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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

2º Domingo da Páscoa , 08.04.2018

Predigt zu Atos 4:32-35, verfasst von Gottfried Brakemeier

Prezada comunidade!

 

“Não havia entre eles nenhum necessitado...” É assim que o evangelista Lucas a quem devemos a redação do livro dos Atos, descreve a vida da primeira comunidade cristã em Jerusalém. Reinava o espírito da unanimidade e da partilha. “Ninguém dizia que as coisas que possuía eram somente suas, mas todos repartiam uns com os outros tudo o que tinham.” Que bonito! Parabéns! Aquela comunidade tentou traduzir em termos concretos o mandamento que conforme Jesus é o maior de todos, a saber o mandamento do amor ao próximo. Devemos cuidar uns dos outros para que ninguém sofra carência ou necessidade. Para tanto é importante a motivação que vem do evangelho. Diz o texto escolhido para a prédica de hoje que com grande poder os apóstolos davam testemunho da ressurreição de Jesus. O amor precisa da fé, e essa se alimenta da palavra que fala de Jesus Cristo. Nem isto nem aquilo pode faltar numa comunidade que se considera cristã. Ela se identifica pelo lado a lado de pregação e diaconia, de fé e ação, de devoção e misericórdia.

 

Creio que a igreja cristã tem motivos para se orgulhar de sua obra diaconal. Seja admitido que também cristãos por demais vezes ficaram em débito com sua missão. Traíram o mandato do amor e acumularam culpa diante de Deus e dos Lázaros à sua porta. Lamentavelmente! Mesmo assim, o imperativo está por demais gravado na consciência cristã para ser ignorado ou desprezado. “Ama o teu próximo como a ti mesmo!” Nesse compromisso Jesus resumiu a lei e os profetas. E os apóstolos o assumiram. Sem amor as maiores conquistas do ser humano a nada se reduzem. Tornam-se vãs e nulas. É o amor que dá validade às coisas, só ele. Em obediência a isto as igrejas sempre de novo se empenharam em ação social, assistencial, caritativa. Insistiram em amor como inalienável dever.

 

Essa consciência trouxe ricos frutos. Ela fez com que a Igreja cristã assumisse a vanguarda no cuidado social. E, com efeito! Não existe nada igual em outras religiões. É claro que amor ao próximo se encontra não só entre cristãos. Sensibilidade frente ao sofrimento do vizinho não é exclusividade cristã. Sabe-se que sem empatia o ser humano prejudica sua alma, e o mundo se torna frio e brutal. Mesmo assim, a orientação no espírito de Jesus faz enorme diferença. Colocando o próximo no centro da atenção, nosso Senhor e Mestre “humaniza” a sociedade. Ele quer que as pessoas vivam como irmãos e irmãs. É o que a primeira comunidade em Jerusalém tentou colocar em prática. E, aparentemente, ela teve sucesso. Quando se diz que nela não havia nenhum necessitado, ela merece fortes aplausos. Amor cristão quer exatamente isto, a saber, acabar com a miséria, a fome, o desamparo social.

 

Infelizmente a realidade é outra. Jamais a humanidade conseguiu erradicar a fome e a pobreza, nem ontem nem hoje. Também na antiga Palestina havia gente que morria de desnutrição e que não tinha teto para morar. Parece que a situação hoje piorou, apesar dos avanços técnicos na agricultura e na produção de alimentos. A explosão demográfica, as guerras, os estragos ambientais, a má distribuição de propriedade e renda, além de outros fatores frustram a meta. Numa reportagem recente se dizia que um terço da população do planeta não tem o suficiente para comer. Ainda que as maiores regiões da fome se encontrem na África, o flagelo não é desconhecido na América Latina. Não sei como está de momento a situação no Brasil. Falou-se na diminuição da pobreza absoluta em nosso país. Parece-me, porém, que essa informação está ultrapassada. De qualquer maneira, existe fome também em nossas bandas. Será necessário isto? Em vez de combater a miséria, a humanidade faz com que aumente. Destrói a base alimentar, peca por gastança, corrupção e má gestão dos recursos públicos, para não falar dos estragos produzidos por guerras e conflitos militares. O ser humano é um imbecil. Já não aguentamos a avalanche de notícias sobre fugitivos, vítimas da violência e de outros horrores. A diaconia das Igrejas fica perplexa diante do ritmo de crescimento da miséria em todo o mundo.  

 

“Não havia entre eles nenhum necessitado...” Assim diz o texto. Então, devemos invejar aqueles primeiros cristãos? Creio que isto seria um mal-entendido. Lucas não quer desenhar um quadro ideal e provocar em seus leitores saudades de um suposto tempo melhor. Ele não apresenta um exemplo a imitar. Pois o preço que aquela comunidade pagou para acabar com a necessidade foi alto. Sua receita foi simples, mas insustentável. Mais dia menos dia mostrou-se ser impraticável. Diz aqui que os membros vendiam suas propriedades, traziam o dinheiro e o entregavam aos apóstolos para por eles ser distribuído aos que sofriam necessidade. Ora, é louvável a disposição para a partilha. Mas desse jeito as coisas não funcionam. Aquela comunidade vivia tão somente do consumo. E isto não dá. Sabemos que ela, mais tarde, enfrentou sérios problemas. Depois de gastas as reservas de seus membros, todos acabaram pobres. Ela começou a depender de doações e subvenções de fora, entre outras das comunidades fundadas pelo apóstolo Paulo.

 

Pois é! Aqueles cristãos de Jerusalém acharam que poderiam assim agir porque estavam convictos de que o fim do mundo estaria próximo. Nesse caso não há necessidade de planejar o futuro. É o que explica o “comunismo”, ou seja, a ideia de ter tudo em comum, daquela gente. Vivia-se o atual momento sem pensar no dia de amanhã. O fim do mundo, porém, não estava tão iminente como se supunha. Graças a Deus, digo eu. A humanidade sobrevive até hoje, muito embora esteja colaborando assustadoramente no colapso da vida no planeta. Mas isto é outra história. De qualquer maneira, a demora da chegada do fim lançou a comunidade de Jerusalém em séria crise. Houve partilha, sim. Mas não houve produção. É louvável a eliminação da miséria entre seus membros. Mas o método usado não é exemplo a ser recomendado.

 

Parece-me ser esta a lição desse texto do livro dos Atos, a saber que amor cristão não pode abrir mão nem de partilha nem de produção. Deve cuidar para equilibrar isto e aquilo. Quem só reparte provoca a bancarrota do abastecimento público. É vergonhoso o que está acontecendo de momento na Venezuela. Um país potencialmente rico não consegue providenciar condições de vida dignas da população, provocando uma gigantesca onda de emigração. O regime descuidou da produção. Se por outro lado faltar a justa distribuição dos recursos, vai crescer o desnível entre riqueza e pobreza e agrava-se o índice de miséria na sociedade. Amor não deixa de exigir renúncia e sacrifício em favor dos necessitados. A Bíblia não condena a propriedade particular, nem exige que vendamos todos os nossos bens. Ela quer, isto sim, que com as nossas posses sirvamos a quem se encontra em situação difícil. Sobre como isto deve acontecer, o próprio amor deve decidir. Em todos os casos, ele insiste em que ao lado da partilha não seja esquecida a produção nem ao lado desta a partilha. É a maneira mais eficiente para superar a necessidade entre as pessoas e assegurar a paz social.

 

Finalizando não quero deixar de lembrar que necessidade humana de modo algum se limita à fome física. Ela se apresenta também em outras formas. Menciono enfermidade, abandono, solidão, luto, desespero, entre outros. Amor autêntico terá sensibilidade para auscultar as pessoas, detectar “necessidades” e, se a tarefa exceder as possibilidades individuais, vai mobilizar ajuda em organizações e instituições. A fome certamente é um dos maiores flagelos da humanidade, mas de modo algum o único. A diaconia cristã se sente desafiada por sofrimento humano em geral. E este tem muitas faces. O próprio Jesus o mostrou por sua atuação. Que ele como ressuscitado continue motivando sua comunidade a empenhar-se na eliminação da necessidade para o bem das pessoas e para a glória de Deus.

Amém



P. Gottfried Brakemeier
Nova Petrópolis, Rio Grande do Sul, Brasil
E-Mail: brakemeier@terra.com.br

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