Maria deu à luz o seu primeiro filho. Enrolou o menino em panos e o deitou numa manjedoura, pois não havia lugar para eles na pensão.” (Lucas 2.1-7)

É muito peculiar a notícia do nascimento do filho de José e de Maria, se pensarmos na expectativa com que se esperava por essa criança! O povo de Israel aguardava com ansiedade pelo nascimento do novo rei de Israel. Ele foi anunciado pelos profetas Isaías e Miquéias. Certamente o povo esperava um rei no sentido político, que faria uso de força militar para trazer paz ao seu povo. No texto não há menção a palácios, nem a cerimonialista que comunica o nascimento,  e nem mesmo é dado qualquer título à criança recém-nascida.

O evangelista Lucas esmera-se por situar a época do Seu nascimento e o motivo do deslocamento do casal Maria e José,  de Nazaré a Belém, certamente para indicar que este rei nasce inserido na história da humanidade, em local e datas definidas. Para este primeiro recenseamento, era preciso que cada homem, que assumia a função de chefe de família dentro deste modelo cultural patriarcal, fosse até a sua cidade de origem para se registrar. A única referência distinta feita pelo evangelista é com relação ao local de nascimento – Belém – como local de nascimento do rei Davi. Belém significa “casa do pão”. Belém é o berço de Noemi. Quando em Belém faltou pão, Noemi e Elimeleque foram buscar sua sobrevivência em terra estrangeira. Anos mais tarde Noemi retornou a Belém, viúva, sem os dois filhos, agora falecidos, na companhia de Rute, uma das suas noras. Rute casou-se com Boaz, parente de Noemi. Rute foi a mãe de Obede, que foi o pai de Jessé, que foi o pai de Davi. O profeta Miquéias anunciou que de Belém, da terra do rei Davi, sairia o rei de Israel, o qual traria a paz. (Miquéias 5.2-5a). O evangelista anuncia que o bebê que nasceu é de linhagem real: José era descendente do rei Davi (Lc 2.4). Afora esta referência ao nome do rei Davi, não há nada a indicar realeza no texto. Belém não passava de uma cidadezinha que não reunia sequer mil pessoas e um cocho que guarda a comida de animais não é, nem de longe, um berço real.

Temos aí um censo e um contra-senso. O censo servirá para que se possa ter uma cobrança mais efetiva dos impostos e uma contagem mais exata dos homens, como possíveis combatentes de guerra. O interesse na realização do censo é o aumento do lucro, fruto da ganância, do abuso de poder e da ideia da superioridade de algumas pessoas ou raças sobre outras. O contra-senso é de Deus: Deus permite o nascimento do Seu filho, abrigado no ventre de Maria, numa estrebaria, sem qualquer conforto ou distinção, “porque não havia lugar para eles na pensão” (Lucas 2.7). Não há lógica humana que reconheça nesta criança o Filho de Deus, o Rei anunciado pelos profetas; a divindade e a realeza de Jesus somente podem ser acolhidas pela fé!

Até hoje o Natal de Jesus permanece sendo um contra-senso, porque está na contramão dos interesses que regem a nossa sociedade. Ainda assim, nós não precisamos de um novo Salvador. Deus já nos enviou Jesus. O que precisamos é acolhê-lo com fé. Lembro de uma canção: “Nós somos o seu presépio e a nossa casa é Belém!” (HPD 312). A novidade do Natal de Jesus em nossa vida será sentida à medida que o acolhermos em nossos corações e que assumirmos o seu projeto de justiça e de paz em nossa família, em nossa comunidade, na sociedade na qual estamos inseridas e inseridos. Aí, sim, vamos vivenciar o nascimento de novas relações que partem da compreensão de que Deus reconciliou-nos consigo mesmo em Jesus! Ele está entre nós; é Deus conosco!

Talvez, começando por nós mesmos, por nós mesmas, possamos ajudar a reescrever o final do texto do evangelista Lucas, testemunhando assim: “E o menino foi acolhido em cada coração, em cada lar. Sua presença se fazia sentir no perdão que era concedido, no ouvir atento, no abraço que consolava, no pão que era partilhado. O amor de Deus, em Jesus, se refletia em relações de tolerância, de solidariedade e de cuidado mútuo.” Abençoado Natal!


 



Pastora Scheila dos Santos Dreher
Porto Alegre/RS
E-Mail: drehersantos@uol.com.br

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