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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

DOMINGO CRISTO REI, 20.11.2016

Predigt zu Lucas 23:33-43, verfasst von João Artur Müller da Silva

Estimadas irmãs e irmãos da comunidade de Jesus Cristo, nosso Senhor!

 

Soa um tanto estranho ouvir hoje o relato do evangelista Lucas sobre a crucificação de Jesus. Talvez algumas pessoas poderão pensar que o pastor enganou-se ao selecionar o texto bíblico para a prédica deste domingo. Os mais jovens, presentes a este culto, podem estar pensando: “O pastor está fora da casinha! Estamos em novembro e a Semana Santa já passou!” Nem uma nem outra situação que se possa imaginar sobre eventual confusão na escolha do texto bíblico ou no estado mental do pastor se sustentam.

A estranheza pela escolha de Lucas 23.33-43 tem a ver com o domingo de hoje. No calendário litúrgico ele recebe o nome de Domingo Cristo Rei. Até antes de 1988, este domingo era conhecido como o Domingo da Eternidade. Mas com a adoção do Lecionário Ecumênico, ele passou a ser denominado Domingo Cristo Rei. Na verdade, ele faz parte da tradição litúrgica da Igreja Católica que o instituiu em 1925 para consagrar o encerramento do ano da Igreja com uma forte afirmação de que Cristo é o nosso Rei.

No entanto, não faz parte da nossa devoção chamar Cristo de Rei. Aliás, se olharmos com atenção a trajetória de Jesus na terra, ele nunca se apresentou como rei. Mas a ele sempre foi atribuído este cargo, esta honra, este título, esta grandeza! Desde seu nascimento lhe foi atribuída esta designação, mas nunca assumida por ele próprio. Lembremos aqui a clássica pergunta de Pilatos a Jesus: És tu o rei dos judeus? Ao que respondeu Jesus: Tu o dizes! (Lucas 23.3).

Pode parecer aos nossos olhos que este Domingo Cristo Rei tenha conotações triunfalistas. A este perigo a comunidade cristã está exposta se ela considerar os muitos textos que dão fundamento a este título atribuído a Jesus. No livro de Apocalipse, por exemplo, encontram-se duas confissões que podem fundamentar este triunfalismo. São eles: Eles lutarão contra o Cordeiro, e ele os vencerá porque é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis. E com ele vencerão os seus seguidores, aqueles que são chamados e fiéis (Ap 17.14). Na capa e na perna dele estava escrito este nome: “Rei dos reis e Senhor dos senhores” (Ap 19.16). O que motivou os primeiros cristãos a designar Jesus como rei? O que se pretendia ao declarar Jesus como Rei dos reis?

Será que reis e rainhas de hoje, da nossa atualidade, servem de modelo para sustentar esta representação gloriosa e triunfalista de Jesus? Nós, próprios, temos experiência de viver sob o poder de um rei, de uma rainha? Nossa breve experiência de monarquia na história política do Brasil não nos enche de vaidade, ou de saudade, ou de retomar esta forma de governar nosso povo. Reis e rainhas desta terra não servem de modelo se insistimos em louvar e adorar Jesus como rei.

Então, como compreender a indicação de Lucas 23.33-43 para ser um texto de reflexão neste Domingo Cristo Rei? Como se aproximar deste relato da crucificação de Jesus num domingo que desejamos louvar e honrar Cristo como nosso Rei?

A escolha do relato da crucificação em Lucas desconstrói qualquer tentativa de considerar de forma triunfalista Jesus como rei. Lucas vira de cabeça pra baixo qualquer esforço de encontrar no Cristo Crucificado aquele rei esperado pelo povo do seu tempo. A cena da crucificação arrasa qualquer pretensão do povo que esperava em Cristo uma ação que viesse para transformar suas vidas exploradas pelo rei, pelo monarca da época.

A realeza de Jesus, o reinado de Jesus, não se compara com a realeza e o reinado dos reis e rainhas que já viveram e dominaram povos neste mundo. Por que não? Pelos relatos dos evangelistas, Jesus é um rei ao inverso. Ou seja, seu poder se mostra no serviço que escandaliza, nas curas e milagres que geram novas vidas, na indicação do duplo mandamento do amor.

Mas, vamos nos deter um pouco mais no relato que Lucas nos faz sobre a crucificação de Jesus: ele é pendurado, pregado na cruz ao lado de dois bandidos. Do alto da cruz, Jesus manifesta sua misericórdia e pede para que o Pai perdoe seus malfeitores. Além dos dores por estar pregado na cruz, ainda suporta gozação, xingamento, gracejos, insultos e ofensas. Como se tudo isso não bastasse, ainda colocam acima da sua cabeça uma plaquinha com a inscrição: ESTE É O REI DOS JUDEUS. Era costume na época de Jesus pendurar no pescoço das pessoas condenadas à morte na cruz o motivo da sua condenação. No caso de Jesus, os romanos colocaram uma plaquinha acima da sua cabeça para que ficasse visível aos olhos do povo. O teólogo Flávio Schmidt afirma: A inscrição na cruz tem o propósito de dizer que oficialmente Jesus foi executado pelo motivo de alta traição a Roma, sendo, portanto, inimigo político do império.” Um dos bandidos também o acusa e o afronta com a pergunta: Não és tu o Cristo? E provoca Jesus com um pedido: Salva-te a ti mesmo e a nós também. Já o outro bandido, mais sensato e temente a Deus, repreende seu colega de infortúnio. E em sua repreensão está contida a confissão de que eles realmente cometeram um delito, um crime, que resultou em sua condenação à morte na cruz. E reconhece que Jesus nenhum mal fez para estar ali no meio deles. E por fim, dirige-se a Jesus em humildade e fé, pedindo: — Jesus, lembre de mim quando o senhor vier como Rei! (Nova Tradução na Linguagem de Hoje). Já na versão Almeida Revista e Atualizada, o pedido do bandido é assim expressa: — Jesus, lembra-te de mim quando vieres no teu reino. Vejam que um bandido condenado à morte percebe em Jesus sua realeza, e manifesta desejo de participar do reino de Jesus! E o relato de Lucas termina com a promessa de Jesus: — Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso.

A história da paixão e morte de Jesus tem o firme propósito de nos confrontar com a realeza do Filho de Deus, ao inverso do que pensamos sobre a forma e a maneira de se conduzir um povo como rei. Para nós, e certamente para o povo que seguia Jesus naquele tempo, ele devia ter demonstrado seu poder e descido da cruz, dado uma surra nos guardas romanos, fazendo-os disparar numa corrida louca de volta ao palácio de Pilatos. E ter assumido seu posto político como rei dos judeus! Mas não foi isso que eles presenciaram naquele dia da crucificação de Jesus.

E mais, Jesus devia ter solto os dois bandidos e os devolvido à sociedade do seu tempo. E de uma vez por todas, demonstrar que ele veio pra acabar com a exploração, dominação, corrupção e instalar sua realeza aqui na terra. Mas, para a frustração geral do povo daquela época e talvez para muitos cristãos hoje, Deus não se manifesta nesta lógica humana, nesta vontade humana de retribuir violência com violência, de exercer poder pelo poder. Como bem afirma Pedro Kalmbach, teólogo e pastor, sobre esta questão: “O poder desse rei rompe qualquer lógica humana. Ele não luta para ter súditos, tampouco um exército, nem terras, nem bens”.

Por isso, hoje os estudiosos do Novo Testamento preferem falar em reinado de Deus e não tanto em reino de Deus. Pois na compreensão de reinado os cristãos evitam de querer instalar aqui na terra uma forma teocrática de governar. Devemos reconhecer que não existe um Estado cristão. O reinado de Deus não se limita às formas e estruturas sociais que escolhemos para nos governar como povos, como países. O reinado de Deus passa muito, mas muito além dos sistemas atuais que conhecemos como formas de conviver socialmente e politicamente. Ele perpassa a democracia, o socialismo, a república, o presidencialismo, a monarquia, o parlamentarismo. Todas essas expressões são formas de nossos governos humanos. Já o reinado de Deus perpassa todos essas formas e por isso Jesus não arregimenta exércitos, senadores, governantes, deputados, vereadores… Pois a sua marca é serviço, amor, misericórdia, paz, inclusão...

Já Hans A. Trein, teólogo e pastor, afirma com muita propriedade: A marca de Cristo não é o poder, mas o serviço que vai até a cruz. Esse é o segredo dialético no qual o poder de Deus reside na fraqueza. Esta marca nenhum rei, nenhuma rainha do mundo pode ostentar, pode assumir. Porque em nossa visão humana, rei e rainha estão aí para dominar, explorar, subjugar! E mais, eles exercem o poder com força, com violência, com determinação de se manter no trono! O povo é súdito!

Esta reflexão sobre a realeza de Cristo, também deveria ser estendida ao âmbito político de nosso país. A saber: entre os 35 partidos políticos no Brasil, encontram-se três deles que incluem em seu nome a palavra “cristão”. São eles: PTC – Partido Trabalhista Cristão; PSC – Partido Social Cristão; PSDC – Partido Social Democrata Cristão. Todos eles adotam a marca “cristão” para angariar votos e simpatizantes junto às igrejas evangélicas e junto ao povo cristão que acredita ingenuamente que a marca “cristão” legitima as atitudes, as práticas, os conceitos de homens e mulheres engajados politicamente nestes partidos. Doce ilusão! Na verdade, o que acontece é o abuso do conceito cristão. E mais, ao se incluir a marca “cristão” num partido político está se dizendo que este partido está na linha do que Cristo ensinou! Outra grande ilusão! Esquecem os partidários destes partidos que a marca maior de Cristo, o Rei, foi o serviço, a humildade, a fraqueza, o amor. E foi assim que ele exerceu seu poder e não através de negociatas, corrupção, falar angelical, troca de favores e por aí afora. Melhor seria que estes partidos acima mencionados retirassem a marca “cristão” de suas siglas e adotassem a honestidade, a inclusão, a justiça, o respeito, a probidade, a lisura em suas práticas parlamentares. E se assim fosse, então sim, prestariam um bom serviço à causa do reino de Deus neste mundo. No reino de Deus somos servos (= servir em amor, em bondade, em justiça, em paz…), e não súditos!

Jesus Cristo está acima de qualquer poderoso deste mundo. Esta confissão é bem-aceita e a devemos reconhecer neste domingo. Ele está acima de qualquer rei ou rainha deste mundo. Não há termo de comparação! No Salmo 45, que fala do ungido de Deus, que pode hoje ser uma referência a Jesus Cristo, lemos versículos que nos indicam que o Cristo Rei tem compromisso com a verdade, com a justiça e com equidade! E estas qualidades e estes compromissos não são identificáveis em reis e rainhas deste mundo, pois estes são pecadores, humanos, como nós. Só Cristo, o Rei, tem esta formosura, esta beleza que nos faz adorá-lo com cantos, com atitudes, com louvores, com confissões de fé, com ações diaconais, com práticas comunitárias voltadas ao bem comum de todas as pessoas.

Do relato da crucificação de Jesus fica a imagem de que diante da cruz nós não somos ninguém, somos fracos e diante dela aparece a nossa natureza corruptível. Assim como os bandidos não mereciam nada a não ser a morte, acabam recebendo, de graça, a vida eterna, perdão dos pecados. E assim também acontece conosco. A graça de Deus nos acolhe, nos salva, nos dá dignidade, nos faz seus filhos e filhas e nos envia como seus servos para atuar na sua grande comunidade aqui na terra, na comunidade local. Então, nós somos a comunidade do Cristo Rei! Do Cristo que nos agracia com sua ressurreição! Essa é a maravilhosa Boa Nova deste culto dedicado ao Cristo Rei! Não é bonito ser agraciado por um Rei que desce da cruz para alimentar nossa esperança, nosso amor e nossa alegria nestes dias? Seja o Cristo Rei nosso Senhor! Amém!



Pastor João Artur Müller da Silva
São Leopoldo – RS (Brasil)
E-Mail: jocadasilva@hotmail.com

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