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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

3º Domingo na Quaresma , 24.03.2019

Predigt zu Lucas 13:1-9, verfasst von Roberto E. Zwetsch

Textos de Leitura – Isaías 55.1-9 – 1 Coríntios 10.1-13

Quem está de pé, cuide para não cair!

Prezada comunidade de fé, amigas e amigos do povo de Jesus,

Durante o seu ministério do anúncio do reino ou reinado de Deus, Jesus enfrentou muitos ouvintes que teimavam em lhe preparar armadilhas. Interessante é que estas armadilhas tinham como fundamento ou ponto de partida regras e mandamentos da lei de Deus. Por isto é que esta narrativa do evangelho de Lucas e os três fatos contrastantes que ela apresenta é muito atual. Jesus nos desafia a tomarmos uma atitude. Vocês vão perceber isto no que pretendo compartilhar com a reflexão de hoje.

Vivemos um momento histórico complicadíssimo. O mundo e o sistema que nos domina e que hoje se espalha por todo o planeta é cruel e não tem piedade de ninguém. Invade, destrói, culpa as pessoas mais frágeis, assalta, tira lucro do sofrimento de milhões de pessoas e da própria natureza. Enquanto isto, nós nos sentimos cada vez mais acuados. Somos levados de roldão pela correnteza dos fatos, dos assaltos legais e ilegais do sistema econômico, das transformações tecnológicas que não encontram mais limites. Costumo dizer que a bomba hoje não é apenas a atômica. A bomba que nos pode matar está sendo implantada dentro de nós, nos nossos gens, por exemplo, se consideramos os avanços já atingidos pela engenharia genética. Ainda que se faça propaganda dos benefícios que ela pode oferecer a pessoas enfermas.

Como as pessoas reagem a toda esta avalanche? Um dos caminhos tem sido uma versão regressiva da compreensão da fé que se mostra num moralismo ascendente, numa leitura superficial e tendenciosa da Bíblia, chegando a uma compreensão fundamentalista da vida e da sociedade. Tristemente, esta forma de viver a fé em Cristo – sem que as pessoas percebam – acaba por negar o evangelho da graça, do amor e da fé que liberta do pecado, da injustiça e da morte.

Jesus – nesse debate com os fariseus – tomou os argumentos apresentados por eles e inverteu a conclusão fazendo com que seus ouvintes ficassem, no mínimo, surpresos e alguns até irados. Vocês pensam que são melhores do que os revolucionários galileus que foram massacrados pelas forças romanas de Pilatos? – indaga Jesus. Nesse caso, a reação do império foi desproporcional. Nem mesmo as leis sagradas dos judeus os soldados respeitaram, misturando o sangue dos rebeldes com os sacrifícios que faziam diante de Deus. No outro caso, o daquelas 18 pessoas sobre as quais desabou a torre de Siloé, enquanto os justos julgavam a tragédia atribuindo culpa a quem fora vítima dela, Jesus foi ainda mais enfático: Vocês pensam que essas pessoas são mais culpadas do que todos os demais moradores de Jerusalém? Com toda a liberdade e ousadia que o caracteriza, Jesus disse: NÃO!

Essas pessoas não são nem mais nem menos pecadores que todas as demais. Por isto, muito cuidado em julgar os outros. Paulo, o apóstolo, assegura: Quem está de pé, cuide para não cair! Falso moralismo é uma forma de esconder as próprias falhas sob a aparência de justiça própria, de uma vida sem nenhum pecado. Ora, amigos e amigas, quem em sã consciência acredita nesse tipo de gente? Podemos até fazer de conta, mas no fundo sabemos que isto tem nome: hipocrisia. E o de que menos precisamos na caminhada cristã é de hipócritas. Falsidade é um pecado – talvez – ainda mais grave porque se baseia numa espécie de autossuficiência arrogante de quem se julga acima de qualquer crítica, isto é, uma pessoa correta e segura diante de Deus e das outras pessoas. Aqui cabe recordar àquela outra parábola, a do fariseu e do publicano (Lucas 18). Enquanto o fariseu se vangloriava diante de Deus (“não sou como os demais, roubadores, injustos, adúlteros, nem como este publicano” - v.11), o publicano, consciente de sua vida, apenas clamava de uma forma muito honesta: “Ó Deus, tem compaixão de mim, pecador!”. A resposta de Jesus foi desconcertante: “Digo a vocês que este (publicano) desceu justificado (livre) para casa e não aquele” (v. 13). A mesma inversão nós encontramos no cântico de Maria, mãe de Jesus, em Lucas 1: Deus derruba dos seus tronos os poderosos e exalta os humildes, enche de bens os famintos e despede vazios os ricos (v. 52s).

Jesus não se deixa enganar pelas aparências de piedade, de justiça própria, de uma moralidade arrogante e, seguidamente, indiferente diante da dor alheia, dos sofrimentos que se abatem cotidianamente sobre as pessoas mais frágeis. Ele vai fundo na alma humana e nas relações que as pessoas estabelecem entre si. Jesus chama ao arrependimento, à mudança de vida, à conversão. Esta narrativa em três momentos me ensina algo que me parece relevante para nós hoje, urgente até. É o seguinte: mudar de vida ou arrepender-se não necessariamente acontece somente uma vez, é antes uma experiência que precisa acontecer de forma permanente, contínua, cada dia, cada vez que reconsideramos nossa caminhada como pessoas, como crentes e como comunidade de fé. Se isto não for assim, não dá para entender a oração de Jesus que nos ensinou a pedir perdão todos os dias, porque a tentação acontece sempre e não temos o privilégio de não cairmos no erro, na injustiça, na hipocrisia, numa palavra, no pecado. “Se vocês não se arrependerem, todos perecerão”. Este é o juízo. Quem se dá conta dele?

O outro lado desse juízo é a palavra da misericórdia, da nova chance, do recomeço. Na parábola da figueira isto fica bem evidente. O dono da vinha reparou que a figueira plantada no meio do vinhedo fazia três anos que não dava frutos e foi categórico: – Corta! disse ao viticultor. O trabalhador respondeu em defesa da planta: “Senhor, deixa a figueira por mais um ano até que eu escave ao redor e lhe ponha adubo orgânico. Se vier a dar fruto, está bem; se não, mandarás cortá-la” (v. 6-9). Encontramos aqui um gesto de intercessão e solidariedade com uma árvore infrutífera. Dar tempo, dar uma nova chance, estender a expectativa de novos frutos. Isto é um sinal de que o julgamento nunca está encerrado. É possível que a árvore se recupere e produza o fruto esperado. Se pensarmos que a árvore é a nossa comunidade e que o trabalhador é Jesus, podemos entender o que significa o seu apelo ao dono da vinha, ao Deus criador, portanto, ao Pai. Ele promete cuidar da árvore, adubar, fazer tudo o que é possível para que ela se torne produtiva, frutífera. Este cuidado pode fazer com que a comunidade recobre sua força e vigor, recupere a sabedoria da fé que age através do amor e da partilha, e assim dê frutos de justiça e de solidariedade. Dá para acreditar nesse evangelho?

Penso que sim, mas para tanto é preciso abrir o coração, mudar de vida, reconsiderar o rumo que estamos dando ao nosso projeto pessoal. Arrepender-se das ilusões da justiça própria e da autossuficiência, olhar-se no espelho do amor divino e retomar a caminhada com humildade e coragem. Pois conversão, arrependimento ou mudança de mente e coração não são experiências fáceis. Podem causar sofrimento e temor até. Mas quem viveu momentos como esses é testemunha do bem que esta transformação proporciona, da libertação que oferece e dos novos caminhos que se abrem. O viticultor, Jesus no caso, não quer cortar a árvore. Ele prefere dar tempo, aposta nela, cuida dela. Quer dizer, ele está ao nosso lado quando caímos e nos chama para uma vida nova adubada com sinceridade, sem falsos moralismos e disposta a dar de si, a partilhar amor, sonhos e bens, sem medo de ser livre, isto é, arrepender-se das falsidades da vida autossuficiente para viver com fé e liberdade uma nova vida. Um comentário a este texto que vem da África trouxe uma conclusão que achei muito oportuna para nós também. Disse o texto – interpretando Jesus – que nenhuma tragédia representa a medida da pecaminosidade humana, nem mesmo sua capacidade de arrependimento. Pois quem não experimenta tragédias na vida também necessita de arrependimento. Uma vez quando alguns piedosos vieram trazer uma mulher pega em adultério e estavam a ponto de apedrejá-la, Jesus olhou nos olhos daqueles homens e disse: Quem estiver sem pecado que atire a primeira pedra! (João 8.7). Vocês sabem o que aconteceu.

É isto mesmo. Tragédia não é um sinal válido de pecado, assim como a ausência de tragédia não significa a certeza da honestidade. Todas as pessoas, e nós estamos aí incluídos, independentemente de situações particulares ou boas intenções, somos pessoas pecadoras, falhas e injustas, mais ou menos, não vem ao caso. Por isto precisamos aprender o difícil caminho do arrependimento, da mudança de vida, da conversão contínua, da reviravolta que nos pode fazer novamente frutificar como aquela figueira estéril. E que se diga com toda a clareza: esta reviravolta não é algo apenas espiritual, mas abrange toda a vida da pessoa, a mente, o coração, o espírito e as atitudes.

Que o Deus de toda a paz e da misericórdia tenha compaixão de nós e nos ajude na nossa fraqueza e nas aflições do dia a dia. Amém.



P. Roberto E. Zwetsch
Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil
E-Mail: rzwetsch@gmail.com

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