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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

ÚLTIMO DOMINGO APÓS EPIFANIA, 07.02.2016

Predigt zu Lucas 9:28-36, verfasst von Hans Alfred Trein

 

Querida comunidade,

A vida é feita de momentos especiais. Quando acontecem desejamos que o tempo pare. Gostaríamos que esses momentos de grande alegria e enlevo se estendessem. O dia do casamento, a alegria pelo nascimento de uma filha ou um neto, um encontro de amigos num fim de semana, um encontro de familiares... O programa termina, cada um volta pra casa. O cotidiano nos absorve. Momentos de deslumbramento não podem ser prolongados, mas a experiência tem seus efeitos para dentro do cotidiano.

Estamos no último domingo de Epifania que significa para nós cristãos: Deus se revelou em Jesus Cristo, olhemos para ele e vejamos sua resplandescência. A transfiguração relatada por Lucas sugere que vejamos Jesus na sequência de outras grandes figuras da história de fé, Moisés e Elias.

A presença de Deus resplandece nas pessoas.Existem algumas pessoas que conhecemos e que irradiam uma iluminação especial, diferente. Essas pessoas são portadoras da Helioda, ou seja, de uma resplandescência solar (Hélios-Sol). Elas irradiam um brilho como do sol. Uma dessas pessoas, contemporâneas, por exemplo, foi o Frei Roger Schütz da Comunidade de Taizé (Fotos na Internet).

A presença de Deus resplandece nas pessoas. Resplandeceu em Moisés, resplandeceu em Jesus. Moisés cobria-se com um véu, Jesus pediu para não contarem para ninguém. Nós, como pessoas comuns, não aguentaríamos a presença de Deus. Por isso, é que se diz que ninguém nunca viu a Deus, quem o visse certamente morreria. O Apóstolo Paulo escreve aos Coríntios no capítulo 13.12: “Porque agora vemos como num espelho, obscuramente; então, (ou seja, no fim dos tempos) veremos face a face; agora conheço em parte, então, conhecerei como também sou conhecido”.

Importante é o lugar onde tudo acontece, o alto do monte, e o propósito de estar lá para orar. Transfiguração acontece num lugar retirado, e num tempo de silêncio. Os lugares privilegiados são o deserto e os montes. O tempo privilegiado é aquele que não está abarrotado de atividades e negócios que prendem nossa atenção. O tempo privilegiado é o tempo de descanso, o shabbat, a coroa da criação, o tempo do ócio e não da sua negação (neg-ócio).

Lucas é o único evangelista que dá a razão para a subida ao monte: para orar. Durante a oração ocorreu a transfiguração de Jesus. A oração é um espaço propício de manifestação de Deus. Na verdadeira oração vem muito mais de lá para cá, do que vai daqui pra lá. Entrar em estado de oração é aquietar-se e preparar-se para receber e não para palavrear.

Moisés e Elias representam a Lei e os Profetas, aos quais Jesus tantas vezes se referiu durante a sua vida e pregação.

Sobre o que conversavam Moisés, Elias e Jesus? Sobre o seu “êxodo”, a sua partida que estava para cumprir-se em Jerusalém. Um terceiro detalhe em Lucas é o sono dos discípulos que faz lembrar o sono deles no monte das Oliveiras, quando Jesus estava por ser preso. Lucas associa intencionalmente as duas cenas, mais do que os outros evangelistas, uma vez que tem todo o interesse em mostrar o sentido positivo da cruz, para a qual Jesus se encaminha, cruz que é consequência de sua corajosa ação profética, libertadora e conflitiva no meio do povo. Um quarto detalhe é que a voz coloca Jesus como ‘meu filho’ e acrescenta ‘o meu eleito’, fazendo lembrar os Cânticos do Servo Sofredor no livro de Isaías. Lembra também a voz que se ouviu por ocasião do batismo de Jesus: ‘Tu és meu filho amado, em Ti me comprazo’. ‘Este é o meu filho, o meu eleito, a ele ouvi’.

Os discípulos de Jesus se entusiasmaram com sua pessoa, suas ações milagrosas e sua pregação vigorosa, com sua proposta de libertação. Percebiam que ‘um grande profeta surgiu entre nós’ e que ‘Deus visitou o seu povo‘ Lc 7.16. Esperavam pelo Messias vitorioso e tinham problemas com a ideia de que o Messias, o Cristo de Deus, era o Jesus a caminho da cruz. Os discípulos de Emaús o expressaram de modo bem claro: Nós esperávamos que fosse ele que haveria de redimir Israel, mas já faz três dias que ele foi crucificado e morto. A isso Jesus responde, repassando com eles as escrituras, desde Moisés, discorrendo por todos os profetas, para demonstrar: “Porventura não convinha que o Cristo padecesse para entrar em sua glória?!” A resplandescência de Jesus e o conteúdo da conversa com Moisés e Elias ajuntam glória e antevisão de sofrimento de modo bem compacto. A glória da ressurreição não altera em nada o caminho do sofrimento, nem lhe tira o impacto. O que está para sofrer a morte na cruz é o Filho de Deus. A transfiguração é um aperitivo da ressurreição, mas não elimina o caminho da cruz.

A transfiguração permitiu aos discípulos um olhar para trás e a constatação de que Jesus estava em profunda sintonia com o coração da Bíblia que conheciam. Uma comunidade sul-africana enxergou nesse encontro, o encontro de Jesus com os seus ancestrais e sentiram-se confirmados em sua prática cultural e religiosa de considerar os ancestrais em suas decisões e deliberações atuais. A comunhão com os ancestrais e a continuidade entre as gerações lhes dá segurança em seu caminho de vida e espiritualidade.

Muito diferente é a interpretação substitutiva feita pela teologia europeia, (talvez amparada por trechos como o da leitura de 2 Coríntios 3.12ss), que via nesse episódio da transfiguração uma afirmação de Jesus com uma negação implícita das figuras do Antigo Testamento. Afirmar Jesus em sintonia com Moisés e Elias era uma forma de enfrentar as autoridades judaicas que condenavam Jesus e seus seguidores. Jesus, o Messias, não elimina, nem aniquila a história, mas a transforma. A lei e os profetas não estão fora da proposta.

A transfiguração permitiu aos discípulos um olhar para frente. Jesus resplandecente, com características divinas como aquelas das aparições depois da ressurreição. Seu rosto se transfigurou em brilho, suas vestes resplandeceram de brancura. A nuvem lembra a ascensão e é um símbolo tradicional para expressar a presença divina. Os discípulos ficaram animados, tanto que Pedro propôs esticar esse momento de enlevo e densidade espiritual. Uma tentação sempre presente das pessoas e das comunidades é querer a ‘terra prometida’ sem passar pelo êxodo do deserto ou da cruz. Essa pode ter sido também a tentação de Pedro que quis construir tendas para perpetuar a experiência, sem precisar voltar ao caminho árduo.

O aperitivo, no início de uma refeição, é o indicativo de que algo muito maior e melhor está para chegar. Não é recomendável saciar-se com aperitivos. A transfiguração de Jesus é uma experiência de sentido. É uma espécie de aperitivo da ressurreição que anima para prosseguir na caminhada. É uma pontinha de eternidade e estado de graça. É um momento fugidio. Montar barracas seria uma forma de prender e manter aquela visão deslumbrante, perenizar esse momento raro de enlevo, impedir a chegada do maior e melhor.

A tentação de eternizar um momento muito intenso de emoção vem de Pedro. Ele é o emotivo e o mais disposto para a ação imediata, é o que pula na água para chegar até Jesus, mas quase afunda quando desconfia de sua fé, é aquele que promete ir com Jesus até a morte, mas num momento seguinte o nega três vezes, é o que desembainha a espada e corta a orelha do soldado, é o que age por impulso... Pessoas impulsionadas pela emoção são capazes dos atos mais heroicos, das promessas mais impossíveis, da convicção inabalável de que tudo é simples e vai ser resolvido com aquele gesto. Não compreendem o milagre. São incapazes de viver aquele momento raro. São parecidos com aqueles fotógrafos e filmadores, para os quais as fotos e o vídeo de um casamento são mais importantes do que o próprio casamento. São capazes de comprometer uma experiência deslumbrante no seu afã de registrar o melhor ângulo. Entretanto, o milagre não pode ser capturado, senão deixa de ser milagre. Não pode ser institucionalizado. Não podemos querer prendê-lo em estruturas sociais, políticas e econômicas, liberar uma verba para que se torne contínuo. É sola gratia!

A liturgia, as celebrações, os cultos têm a função de proporcionar esses momentos de deslumbramento. Facultam um vislumbre sobre a densidade de toda a história de Deus com os seus eleitos em todas as culturas. Também estes não podem ser prolongados, mas terão seu efeito sobre as outras atividades importantes da comunidade, a diaconia e a koinonia, ou seja, o cuidado com as outras pessoas mais fragilizadas e a comunhão com quem quer participar.

Para nós, cristãos e cristãs em toda a terra, nesse domingo do tempo de Epifania, resta a certeza: o projeto de Jesus continua, apesar da quaresma que se inicia em seguida e que lembra o caminho de Jesus para a cruz, apesar dos percalços do cotidiano, apesar dos absurdos inomináveis da política, apesar da insistência de nossa mídia em apenas noticiar coisa ruim e deleitar-se com tragédias, apesar das nossas incoerências e dos desentendimentos em família e com vizinhos, apesar das desesperanças quanto à sobrevivência do nosso planeta. O projeto de Jesus continua, ele reúne sofrimento e glória, e caminha para uma grande festa no Reino de Deus. Podemos organizar a nossa vida, alegrando-nos por antecipação!

Em Jesus, em sua vida, morte e ressurreição, desemboca e se condensa, está transfigurada e resplandece toda a história de fé do povo eleito de Israel, dos cristãos e cristãs de todas as culturas: a fé no Reino de Deus, um Reino de Justiça e de Paz.

Este é o meu Filho, o meu Eleito; a Ele ouvi”.

Amém



P. Ms. Hans Alfred Trein
São Leopoldo – RS (Brasil)
E-Mail: hansatrein@gmail.com

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