Pesquisa de opinião
Quem vai ganhar a disputa presidencial do ano que vem? Antes de fazer esta pergunta devemos fazer uma outra:
Quem, afinal, poderão ser os presidenciáveis? As pesquisas de opinião buscam dar conta de demandas como essa a fim de ajudar partidos e candidatos nas estratégias de eleição. Mas pesquisa de opinião não é importante somente para a política. Ela é também importante para uma empresa que busca saber como o seu produto está sendo recebido pelo mercado. Uma pesquisa de opinião também é importante para cada um de nós. Afinal, pedir aos outros o que pensam de nós estimula nossa reflexão pessoal, traz clareza, leva à decisões e provoca mudanças. Jesus faz algo semelhante com seus discípulos no evangelho de Mateus 16.13-20.
Leitura do texto...
Jesus está em retiro com os seus discípulos. Ele saiu da sua região primordial de atuação, a Galileia, e vai para os arredores de Cesareia, uma terra de não-judeus com templos dedicados a deuses sírios e gregos. Ali, um carpinteiro da Galileia, milagreiro, pregador itinerante, sem dinheiro, sem-teto, acompanhado de doze homens comuns, pergunta: quem o povo está dizendo que eu sou? E os discípulos respondem que alguns estavam dizendo que ele era o João Batista, associando, provavelmente, as falas sobre o arrependimento e a chegada do reinado de Deus. Outros estavam dizendo que Jesus era Elias, lembrando o profeta que exigia a verdadeira adoração ao Deus de Israel e a eliminação do culto a outros deuses. Outros estavam dizendo que ele era Jeremias, pensando no profeta que pregava o compromisso com Deus a partir da aliança. E outros ainda, simplesmente que era um profeta.
Mais do que mostrar confusão de opinião, as variadas respostas demonstram o reconhecimento que Jesus gozava junto ao povo: o de uma figura ilustre como a de João Batista e dos profetas. No entanto, Jesus esperava mais do que a semelhança com figuras ilustres da história. Jesus esperava que o povo também percebesse a diferença. Por isso vai perguntar, na sequência, a opinião dos discípulos: “E vocês? Quem vocês dizem que eu sou?”. Pedro é quem vai dar a resposta esperada por Jesus: “O senhor é o Messias (o Cristo), o Filho do Deus vivo”. Ao que Jesus respondeu: “Você é feliz porque esta verdade não foi revelada a você por nenhum ser humano, mas veio diretamente do meu Pai, que está no céu”.
E se Jesus fizesse essa pergunta para um de nós aqui na igreja? O que você responderia? Essa pergunta de Jesus permanece atual e nós somos convidados a dar uma resposta pessoal. Quem é Jesus? É um profeta? É um grande mestre de leis? É juiz severo? É a luz das luzes? É o maior psicólogo, o maior guru que já existiu? É um mercenário? É um bon-vivant? Lembra da pesquisa de opinião? A nossa resposta demonstra e determina o nosso jeito de seguir a Cristo. A nossa resposta determina o nosso jeito de ser membro de igreja. A nossa resposta determina o jeito de ser da nossa igreja.
Vamos a alguns dos exemplos dos quais citei. Se Jesus é para nós um mestre de leis ou um juiz, muito provavelmente vamos ter o entendimento que Deus só nos vai abençoar quando conseguirmos cumprir rigorosamente as suas leis. Qual é o resultado disso? O resultado é que vamos nos sentir tristes, com feição pesada e fechada, sempre achando que estamos devendo algo para Deus; vamos sentir medo, vamos ter a sensação de estarmos sujos diante de Deus; que Deus nunca está satisfeito conosco e, em última análise, sempre vamos acreditar que Deus nos está a castigar através de alguma doença ou crise por algo não ter sido bem feito ou por não cumprirmos sua lei. Se Jesus é para nós uma espécie de comerciante, vamos ter o entendimento de que Deus precisa de nosso dinheiro e boas ações. A situação anterior se repete com o agravante de eu e a igreja nos tornarmos uma franquia de empresa e não uma comunidade de Jesus. Se acreditamos que Jesus é um bom vivant, então o entendimento será de descompromisso com o evangelho, com a igreja e nosso único interesse vai ser fazer festa, transformando a igreja em clube e a vida num gozo sem fim e sem sentido. Por outro lado, se damos o passo de Pedro e dizemos que Jesus é “o Cristo, o Messias, o Filho do Deus vivo” e que não precisamos esperar por nenhum outro, se ele morreu por nós na cruz pagando todas as nossas dívidas com o Pai, cumprindo plenamente toda a vontade do Pai e sua lei, e que isso tudo nos é dado por graça através da fé, então a vida fica colorida e vamos querer sempre de novo atualizar essa bênção em nossa vida através da pregação e comunhão na igreja. A igreja vai passar a ser acolhedora, diaconal e missionária, porque o que ela experimentou ela quer passar adiante. A igreja vai para isso usar a criatividade com eventos voltados a esse fim.
Quem é Jesus? A resposta dada por Pedro permitiu a Jesus pontuar três elementos essenciais para o ser igreja: o fundamento, a composição e a tarefa. Vamos a cada um deles:
Pedro só pode ser a pedra de fundamento da igreja em um sentido especial, não relacionado à sua pessoa em si mesmo, mas ao exemplo de sua confissão de fé. É como se Jesus dissesse: “Pedro, você foi o primeiro a compreender quem eu sou; portanto, você é a primeira pedra, você é o princípio da minha igreja e qualquer um que receber a mesma revelação que você recebeu será uma nova pedra que se acrescenta ao edifício igreja”. Em última análise, o fundamento da igreja é a confissão de fé de Pedro.
Voltemos agora à nossa pesquisa de opinião, introdução à esta pregação. Quem é Jesus? Quem ainda não descobriu é convidado a descobrir, mas atente para o fato de que a pura reflexão pessoal não vai conseguir fazer tal descoberta. É preciso que Deus através de seu Santo Espírito revele isso. Mas o que fazer então? Peça em oração que Deus revele isso a você; ouça o testemunho de irmãs e irmãos na fé e, principalmente, fique atento ao que Deus vai lhe falar ao coração e à mente a partir de sua palavra pregada no culto e ministrado nos sacramentos, bem como nos grupos da comunidade dos quais você participa.
Já quem acredita que já descobriu quem é Jesus, é convidado a continuar a reflexão: Jesus é para mim filho do Deus vivo? A minha fé é uma fé que atua pelo amor e na obediência por gratidão à vontade do Senhor? Como está o ofício das chaves na minha vida: estou perdoando as pessoas? Estou pedindo perdão? Estou recebendo o perdão que outros dão para mim? Estou indo ao encontro daqueles que eu machuquei? Estou assumindo a responsabilidade que é minha ou a estou sempre passando adiante aos outros ou dizendo simplesmente que é o “inimigo” (satanás) agindo em minha vida? Ainda em relação ao oficio das chaves, para você que acredita saber quem é Jesus, seria interessante reler aquela parte do velho e bom catecismo de Martim Lutero e o que ele diz sobre o assunto. Nesse sentido fica o desafio pastoral, de sacerdócio geral, para cada um de nós, a saber, o de fazermos uns com os outros menos confidências de amigos e mais confissão de pecados entre os amigos, bem como anunciar verbalmente o perdão em nome de Deus. Você já percebeu que o que a gente faz é ajudar as pessoas a acumular pecados em vez de libertá-las com o perdão? Isso acontece de uma maneira muito sutil, por exemplo: alguém está partilhando suas dificuldades na vida, e eu em vez de expor um texto bíblico e perguntar qual é a responsabilidade da pessoa nessa situação, simplesmente falo “fica firme Deus está contigo”. Assim, na boa intenção acabo ajudando aquela pessoa a acumular pecados e aumentar os fardos em vez de libertá-la.
Quem é Jesus para você? A resposta pessoal é muito importante e tem reflexos para toda a nossa igreja. Um excelente exercício em vista da comemoração dos 500 anos da Reforma. Deus nos auxilie nessa resposta com o seu Santo Espírito. Amém!