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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

3º Domingo na Quaresma, 24.02.2008

Predigt zu Romanos 5:1-11, verfasst von Gottfried Brakemeier

    

Prezadas irmãs e irmãos!

"Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo". A tradução da Bíblia na linguagem de hoje evita o termo "justificação". Considera-o difícil e o substitui por "aceitação". Então nós lemos assim: "Agora que fomos aceitos por Deus pela nossa fé nele, temos paz com ele por meio do nosso Senhor Jesus Cristo." É uma interpretação. Mas ela é correta. "Ser justificado" é o mesmo como "ser aceito". Creio ser conveniente, porém, lembrar a palavra "justificação". Ela é importante para uma comunidade luterana. Para Martim Lutero a doutrina da justificação por graça e fé era o resumo do Evangelho, sua mais alta expressão, a mensagem evangélica por excelência. Deu início à Reforma. Deus ama as pessoas sem olhar seus méritos. Ele aceita gente imperfeita, culpada, acolhendo-a em seus braços. Perdoa-lhe os pecados, assim como o pai o fez na parábola do filho pródigo. É de "justificação" que Paulo falou nos capítulos anteriores. Agora ele destaca o resultado: Temos paz com Deus. Eu pergunto: Será que temos necessidade disso?  

Num mundo em que explode a violência, paz passou a ser palavra quase mística. Sensibiliza profundos anseios humanos. Ela aparece em cartazes, carregados em passeatas de protesto contra os assassinatos nas nossas cidades. Desejamos muita paz aos amigos e às amigas por ocasião do início de um novo ano. Ai, quem nos dera viver em paz. Ou será que ela não passa de ficção, bonita, mas irreal? Devemos despedir-nos desse sonho, até que será inscrito em nosso túmulo: Repousa em paz? Pois é! Queremos a paz. Paz com os nossos vizinhos! Paz com os nossos concidadãos! Paz entre os povos. Aliás, paz comigo mesmo, também! Paz em toda a linha. Mas, paz com Deus? Que significa isto? Se o apóstolo Paulo nos desse uma receita para fazer paz nesse nosso Brasil, em nosso bairro, no mundo inteiro, ou seja, "paz na terra", ele estaria atendendo uma demanda urgente. Mas paz com Deus? Qual a importância que tem?

Eu até questiono: Por acaso sou eu um inimigo de Deus? Quando foi que briguei com ele? Pelo contrário! Eu confio em Deus, e mesmo que às vezes ando esquecido dos meus compromissos, não tenho raiva dele, não! Eu me dirijo em oração a ele, invocando-o: "Pai Nosso!" Assim me ensinaram, e assim fomos todos nós instruídos. Por que Deus deveria fazer as pazes conosco? Mas então eu comecei a imaginar: Quem poderiam ser os tais inimigos de Deus que necessitam de "aceitação" e "justificação" para terem paz com ele? Ora, o primeiro nome que me ocorreu foi o de Jó. A história dele se encontra no Antigo Testamento. Este homem, sim, brigou com Deus. Quando a desgraça o atingiu, quando de homem rico passou à condição de pessoa pobre e doente, Jó começou a reclamar. Culpou Deus de ser injusto. Inconformado que era, xingou, amaldiçoou, se rebelou. Quase perdeu a fé. Tais pessoas existem também hoje: Pessoas revoltadas com o seu destino, consigo mesmas, com todo o mundo. E o culpado sempre é Deus. Por que permite tanto sofrimento?

Outra história que me fez ver inimigos de Deus, é a da Paixão de Jesus. É uma lembrança especialmente oportuna nesta época da quaresma. Quem lê essa história, vai observar que Jesus só tinha inimigos. O Sinédrio, o povo, Pôncio Pilatos, os soldados romanos todos se unem contra ele para pregá-lo na cruz. É verdade que uns eram mais inimigos do que outros. Mas onde estão seus seguidores? Fugiram, ficaram observando de longe, se misturaram ao povo. Ninguém foi em defesa do Nazareno. Sim, lendo os evangelhos desde o início, vamos perceber que o martírio de Jesus começou muito cedo. Já o menino Jesus sofre exclusão: Nasce num galpão, numa estrebaria, e deve logo mais fugir para o Egito a fim de escapar da perseguição de Herodes. Mais tarde são outros que se escandalizam nele. Jesus sofreu muita oposição. Quando vejo isto, eu fico pensativo: Se inimizade contra Deus é isto, então também eu não escapo sem culpa. Inimigos de Deus são todos aqueles e todas aquelas que desrespeitam a vontade de Deus, que não se importam com ele, que colocam seus interesses particulares acima dos interesses de Deus, que consideram Deus um supérfluo ou até um estorvo. Acho dizer nada demais, se afirmo que todos nós necessitamos do perdão dos nossos pecados. Existe uma inimizade a vencer, uma reconciliação a celebrar.

É disto que Paulo fala neste trecho. Deus fez paz com seus inimigos. Não se vingou naqueles que mataram Jesus. Não acabou com os criminosos que desprezaram sua vontade e autoridade e que ficaram em dívidas com ele. Oferece a todos a mão conciliatória, também a nós que tantas vezes agimos à semelhança dos adversários de Jesus naquele tempo. É realmente impressionante: Jesus não morreu por pessoas justas, boas, pessoas que "obedecem às leis". Ele morreu por pessoas indignas. Morrer por pessoas que "merecem", ora isto é nada incomum. Eu concordo com Paulo. A história sabe de inúmeras pessoas que sacrificaram sua vida em favor de uma causa nobre, em favor de pessoas amigas, de gente boa. É a glória dos mártires. Entraram na brecha, morreram para que outros pudessem viver. Certamente conhecemos também nós casos dessa natureza.

A morte de Jesus foi diferente. Ele não morreu por amigos. Morreu por inimigos. Ora, isto nunca se viu. Isto parece ser algo absurdo, estúpido, um contra-senso. Inimigos devem ser mortos, combatidos exterminados. Assim se pensa, assim se faz, hoje e antigamente. E a conseqüência são as guerras intermináveis, o ódio de uns aos outros, a matança recíproca. Cristo age diferente. Morre perdoando a seus carrascos, sacrificando-se em favor dos inimigos de Deus. Diz aqui: "Nós éramos inimigos de Deus, mas ele (Deus) nos tornou seus amigos por meio da morte de seu Filho." Considerando que no amor de Jesus aparece o amor do próprio Deus, podemos dizer que Deus amou e ama seus inimigos.

Isto muda a situação. Agora tudo é diferente. Pois se Deus é nosso amigo, no fundo não há nada que nos pudesse amedrontar. Paulo fala aqui da esperança de participar na glória de Deus. Se Deus é por nós, a própria morte deixa de ser o fim das coisas. Nós seremos levados ao sepulcro, sim. Mas nosso destino é a glória de Deus. Enquanto acreditamos no amor de Deus, podemos resistir aos contratempos da vida. Não vamos entregar os pontos após os primeiros fracassos. Teremos forças para lutar, para agüentar sofrimento, teremos perseverança, teremos esperança. Não sou eu que digo isto. É Paulo quem o diz, aqui neste texto. Ele fala das conseqüências da paz com Deus. Se Deus derramou seu amor em nossos corações através do Espírito Santo, então as pessoas mudam. Nós mudamos! Vamos tornar-nos serenos, confiantes, resistentes, sim, agradecidos pelo dom de Deus. Eu até afirmo que a paz com Deus é a condição para a paz na terra. Pois, quem foi reconciliado com Deus já não pode odiar seu próximo. E se o ódio desaparecesse de nosso dia-a-dia, imaginem quanta paz iria reinar. Paz com Deus! Parece pouco! Parece coisa irrelevante! E, todavia, pertence às coisas fundamentais da vida.

Devo acrescentar que essa paz é algo que devemos receber sempre de novo. Enquanto vivemos nessa terra jamais a teremos em definitivo, uma vez por todas. É verdade que a educação cristã nos transmitiu a imagem de um Deus bondoso, Deus pai, com jeito inclusive de mãe. Que bom! Não precisamos ter medo de Deus. Permito-me citar o que Martim Lutero escreveu no Catecismo Menor, na explicação da introdução do "Pai Nosso". Diz ele: "Deus quer atrair-nos carinhosamente com estas palavras, para crermos que ele é o nosso verdadeiro Pai e nós os seus verdadeiros filhos, para que lhe roguemos sem temor, com toda a confiança, como filhos amados ao querido pai." Maravilhoso! Nós não precisamos de reconciliação com Deus a cada instante. Na fé nós podemos viver em paz com ele.

E, no entanto, esta fé deve ser recebida e aprovada todos os dias. Não existe remédio que nos protegesse de vez contra a inimizade a Deus. Não somos imunes contra o pecado. Fazer a vontade de Deus, ora, isto deve ser aprendido constantemente. Por isto precisamos do permanente recurso à cruz de Jesus Cristo, pela qual Deus demonstra seu amor aos inimigos. Ali aconteceu justificação, aceitação, reconciliação. Em vez de revidar às agressões, Jesus perdoa. Deus perdoa, fazendo as pazes com seus inimigos e abrindo-lhes a esperança de vida eterna.

                                                                                                         Amém

 

 

 

 

 

     

 



P. Dr. Gottfried Brakemeier
Nova Petrópolis, RS
Brasil

E-Mail: gbrakemeier@gmx.net

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