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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

Véspera de Ano-Novo, 31.12.2018

Predigt zu Mateus 18:1-5, verfasst von Pedro Puentes

A moldura litúrgica da prédica é a virada do ano. Ela nos oportuniza um exercício de avaliação do ano que termina e uma projeção para o ano que se abre a nossa frente. Trata-se de um exercício que exige uma dupla constatação, que é constitutiva da esperança. Por um lado, não é possível negar que vivemos num tempo turbulento onde a angústia, a violência, o cinismo, a raiva e o medo parecem  por  a perder a fé no futuro. Por outro lado, não é menos certo que toda essa destrutividade exige manifestar e desenvolver o nosso potencial para a empatia, a compaixão e a comunhão. Em outras palavras, a esperança não é ingênua nem cega para os aspectos mais sombrios da nossa natureza humana, como tampouco para toda sua nobreza e bondade.

Dito isto, o evangelho de hoje nos propõe uma pergunta, para esse exercício, de avaliação e de projeção. Quem é o mais importante no Reino do Céu? Atualizando a pergunta: o que nos torna relevantes no Reino de Deus? O que dá sentido à vida? Que é aquilo pelo qual vale a pena consumir o nosso tempo, criatividade e energia? A resposta nos é dada pelo própio evangelho: “A pessoa mais importante no Reino do Céu é aquela que se humilha e fica igual a esta criança”. (Mt 18. 4).

Interessante proposta a do evangelho. Ele aponta para uma postura que molda tudo quanto viermos a fazer na vida. Parece algo simples, mas no fundo trata-se de um severo juízo, pois, nem tudo aquilo que pensamos, falamos e fazemos, entra no campo da humildade.

Este tema da humildade não é periférico no texto bíblico, ele é amplamente recomendado: “com os humildes está a sabedoria”, escreve o livro de Provérbios (11.2). “Felizes as pessoas humildes, pois receberão o que Deus tem prometido”, anuncia Jesus no Sermão do Monte (Mt 5.5). O apóstolo Paulo anota nas suas cartas: “Sejam sempre humildes”. (Ef 4.2). “vistam-se de (...) humildade,..” (Cl 3.12). E  o apóstolo Pedro escreve às comunidades: “Que todos prestem serviços uns aos outros com humildade, pois as Escrituras Sagradas dizem: Deus é contra os orgulhosos, mas é bondoso com os humildes! Portanto, sejam humildes debaixo da poderosa mão de Deus para que ele os honre no tempo certo” (1Pe 5.5-6). A humildade parece ser a chave para uma vida de fé.

Entretanto, nem sempre a humildade tem sido valorizada. Por exemplo, o filósofo Nietzsche a apresentou como uma falsa virtude por ocultar e legitimar as fraquezas da pessoa. Assim, estando supostamente a serviço da mediocridade, a humildade ficou associada à pessoa fraca. Nesse contexto, nossa sociedade, organizada principalmente a partir do econômico, tem preferido o orgulho, com fortes traços de soberba, como o recurso para o empreendedorismo e uma vida de sucesso. Não é a toa o comentário que diz: a humildade é atitude apropriada quando nos dirigimos aos deuses, mas não para com um vizinho, subalternos ou crianças. Então, o chamado do evangelho à humildade ainda é válido? Ele é válido, sim! Mas, por quê? Qual o seu valor?

O primeiroque podemos dizer é que ocuidado pastoral observou que a humildade nos protege da soberba. A soberba, mesmo pequena, é fatal e altamente nociva para a pessoa e seu convívio. No fundo ela conduz a um amor-próprio desmedido que não permite um olhar crítico da própria vida, nem a consideração da outra pessoa na sua real dimensão. Por isso, ela nega a presença da outra pessoa em igualdade, criando assim uma distância para com o próximo. Essa autossatisfação, que não permite enxergar as próprias falhas, nutre o egoísmo que leva à arrogância e ao menosprezo, cuja consequência previsível é a desgraça. (Pv 18.12). A soberba, que é essencialmente competitiva, nos coloca em confrontação, para finalmente acabar na solidão, no isolamento, impedindo a vida em comunidade.

O segundoque podemos dizer é que a humildade promove a confiança, a gratidão e o serviço.A palavra humildade, que vem de húmus – terra, envolve o reconhecimento da nossa pequenez, limitações e dependência. No âmbito da fé, esse reconhecimento, permite uma abertura e confiança em relação a Deus. Assim, entregar nossas preocupações nas mãos de Deus, depois de ter feito tudo que devíamos, é a confiança que traz paz de espírito. A humildade é a que permite ir além das nossas limitações por meio da fé como confiança. Mas, um outro aspecto é possível quando, pela humildade, reconhecemos e confiamos em que tudo vem de Deus, a gratidão. Em outras palavras, quando pela humildade confiamos no amor de Deus há gratidão em nosso coração. Uma última consideração sobre a humildade a encontramos no conselho apostólico: “Não façam nada por interesse pessoal ou por desejos tolos de receber elogios; mas sejam humildes e considerem os outros superiores a vocês mesmos”. (Fl 2.3). É a humildade que nos conduz para ação desinteressada. Aquela que busca, primeiramente, o beneficio das outras pessoas, e para tal constrói pontes de comunhão, de qualidade de vida entre as pessoas.

Uma parábola que nos pode ajudar é a do Fariseu e do Cobrador de impostos. Diz o texto: “O fariseu ficou de pé e orou sozinho, assim: Ó Deus, eu te agradeço porque não sou avarento, nem desonesto, nem imoral como as outras pessoas. Agradeço-te também porque não sou como este cobrador de impostos. Jejuo duas vezes por semana e te dou a décima parte de tudo o que ganho”. (Lc 18.11-12). Ao que parece sua disciplina, generosidade, honestidade, boa reputação e vida familiar feliz fundamentam seu senso de valor e autoestima. Com certeza estamos perante uma boa pessoa, contudo, por que na parábola sua vida é reprovada? Onde está o problema?

Tudo parece indicar que esta pessoa está tão convencida que não tem humildade para reconhecer suas limitações e se abrir à confiança em Deus. Ela não percebe a fragilidade e instabilidade da sua vida, que tudo pode mudar de uma hora para outra. Por exemplo, será que sempre irá responder adequadamente, mesmo em tempos de provocação? Quem garante que não recorrerá à mentira para evitar a vergonha e a desgraça? E, o que fará quando os íntimos segredos sejam descobertos? Este fariseu não consegue enxergar a condição humana. Sua “bondade” esconde uma armadilha: a de não perceber sua própria fragilidade. Não é por acaso que o livro de Provérbios escreva: “o orgulhoso será logo humilhado” (11.2).

Então, desde a humildade como critério de avaliação, perguntamos: de tudo que fizemos no ano que termina: o que devemos colocar sob o arrependimento e perdão? O que podemos guardar? Onde ainda precisamos reconhecer nossos limites? Que coisas precisamos entregar nas mãos de Deus? Onde a nossa gratidão está em falta? E o que podemos dizer sobre o serviço as outras pessoas? E, quanto ao anos que se abre perante nós: quais são os desafios pessoais, familiares, comunitários, laborais, de cidadania?

Que o Santo Espírito de Deus quebre as nossas construções falsas erguidas sobre a arrogância e a soberba, e nos permita enxergar a nossa fragilidade que nos leva a confiança em Deus. Que o Santo Espírito de Deus nos conduza pelo caminho que nos leva ao encontro dos nossos irmãos e irmãs ascendendo em nós o espírito de humildade como serviço que se doa em amor em favor de quem mais precisa. Amém.



P. Dr. Pedro Puentes
Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil
E-Mail: pedro3433@yahoo.com.br

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