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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

7. DOMINGO APÓS EPIFANIA, 22.02.2017

Predigt zu Mateus 5:38-48, verfasst von Hans Alfred Trein

Querida Comunidade,

O texto bíblico recomendado para a pregação de hoje será utilizado na maior parte das comunidades cristãs ecumênicas. Muitos participantes em cultos e missas se confrontarão com sua mensagem desafiadora. É uma daquelas passagens bíblicas que causam dor de barriga, deixam a gente meio nervoso, pois desnudam a distância que há entre o que somos e o que poderíamos ser como pessoas de fé cristã. A gente se acostumou a pensar que somos pessoas de bem. De algumas pessoas até ouço que, confissão de pecado, não precisa mais... Grande parte acha que é suficientemente cristã quando pode constatar: não matei, não roubei, não pulei a cerca... Ouçamos o que Jesus tem a nos dizer numa passagem do sermão da montanha:

Ler Mateus 5.38-48

Queridos membros do corpo de Cristo,

Nessa passagem, Jesus está contrapondo duas posturas, uma que fazia parte da lei e dos costumes até ali, e outra que Jesus considera uma atitude de maior qualidade, mais condizente com o Reino de Deus que ele veio inaugurar com sua vida, atuação, morte e ressurreição. Quero refletir com vocês sobre as duas afirmações principais dessa passagem:

  1. Ouvistes o que foi dito:olho por olho, dente por dente”. Aqui já cabe um esclarecimento fundamental. Essa frase se consolidou com um significado totalmente errado entre nós. Pois, entendemos que era lei entre os judeus, pagar o mal com o mal. Ou seja, se alguém furar o meu olho, seja por acidente ou por querer, eu tenho o direito de furar o olho dele também. Na verdade, o contrário é o significado correto. Vou ler para vocês a passagem do Primeiro Testamento a que Jesus se refere: Ex. 21.24-26: “olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferimento por ferimento, golpe por golpe. Se alguém ferir o olho do seu escravo ou o olho da sua escrava e o inutilizar, deixa-lo ir livre pelo seu olho. E, se com violência fizer cair um dente do seu escravo ou da sua escrava, deixa-lo ir livre pelo seu dente”. Vocês notam que a lei é a de compensar o dano causado ao outro. E, se essa lei regulava a compensação dos danos entre senhores e escravos, quanto mais entre as pessoas do mesmo povo e da mesma fé. Se numa briga ou num acidente eu quebrar a perna de uma pessoa, assim que ela não pode trabalhar, durante o gesso de 45 dias, então cabe-me indenizar essa pessoa, por aquilo que ela deixa de ganhar, nesse tempo. Esse é o significado de olho por olho, dente por dente. Hoje em dia, os seguros assumem em grande parte essa compensação.
    Atentemos agora para o que Jesus está dizendo. Discípulos e discípulas, não é só compensar o dano causado. É muito mais! “Não resistais ao perverso”, não resistais àquelas pessoas que vos querem fazer mal; se alguém te der um tapa na cara, oferece-lhe também o outro lado. Quem de nós é capaz de fazer isso? Quem de nós, na melhor das hipóteses, não avaliaria a correlação de forças, para então permanecer passivo, de cabeça baixa, ou partir para o revide? Alguns até diriam que oferecer a outra face seria uma atitude de arrogante provocação. Será que Jesus diria a mesma coisa hoje, quando vivemos numa insegurança pública que a qualquer hora pode nos colocar numa situação de assalto à mão armada? Jesus continua dizendo: se alguém quer te tirar a camisa, deixa-lhe também o casaco. Se alguém te obrigar a andar um quilômetro, vai com ele dois. Será que essa recomendação é parecida com aquela outra, dada por uma mãe ao seu filho: Filho, toma aqui 30 reais pro ladrão, porque, se não tiveres nada, ele é capaz de te fazer mal. Jesus arremata: “Dá a quem te pede e não voltes as costas ao que deseja que lhe emprestes”.
    Isso não dá uma certa dor de barriga na gente? Será que isso não está fora da realidade? Será que isso se refere somente às pessoas necessitadas, para as quais a gente tem de ser generoso com as coisas que temos. Pois o importante é amar as pessoas e utilizar as coisas. O nosso grande problema é que amamos as coisas e utilizamos as pessoas! Como é que a gente pode realizar o que Jesus está propondo aqui, sem se sentir usado e um completo idiota?

  2. Ouvistes o que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo”. Aqui eu fiquei muito intrigado. Será que está escrito mesmo ‘odiarás o teu inimigo’? Fui ver a passagem do Primeiro Testamento a que Jesus se refere: É Levítico 19.18, onde diz: “Não te vingarás, nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor”. Aqui não fala nada de odiar os inimigos. No máximo a gente pode entender que a gente deve amar as pessoas do seu próprio povo, o que indiretamente deixa as pessoas de outros povos de fora. Os judeus, naquela época, por exemplo, podiam ter escravos de outros povos, mas não do próprio povo judeu. Hoje, fazemos diferenças entre o amor que dedicamos aos familiares e aquele que devotamos às pessoas da mesma cultura e religião, e aqueles que são de outras culturas que não conhecemos e que consideramos estranhas ou primitivas. Jesus certamente constatou que entre os judeus de seu tempo não era diferente. A gente tende a amar os iguais, os semelhantes, e desconfiar dos diferentes.
    E agora vem um dos desafios mais difíceis de realizar, que - ao que se sabe de outras religiões - existe apenas na fé cristã. Jesus diz: “Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste, porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos. Porque, se amardes os que vos amam, que recompensa tendes? Não fazer os coletores de impostos também o mesmo? E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis de mais: Não fazem os gentios também o mesmo”? Essa palavra nos atinge frontalmente, primeiro, porque a gente tem alguma dificuldade de admitir que temos inimigos. É feio ter inimigos. A gente gosta de pensar que estamos acima desses defeitos. Eu confesso que tenho de parar para pensar, a quem poderia considerar inimigo. E, pensando e sendo sincero, não tenho como negar que tenho inimigos. Inimigos são aquelas pessoas com quem eu não concordo em uma porção de coisas, são aquelas pessoas que eu sei que não vão com a minha cara, que me ofendem, podem ser aqueles que estão num outro partido ou torcem por um outro time, inimigos são os coxinhas, os petralhas, inimigos estão se tornando especialmente as pessoas que soltam toda a sua raiva e maldade pelas redes sociais... e tantos outros. Portanto, a questão não é ter inimigos ou não, a questão é amá-los. E como se faz isso? “Amar os inimigos e orar pelos que nos perseguem”? Se fizermos isso, não serão mais nossos inimigos. Será que é isso que Jesus está propondo? Admitir que temos inimigos e trabalhar essa questão de tal forma que essas pessoas deixem de ser nossas inimigas. E Jesus arremata: “Sede vós perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celeste”. Agora, ficou impossível de uma vez! Como é que nós vamos ser perfeitos como Deus? Essa exigência de Jesus é exagerada. Ser como Deus, a propósito, não foi a tentação fundamental da serpente para o casal mitológico, Adão e Eva, o que fez com que fossem expulsos do paraíso?

Certamente Jesus não tinha ilusões sobre a perfeição que poderíamos alcançar. No entanto, uma tática importante para se melhorar, é colocar a meta mais longe, a medida mais alta, do que é realista. Colocar a meta no horizonte que é o lugar, onde céu e terra se encontram, tendo a clareza de que, se me aproximo um metro, o horizonte se distancia um metro, se caminho um quilômetro em sua direção, o horizonte se afasta um quilômetro... Mas, então para que serve o horizonte? Para colocar a gente a caminho.

Portanto, caminhemos em direção à perfeição, mesmo ainda tendo dúvidas. Tentemos superar nossas limitações e o nosso senso comum para tratar as coisas. Jesus aposta que nós não somos como todo mundo. Os cristãos são diferentes. Estão no mundo, mas não são do mundo. A nossa tarefa é mostrar que é possível construir uma convivência com as outras pessoas humanas e com o restante da criação, baseados em justiça e paz, pois essa é a forma mais adequada de responder à salvação gratuita de Deus. Esse na verdade é o nosso culto. Amém



P.Ms. Hans Alfred Trein
São Leopoldo – RS (Brasil)
E-Mail: hansatrein@gmail.com

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