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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

6º DOMINGO APÓS TRINDADE, 23.07.2017

Predigt zu Romanos 8:12-17(18-25), verfasst von Carlos Musskopf

Prezada comunidade,

normalmente se inicia uma prédica saudando as pessoas presentes dizendo “queridas irmãs, queridos irmãos”. Hoje temos mais uma vez confirmado o acerto desta saudação, com o texto do apóstolo Paulo que foi lido. Para ele era fundamental que as pessoas que aderiam à fé cristã se considerassem irmãos e irmãs. Já pensaram como seriam nossas Comunidades se de fato as pessoas se considerassem irmãos e irmãs? Se tivessem um relacionamento familiar verdadeiro?

            Eu sei! Nem todas as famílias são ilhas de amor e compreensão. Existem muitos conflitos entre irmãos, entre pais e filhos/as, existe ciúme e concorrência pelo amor dos pais. Ainda assim, a família é um ninho que cria laços indestrutíveis. Mesmo numa família onde existem muitas brigas internas, permanece um fio vermelho de amor que une as pessoas e que sempre representa um lugar para onde se pode correr e recorrer em qualquer momento da vida.

            O próprio apóstolo Paulo vinha de uma família complicada. A mãe e o pai eram de origem judaica, mas ele ganhou a cidadania romana por ter nascido em Tarso, uma cidade ocupada pelo Império Romano, hoje chamada de Tersous,  na região da Cilícia,  na Síria. Na época, Tarso era um centro comercial e intelectual. Tinha aproximadamente 500 mil habitantes e uma universidade. Era uma cidade com forte influência grega muito ligada à filosofia, principalmente estoica. Muitos de seus habitantes eram tecelões e faziam tendas a partir de um tecido grosseiro fabricado com pelo de cabra e tudo indica que Paulo aprendeu tal profissão ali. Seu pai era fariseu, isso significa que era membro de um grupo religioso em Israel muito rigoroso quanto à lei de Moisés e os costumes dos antepassados (At 23.6). Como vários fariseus daquela época tinham seu próprio negócio, é possível que o pai de Paulo fosse um homem assim também. Ele pôde financiar os estudos do filho em Jerusalém, quando este ainda era bem jovem. Como todo pai dedicado, queria posicionar bem o filho na sociedade judaica de sua época. 

            Mas, nem tudo saiu como planejado pelo pai biológico. Sabemos que Paulo era uma pessoa decidida, com conceitos firmes e de muita atitude. Tinha um temperamento voltado para a liderança, nasceu para o comando e sabia desenvolver uma equipe de voluntários num trabalho árduo e sem recompensa financeira. Era uma pessoa capaz de despertar profundo amor e ódio nas pessoas. É o que normalmente acontece com pessoas autênticas, muito trabalhadoras e cheias de rigor e de docilidade ao mesmo tempo. Com esta determinação, ele desaponta as expectativas do pai, que certamente esperava que ele se tornasse fariseu também. Mas, ele adere ao exército romano. Galgou ao posto de centurião e como tal, ele perseguia e castigava quem se convertia ao cristianismo. Com a mesma determinação ele passou depois a ser defensor e divulgador da salvação pela fé em Jesus Cristo.

            Tudo isso para explicar a importância que tinha,  para o apóstolo Paulo, o fato de sentir-se parte de uma nova família: a família de Deus a partir de um irmão comum, Jesus Cristo. Ele teve que mudar muito seus conceitos, teve que romper com sua tradição e sua história, teve que abrir mão de muitas coisas para tornar-se pregador e divulgador do Evangelho. E não o faz de forma leviana ou superficial.

Ao introduzir a adoção por Deus, Paulo tem em mente um processo complicado e sério usado pelos romanos. Quatro eram as consequências da adoção: 1) a pessoa adotada perdia todos os direitos da família anterior e ganhava todos os direitos de um filho/a da nova família; ou seja, ganhava um novo pai. 2) essa pessoa se tornava herdeira dos bens da nova família da mesma forma como os demais filhos desta família. 3) legalmente a vida da pessoa adotada ficava totalmente cancelada. Por exemplo, se essa pessoa tinha dívidas, elas eram canceladas, como se nunca tivessem existido. A pessoa adotada era realmente considerada uma nova pessoa. 4) Aos olhos da lei romana, a pessoa adotada se tornava literal e absolutamente filha de seu novo pai. Uma pequena história exemplifica isso. O imperador Nero foi adotado pelo imperador Claudio que queria fazer dele seu sucessor. Acontece que Nero queria casar-se com Otávia, filha de Claudio, que não era sua irmã de sangue e sim por adoção, portanto, de acordo com a lei romana, sua irmã completa. Este casamento só foi possível porque o Senado romano passou uma Lei especial que o permitiu. (Qualquer semelhança com o Senado brasileiro de nossos dias, talvez não seja mera coincidência!!!).

            Mais um aspecto do ritual de adoção o apóstolo Paulo tem em mente quando escreveu sua Carta aos Romanos. A cerimônia de adoção se dava na presença de sete testemunhas. Assim, quando o pai falecia e alguém colocava em dúvida se o filho adotado poderia participar da herança, um dos sete era chamado para testificar que a adoção tinha sido genuína e verdadeira. Isto explica a difícil passagem do texto em que Paulo diz que o Espírito de Deus testifica a nosso espírito que somos realmente filhos e filhas de Deus.

            Concluindo, vemos com clareza o significado maiúsculo da adoção para a família de Deus. Não se trata aqui de passar da família biológica para a família espiritual. Não se trata de dizer que a família biológica não vale e sim a família espiritual. Afinal, família biológica também faz parte da grande família de Deus. O que deve ficar claro é que em nossa vida sempre existe a possibilidade de um novo começo. Sempre pode existir um antes e um depois. Pertencemos à família de Deus através da fé em Jesus Cristo. Se Cristo teve que sofrer, também nós herdamos este sofrimento, se Cristo teve decepções e traições, também herdamos decepções e traições. Ao mesmo tempo, com Cristo herdamos os bens do pai celeste, que são amor, perdão, cura, força de vontade, dignidade e acolhida em sua morada eterna pela ressurreição. Do mesmo modo como Jesus Cristo ressuscitou, nós também vamos ressuscitar e participar da grande família de Deus na eternidade. Esta é a nossa fé. Nela o apóstolo Paulo baseou sua vida e nela podemos basear também a nossa, vivendo intensamente como Paulo viveu. Amém.



Pastor Carlos Musskopf
Porto Alegre - (Brasil)
E-Mail: pastorkali54@gmail.com

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