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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

5º Domingo después de Pentecostés, 19.06.2016

Predigt zu Lucas 8:26-39, verfasst von Scheila dos Santos Dreher

 


Que a graça do Deus Criador, Salvador e Vivificador sejam com cada uma e com cada um de nós.

Volta e meia temos um grupo considerável de pessoas conhecidas que sentem sintomas como diarréia, mal-estar, fraqueza ou outros mais específicos, como o rosto avermelhado e os lábios inchados. De várias destas pessoas ouvimos que o diagnóstico que receberam foi virose. Se de fato foi ou não foi uma virose, não tenho condições para avaliar. Às vezes, fica a impressão de que o que não se consegue nominar com muita precisão recebe o nome de virose.

Em um estudo bíblico, há poucos dias, estudávamos a vida de Maria Madalena, forte liderança entre as pessoas que seguiam a Jesus, de quem se diz que estava possuída por sete demônios. Refletimos, na ocasião, que o grau de conhecimento da medicina no tempo de Jesus era, sem dúvida, muito menor do que no tempo em que vivemos. Tudo o que era desconhecido, em termos de enfermidade, era tido como possessão por um espírito mau ou por um demônio. Então uma senhora comentou: “Como a virose dos nossos dias, Pastora?” “É, como a virose!” – respondi. Mas se eram sete demônios, como no caso de Maria Madalena, certamente tratava-se de doença muito grave. Ou seja, estar possuído ou possuída por maus espíritos ou por demônios parecia a melhor explicação para as doenças mentais e outras para as quais não se tinha condições de diagnosticar.

Em muitas situações, Jesus curou as pessoas dos assim chamados espíritos ou demônios. E aí acontecia algo muito especial na vida destas pessoas e/ou através delas. O texto bíblico previsto para este final de semana é um testemunho de uma destas curas de Jesus.

Convite para a leitura de Lucas 8.26-39

Seria muito interessante se pudéssemos conversar sobre as imagens que cada uma e que cada um de nós elaborou, enquanto ouvia o relato, visto que a narrativa é muito marcante. Pela descrição, imagino um homem seminu, barba e cabelos compridos, pela falta de trato, muito forte, perambulando por entre túmulos em um cemitério, sem destino, e por vezes, refugiando-se em lugares mais isolados, desertos. Às vezes, quando era agarrado por um espírito – esta é a expressão do texto –, provavelmente agitava-se de tal modo que as pessoas à sua volta chegavam a amarrar seus pés e suas mãos com correntes de ferro, para imobilizá-lo, e ele as quebrava. Quanto sofrimento! Quanta violência! Talvez fosse preciso contê-lo, para que não se machucasse ou não machucasse ninguém; não sabemos.

Qual era a sua “virose”, o seu espírito mau, afinal? É possível que ele sofresse de uma doença mental associada à convulsão e à depressão. Em todo o caso, não era simples o seu estado de saúde. Na resposta que ele dá a Jesus, quando este lhe pergunta por seu nome, está expresso o que certamente se falava dele. “Multidão é meu nome” – responde o homem – e logo vem a explicação: “Porque muitos espíritos maus tinham entrado nele.” Sem grande esforço posso ver o homem se esquivando cá e acolá, pelas ruas, por entre as lápides do cemitério, e alguém a provocá-lo chamando-o de Multidão. Vejam que a identidade deste homem estava tão desvirtuada e sua vida tão ligada à ideia da possessão por espíritos maus que quando ele fala, é como se os espíritos falassem por ele.

Além do sofrimento resultante da doença, com certeza, o descaso e a exclusão social agravavam em muito a sua saúde. Aí está, sem dúvida, o ponto mais sensível deste testemunho. Quem deseja ter alguém assim por perto? Por isso, não tinha família; casa também não. De modo geral, e independente da época, as pessoas criam divisões e fronteiras entre si que as diferenciam por grau de valor, umas das outras. Rótulos são comuns, infelizmente, não somente em produtos, e a classificação e valoração a partir destes rótulos gera exclusões e violência, em muitas situações.

Há uma semana ouvimos, perplexas e perplexos, a notícia do atentado a uma boate gay, em Orlando, e a morte imediata de 50 pessoas, além das feridas. O motivo, pelo que se apurou até agora, foi a intransigência e o ódio a quem é diferente. Além da nossa dificuldade, de um modo geral, de aceitarmos verdadeiramente quem é diferente de nós - a pessoa branca, a negra, a índia, a asiática ou a européia, o homem e a mulher, a rica e a pobre, a homo ou a heterossexual, a filha ou o filho como são, o companheiro e a companheira como são – é preciso machucá-la ou, pior, matá-la?

O homem que sofria de uma enfermidade não diagnosticada foi curado por Jesus e muitos porcos que estavam ali saíram em disparada em direção ao lago e se afogaram, neste momento. Porcos eram animais considerados impuros e era proibido a uma pessoa judia ingerir sua carne. Os porcos serviam de alimento para os romanos, especialmente para as tropas romanas, nesta região de fronteira do Império, próxima ao Lago da Galileia. Os homens que cuidavam dos porcos fugiram dali e espalharam a notícia dos últimos acontecimentos. Por isso muita gente veio ver a novidade de perto. E encontraram o homem de quem antes se dizia possuído por maus espíritos sentado aos pés de Jesus, vestido, e em seu perfeito juízo. Então mandaram Jesus embora, certamente preocupados que ele lhes causasse mais algum dano material. Mesmo agora, seus corações se voltaram aos porcos que se foram, não ao homem.

O desfecho da narrativa continua sendo surpreendente: Jesus não atendeu o pedido do homem que foi curado para acompanhá-lo, mas o enviou como sinal vivo e visível do poder e do amor de Deus para junto da cidade que rejeitou a ambos. “Volte e conte o que Deus fez por você!” – disse Jesus. Assim Jesus superou os rótulos e os muros que foram criados e que segregavam e excluíam. O homem, por sua vez, recebeu uma incumbência missionária.

Pensando na nossa vida, certamente vamos nos dar conta de que a doença revela a nossa fragilidade, enquanto seres humanos. Quem somos nós quando sobrevém uma doença da qual não se tem logo o diagnóstico ou que exigirá um tratamento diferenciado? Ao mesmo tempo, a nossa vulnerabilidade revela a nossa dependência de Deus. Aliás, muitas vezes, justamente a doença propicia uma condição pessoal para que a fé se fortaleça. Cientes da nossa fragilidade, buscamos ardentemente a Deus. O homem foi de encontro a Jesus, assim que ele desceu do barco. Na cura da doença que significou a inclusão social, este homem experimentou a boa nova do Reino de Deus.

Ninguém de nós está livre da doença e, muito menos, da finitude. Nisto, somente, já experimentamos muito sofrimento e já há motivos para a solidariedade e para a compaixão. Por que, então, como humanidade, criarmos ainda mais razões para o sofrimento por intolerância e desrespeito para com a outra pessoa? O apóstolo João escreve: “No amor não existe medo; antes, o amor que é totalmente verdadeiro afasta o medo” (1 João 4.18), o medo de quem é diferente, o medo de viver a partir do Evangelho de Jesus. Jesus mandou o homem de volta, como missionário, para entre as pessoas que o desprezavam e o excluíam. Deus nos ajude em nossas limitações e nos envie como suas missionárias e seus missionários para anunciarmos seu amor. Amém.

 



Pª Scheila dos Santos Dreher
Porto Alegre – RS (Brasil)
E-Mail: drehersantos@uol.com.br

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