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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

Último Domingo após Epifania, 03.03.2019

Predigt zu Lucas 9:28-36 (37-43), verfasst von Harald Malschitzky

Irmãs e irmãos em Cristo.

 

Imagino que a maioria de nós já teve alguma experiência bacana tão forte que a vontade foi “congelar a imagem”, ficar com a experiência, parar no tempo e no espaço. No universo religioso experiências assim costumam ser especialmente marcantes que muitas e muitas vezes levam a uma conversão, a uma mudança radical para o resto da vida. A Bíblia tem muitos exemplos. Mas eu gostaria de lembrar um personagem bem conhecido: Martim Lutero: Jovem inteligente, tinha no estudo do direito o firme objetivo próprio, mas também o do seu pai. O direito era um dos cursos que proporcionava um futuro promissor.  Dia desses, quando voltava da universidade, foi surpreendido por um violento temporal e um raio só não o teria atingido por pouco. Neste momento ele invocou a padroeira dos mineiros, Santa Ana, e jurou que, se saísse vivo da tempestade, se tornaria monge. Saiu vivo e, para espanto de amigos e colegas e a fúria de seu pai, ingressou num convento...

A passagem bíblica proposta para reflexão neste domingo não apenas em nossas comunidades e igrejas, encontra-se em Lucas 9.28-36(37-43). Ouçamos o texto.

Morros e montanhas têm fascínio por si só. Na Bíblia em geral são o lugar de silêncio, de meditação, de falar com Deus. Para Jesus não era diferente; na passagem que ouvimos ele leva consigo alguns dos seus discípulos. Cerca de uma semana antes Jesus tinha conversado com os discípulos sobre discipulado e risco de sofrimento e negação. Agora, lá em cima, ele deseja orar. Enquanto ora, os discípulos percebem uma transformação do rosto e um brilho estranho em suas vestes. Como se isso não bastasse, de repente estavam ali, conversando com o mestre, dois homens identificados como Moisés e Elias. Os discípulos, sonolentos, estavam embasbacados e não lhes vem à cabeça coisa melhor do que dizer, através de Pedro, é bom estarmos aqui. E logo ele tem uma sugestão prática: Construir três tendas, uma para cada um dos três personagens. Mas um novo acontecimento acaba com o plano. Uma nuvem envolve a todos, metendo medo nos discípulos e uma voz se faz ouvir: Este é o meu filho, o meu eleito, a ele ouvi. Jesus volta a estar sozinho, todos se calam e no dia seguinte descem do monte.

Os discípulos, seguramente na melhor das intenções, tentaram fixar ali mesmo o que tinham vivido. Era bonito demais, era um enlevo só, eles estavam arrebatados. Mas a voz que ouvem e o que a voz afirma, os remete – ainda que eles no momento nem o compreendam – à realidade: O caminho do filho de Deus é lá embaixo, é na vida com suas alegrias e com suas dores, é o caminho de sofrimento sobre o qual Jesus já havia falado mais de uma vez. A presença de Moisés e Elias é muito mais do que uma agradável companhia: Sua presença sinaliza que a vida e a ação de Jesus são parte da história e da caminhada do povo de Israel. Isso significa que o lugar de Jesus e de seus discípulos é a própria vida e história do povo, com suas alegrias, suas festas, suas dores, suas esperanças  e não a tranquilidade e a distância do monte. Não que a tranquilidade do monte seja desnecessária: Jesus sobe para orar e meditar com seu Deus. Esses momentos, porém, não podem ficar fechados em si, eles são, por assim dizer, a recarga de forças para descer e conviver com as pessoas.

Penso que não é errado compararmos nossas igrejas, nossos salões, nossos espaços com o monte. Que bom que temos os lugares para nos encontrarmos, orar, louvar a Deus, falar de nossas dores, festejar e confraternizar. Esses espaços, pequenos ou grandes, são imprescindíveis para a vida da comunidade cristã. É ali – ou deveria ser ali - que, entre outros, buscamos forças e ânimo para a vida com tudo o que ela nos oferece. É ali que buscamos ânimo e direcionamentos éticos para a nossa vida em família, no trabalho, na sociedade. É ali que somos desafiados a ouvir com atenção o que o Filho der Deus fez por nós e que consequências isso pode ter.  E o nosso mundo moderno tem tantos problemas e tantos desafios: É a nossa relação pais e filhos, é a relação com a escola, é a vida dos nossos filhos adultos, para muitos já  é a vida de netos e bisnetos. Como  será o amanhã deles? Mas é também o mundo em que vivemos e os rumos que ele toma, são os caminhos que nossos governantes tentam desenhar para o povo todo, no momento os medos em relação à aposentadoria e velhice. Quais são os critérios que estão sendo adotados? Só os financeiros ou – como deveria ser – em primeiro lugar os humanos. E aí vem outra aflição: Como nós podemos nos fazer ouvir, o que nós podemos fazer em favor de mais dignidade de vida para todos? Será que querem nos ouvir?

E aqui me assalta uma questão levantada pelo novo governo. Parece que não foram só os discípulos que lá no passado tiveram a ideia de que seria bom permanecer na tranquilidade do monte. Agentes do governo se empenham para que a igreja fique na tranquilidade e no distanciamento do monte. Como? Ora, toda a movimentação para que o Vaticano – e haveria gestões através do governo italiano – cale os bispos que poderiam mencionar Brumadinho, a questão indígena, a questão do desmatamento desmedido e criminoso da Amazônia, os ganhos, privilégios e outros desmandos de políticos. Falar nisso no próximo Sínodo seria denegrir a imagem do Brasil. Mas a pergunta é tão simples: Essas coisas existem, estão acontecendo, ou são só invencionice de gente mal intencionada?

Assim como os discípulos escutaram que Jesus era o filho amado de Deus e que precisava ser ouvido em toda a sua dimensão, cristãos e suas igrejas hoje precisam ouvir essa voz, descer do monte, estar com as pessoas ali onde elas vivem, festejar com elas, chorar com elas, com elas e por elas empenhar-se por dignidade de vida para todos. E aí será preciso identificar em alto e bom tom aquilo que denigre, destrói ou impede a concretização da dignidade humana.

Jesus não prega nenhuma ilusão e nem faz falsas promessas. Antes de subir ao monte ele alertava para o seu sofrimento e para dificuldades que pode ser o discipulado. Depois de descerem, ele se volta às pessoas, começando por uma cura, por ensinamento, por rejeição.

No início eu lembrei a experiência de Lutero e as consequências que ele tirou dela para a vida. Às vezes a gente tem a imagem de um herói, de alguém que sempre venceu. A realidade dele foi diferente: Foi tumultuada, teve perseguição tanto por parte da igreja que fora sua bem como de poderosos, doença, perdas na família, momentos de grandes dúvidas. Ser cristãos/ã não é ser herói, mas é ouvir a voz do Cristo e buscar na sua palavra a orientação para agir na vida e no mundo. É ser comunidade que se nutre de palavra e sacramentos para então ir para a vida como ela é.

E a paz de Deus que excede todo o entendimento, guarde nossos corações e pensamentos em Cristo Jesus. Amém



P.em Harald Malschitzky
São Leopoldo, Rio Grande do Sul, Brasil
E-Mail: harald.malschitzky@gmail.com

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