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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

7º Domingo após Epifania, 24.02.2019

Predigt zu Lucas 6:27-38, verfasst von Eloir Ênio Weber

Que a graça do nosso Senhor Jesus Cristo seja com vocês.

O ser humano, na sua essência, é um ser violento. Você concorda com essa afirmação?

É interessante observar a história humana e avaliar como a violência nos trouxe até aqui, no século 21. Desde os primórdios, o ser humano teve que lutar para sobreviver. Mas não foi qualquer luta; a disputa por sobrevivência era com espécies de animais muito mais fortes do que o frágil ser humano. Esse frágil ser vivo, tenha ele sido neandertal ou homo sapiens, teve que aprender táticas de defesa e de ataque. Essas táticas o permitiram sobreviver, mesmo estando em desvantagem física e de habilidades corporais. Além de defender-se, era necessário aprender a caçar e garantir o alimento; especialmente da caça vinha a proteína que auxiliou a desenvolver o cérebro humano.

A disputa por espaço com outras tribos humanas, com a finalidade de garantir uma boa alimentação através da coleta e da caça, também se instalou desde o princípio da história humana. Aliás, a disputa por territórios, movimentou e continua movimentando pessoas, energia, guerra e recursos. Se observarmos o mapa do nosso globo terrestre percebemos divisas entre países. Essas divisas, na maioria das vezes, não são frutos de entendimento, mas de disputas e de violência.

A própria história bíblica está repleta de relatos de disputa por espaço e de formas violentas de resolver conflitos. O “Senhor dos Exércitos”, nos relatos do Antigo Testamento, foi responsabilizado por verdadeiras desgraças humanas.

E, nós, no século 21? Um dos temas mais controversos para nós continua sendo esse da violência. Estamos todos expostos à violência urbana. Essa violência que não poupa nem mesmo as pessoas em rincões distantes dos grandes centros. Um dos grandes temas de debate mundial são as movimentações de migrações de grandes massas humanas que são reflexos e motivos de violência: reflexos porque são provocadas pelas disputas e pela fome; motivos pelos quais esses seres humanos retirantes não são bem aceitos nos países para os quais estão indo. Em nosso país saímos de uma eleição e estamos iniciando um novo período e uma das bandeiras fortes desse novo governo é garantir a segurança das pessoas. Resta saber se combater o crime com violência é garantia de alcançar a segurança tão almejada e buscada.

Diante desse quadro, poderíamos dizer que duas coisas são permanentes na história humana: guerra e fome. Não deveria ser assim. Não deveria ser esse o destino da humanidade. Até porque a violência é sempre algo terrível, mesmo quando a causa parece justa. Penso isso porque a violência consegue destruir o que ela pretende defender: a dignidade da vida e a liberdade humana. Para Jean-Paul Sartre, filósofo, escritor e crítico francês, “a violência, seja qual for a maneira como ela se manifesta, é sempre uma derrota”. A partir da minha espiritualidade, eu concordo com ele porque penso que a violência - por mais estranho que pareça - nunca é expressão de força, mas de fraqueza. Porque ela - a violência – nunca conseguirá ser criadora de coisas boas, mas apenas destruidora – o único poder da violência é a destruição, nunca a construção.

E Jesus. O que ele tem a dizer sobre violência? O “príncipe da paz”, assim anunciado no Antigo Testamento, veio com uma proposta que vai na contramão da essência humana, que é violenta.

O texto bíblico previsto para a pregação nesse domingo vai nessa direção.

Ler Evangelho de Lucas 6.27-38

Esse texto mexe comigo. Ele me questiona. Ele me deixa inquieto. Desestabiliza porque, na sua radicalidade pela não-violência, Jesus me pede algo muito complicado: amar o inimigo, desejar o bem para as pessoas que me amaldiçoam, orar em favor das pessoas que me maltratam e... se alguém me der um tapa no rosto, virar para deixar bater do outro lado também. Além disso, emprestar coisas sem esperar que devolvam, não julgar as outras pessoas, não condená-las, mas perdoar.

Certa vez fiz um estudo bíblico sobre esse texto e alguém, brincando – mas imagino com um fundo de seriedade humana sarcástica – disse: “depois de deixar bater do outro lado da face, Jesus não disse mais nada. Então, posso partir para cima do agressor”.

A lógica de Jesus inverte a nossa lógica de raciocínio. Nos desafia a sermos e agirmos de forma diferente. Por isso mesmo é que sempre de novo na Bíblia se fala da necessidade de nos tornarmos uma nova criatura. Lutero insistia para que nos tornássemos nova criatura, afogando o velho Adão que está em nós e insiste em se manifestar. A conversão, para nós Luteranos, a partir da nossa leitura bíblica, fé em Cristo e espiritualidade cristã, é um evento que deve acontecer dia após dia, é uma conversão constante e vigilante.

Nunca estamos purificados totalmente, mas com a graça de Deus, manifestada em Cristo, somos tornados santos. Mas o ser pecador continua morando em nós. Somos, simultaneamente, pessoas justas e pecadoras – essa é a lógica da teologia luterana. Por causa dessa teologia, se eu não tivesse nascido em uma família luterana, facilmente me sentiria tocado por essa reflexão porque ela mostra a vida como ela é. Ela não me cobra para ser perfeito, mas me desafia a controlar as minhas energias que tem forças muito grandes. E, como elas são, na maioria das vezes, mais fortes do que eu, necessito de Cristo e da fé nele para resistir a elas. Ele é que, por graça, me livra e dá forças para lutar. E, acima de tudo, quando esqueço dessa máxima, ele me concede o perdão do qual necessito para recomeçar.

A teologia de Lutero, inspirada e centrada no Evangelho de Cristo, nos desafia a alinharmos a nossa vida com os princípios cristãos. Nesse sentido, volto ao texto bíblico de hoje. Ele nos desafia a buscarmos e cultivarmos uma cultura de não-violência. E o fato de nos empenharmos para construir uma cultura de não-violência é de valor inestimável. Porque o fundamental naquilo que Jesus propõe nesse texto - a cultura da não-violência – é que não busca destruir a pessoa humana, mas transformá-la no seu jeito de relacionar-se com as outras pessoas, outras culturas, povos, classes sociais e orientações sexuais.

E por isso mesmo a cultura de não-violência não é uma opção feita pela covardia, mas pela coragem, pois ela combina com amor. E onde o amor acaba, ali se instala a subjugação a partir do poder da força, da violência, do terror e do medo. Mahatma Gandhi compreendia essa questão exatamente sob esse ponto de vista. Ele afirmava que: “a não-violência e a covardia não combinam. Posso imaginar um homem armado até os dentes que no fundo é um covarde. A posse de armas insinua um elemento de medo, se não mesmo de covardia. Mas a verdadeira não-violência é uma impossibilidade sem a posse de um destemor inflexível”.

O que Jesus propõe, no fundo, é que questionemos todas as formas de subjugação humana. Porque toda a manifestação de violência é uma questão de poder. O ser humano se torna violento na medida em que se sente impotente. E isso se aplica à violência doméstica, à violência sexual e moral. Se aplica, inclusive, na forma como educamos os nossos filhos. Confesso que algumas poucas vezes dei chineladas na minha filha, mas, hoje, percebo que todas as vezes que o fiz, foi porque me sentia impotente diante de alguma situação e reconheço, assumo e confesso a minha covardia. Jesus nos chama a assumir uma nova postura porque toda a manifestação de violência gera mais violência. Ele nos mostra que, ao invés de julgar e condenar, podemos buscar, nele, forças para perdoar e compreender.

John Lennon, a partir do seu jeito de artista, disse certa vez que “vivemos num mundo no qual nos escondemos para fazer amor, enquanto a violência é praticada em plena luz do dia”. Obviamente que é uma expressão com a qual temos que ter um certo cuidado. No entanto o sentido que eu vejo nela é que o ser humano não tem vergonha de mostrar a violência, faz até questão de demonstrá-la como sinal de força, superioridade e dominação.

Por isso mesmo que a palavra do Evangelho nos chama para um olhar diferente. Jesus nos orienta, no texto de hoje, “tenham misericórdia dos outros assim como o Pai de vocês tem misericórdia de vocês. Não julguem os outros, e Deus não julgará vocês. Não condenem os outros, e Deus não condenará vocês. Perdoem os outros, e Deus perdoará vocês. Deem aos outros, e Deus dará a vocês. Ele será generoso, e as bênçãos que ele lhes dará serão tantas, que vocês não poderão segurá-las nas suas mãos. A mesma medida que vocês usarem para medir os outros Deus usará para medir vocês”.

Que Deus nos conceda o seu Santo Espírito para sermos agentes de paz e de bênçãos. Amém.

 



Pastor Eloir Ênio Weber
São Leopoldo, Rio Grande do Sul, Brasil
E-Mail: eloir@sinodal.com.br

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