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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

4º DOMINGO NA QUARESMA, 06.03.2016

Predigt zu Lucas 15:1-3, 11b-32, verfasst von Harald Malschitzky

 

Irmãs e irmãos em Cristo, querida comunidade.

Nós, seres humanos, somos gregários, isso quer dizer, nós procuramos viver em companhia de outras pessoas. Lá no comecinho da Bíblia nós lemos que não seria bom o ser humano viver só. Verdade que ali se fala da relação homem/mulher, mas a idéia  vale para o relacionamento mais amplo. Aliás, no original hebraico o nome ADÃO é um plural! Talvez isso não seja só acaso. Nós nos relacionamos no matrimônio, na família, nas amizades, em grupos sociais, com a vizinhança, com muitas e muitas pessoas na nossa comunidade de fé.

Esses relacionamentos todos, ainda que marcados pelo nosso pecado e pelo nosso egocentrismo, revelam gestos de amor e dedicação impressionantes. Pessoas que dedicam décadas de sua vida à comunidade e a seus programas, pessoas que se dedicam a obras sociais, pessoas – principalmente mulheres! – que se dedicam a pais doentes, a filhos com qualquer tipo de problema e que, nisso, investem a sua vida.  São milhares de exemplos de amor e dedicação de tirar o fôlego. Mas gestos de amor, dedicação e solidariedade acontecem também em outros lugares de nossa convivência, inclusive no trabalho.

Sem diminuir nada   disso, precisamos reconhecer que tudo é limitado, seja pela família, seja por minha tradição, seja – quem sabe – por minha religião.  Em outras palavras: Nosso amor tem limites que nos impedem de olhar por cima do nosso próprio muro, de ver e tentar compreender os diferentes. Basta olhar a realidade do nosso mundo atual para ver a dimensão  dos limites e o sofrimento que isso causa.

Talvez tudo isso nos ajude a entender por que Jesus, com sua mensagem do amor de Deus, recebia tantas críticas e, no fim perseguição e morte.  Ouçamos o texto bíblico sugerido para hoje, uma passagem muito  conhecida.

                                                   LEITURA DO TEXTO DE LUCAS

História de uma família com bens. Pelas entrelinhas parece que  o relacionamento entre pais e filhos era normal. Lembremos que a estrutura familiar era patriarcal: decisões e administração da família e do patrimônio estavam nas mãos do pai.

O pedido do filho mais novo não deixa de ser estranho e avesso aos costumes da época. Caberia ao pai distribuir os bens. Esse filho, porém, tem a cara de pau de pedir a sua parte da herança. Humanamente falando esse jovem até que é inteligente. Ele sabia que,  quando seu pai morresse, o patrimônio pertenceria ao irmão mais velho, a quem caberia repassar uma parte para ele. E mais: como tantos jovens, ele talvez sonhasse em conhecer o mundo, imaginando que lá fora seria muito melhor do que com a própria família.

Aí acontece uma segunda coisa estranha:  O pai concorda e lhe dá parte da herança. A  narrativa é curta. Nada de advertência, nada de conselhos, nada de repreensão...

O filho cai no mundo e, em pouco tempo e muita farra, torra tudo. Sua vida toma um rumo absolutamente escandaloso: Ele vai cuidar de porcos, animal impuro e abominável para seu povo e sua tradição,  e deseja matar a fome com as vagens de alfarroba que os porcos comiam, mas nem isso lhe era permitido. E agora? Ele se lembra com saudade de casa.

Pois ele, desiludido e arrependido,  arrisca voltar para casa, provavelmente prevenido para levar uma tremenda carraspana do pai e disposto a ser apenas um de seus empregados.  Mas acontece o contrário: O pai o abraça, o recebe como filho e manda preparar uma grande festa. Humanamente falando,  e para os costumes da época, um escândalo!

O irmão mais velho, que vinha do trabalho no campo,  quando percebeu a música e o burburinho e foi informado da razão disso tudo manifestou o seu escândalo e a sua revolta, tanto que nem entrar queria. O pai foi procurá-lo e teve que ouvir: Há tantos anos que te sirvo sem jamais transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito sequer para alegrar-me com meus amigos; vindo, porém esse teu filho, que desperdiçou os teus bens com meretrizes, tu mandaste matar um novilho cevado. Humanamente esse filho tinha razão; parece que aqui estava acontecendo uma grande injustiça em relação a um filho fiel em todos os detalhes. O pai, porém, lhe diz duas coisas. Em primeiro lugar, ele, ficando em casa, convivia com a família e com ela tinha tudo em comum; em segundo lugar – esta a grande razão da alegria -  quem estava perdido foi achado.

Voltemos ao contexto da história que Jesus conta. Os fariseus se escandalizavam com a liberdade de Jesus se relacionar com todas as pessoas e exerciam forte crítica. Na concepção deles, somente pessoas puras através de práticas e comportamento poderiam aproximar-se de Deus.  Jesus inverte essa lógica, alinhando passo a passo cenas que são escandalosas tanto humanamente como para as práticas civis e religiosas de seu tempo: O filho mais novo pede sua parte da herança, vai para outras terras e outras gentes, torra tudo em farras e programas duvidosos, fica na miséria cuidando  de porcos (!), volta arrependido para casa  e o PAI VAI AO SEU ENCONTRO! Em vez de castigar e fustigar o jovem, o pai se alegra e convida para alegria e festa, porque quem estava perdido foi achado.
 
O amor de Deus não apenas amplia o amor humano, mas o inverte e o torna mais radical.  O recado a seus interlocutores fariseus é simples: O amor de Deus por sua criatura não se deixa barrar pelos limites religiosos, sociais, de língua, de costumes e tradições que nós costumamos impor.   Olhemos a cena do encontro do pai com o filho: O pai não pergunta onde ele andou e nem como ele torrou os bens que havia levado. Ele aceita as palavras do filho: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. Este pôde dizer isso porque se lembrava de todo o amor que o pai lhe dedicara antes.  Sem dúvida, ele perdera todos os seus direitos de filho, ele se deserdara, ele era indigno.  Somente o amor e o perdão do próprio pai poderiam resgatá-lo. Nenhuma desculpa, nenhum mérito oculto, quem sabe, poderia refazer a relação rompida.

Jesus, contando essa parábola, história que pode ter acontecido ou não,  quer sublinhar que o amor de Deus vai para bem mais além daquilo que nós gostaríamos de estabelecer. Por isso, nem mesmo a observância total de preceitos e leis e a prática de todas as celebrações servem para conquistar o amor de Deus. O amor de Deus começa antes de nós e continuará para adiante de nós. Nós todos, porém, somos convidados a nos colocar sob esse amor, onde há espaço para descarregar tudo o que há e o que fizemos  de errado em nossas vidas. Deus nos deixará começar de novo em uma nova relação com ele e com as pessoas ao redor de nós, mas também na sociedade em que vivemos, cada dia mais marcada por medo e ódio.  O amor de Deus nos impede de nos fecharmos em nós mesmos, preocupados somente com a própria salvação e nos impele a ver e nos relacionarmos com os outros, os diferentes; ele nos convida a vivermos em alteridade, sabendo que ninguém é melhor ou pior diante de Deus.

Não em último lugar, voltemos àquelas pessoas lembradas no início, que dedicam boa parte ou toda a sua vida para cuidar de familiares doentes crônicos, dependentes químicos, portadores de deficiência.  Pessoalmente conheci e conheço muitas pessoas em todas essas situações. Em meus contatos contínuos com elas experimentei, com admiração tremenda, seu desprendimento e seu carinho, mas em voz baixa e em meio a lágrimas vi também que elas estavam no limite. E julgo ter experimentado mais, a saber, que o  imensurável amor de Deus do qual falávamos,  sempre as cobria como um manto de carinho, de força e de cuidado. As celebrações domésticas da Santa Ceia sempre foram o ponto alto de manifestação do amor de Deus em Cristo.

Será que os interlocutores de Jesus o entenderam?  Quantas vezes será que nós esquecemos que a medida do amor de Deus é o próprio Deus e não nós,   quando nos julgarmos melhores ou superiores aos outros? Ouçamos o Cristo com renovada atenção. Amém



P.em. Harald Malschitzky
São Leopoldo – RS – Brasil
E-Mail: harald.malschitzky@gmail.com

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