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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

o Domingo da Paixão, 16.03.2008

Predigt zu Mateus 27:11-26, verfasst von Gottfried Brakemeier

    

Prezadas irmãs e irmãos!

Barrabás é figura marginal na história da paixão de Jesus. Desempenha papel puramente passivo. Ele não decide nada. Outros decidem sobre ele. Entretanto, ele é por excelência o exemplo da pessoa, pela qual Jesus morreu. Ele deve sua vida, sua liberdade, tudo a esse Jesus de Nazaré que em seu lugar morreu na cruz. Não fosse ele, Barrabás teria acabado exatamente assim. Quem foi esse sujeito, solto por Pilatos a pedido do povo?

São poucas as informações fornecidas pelos evangelhos sobre a identidade de Barrabás. Mateus nos diz apenas que era um preso muito conhecido. Os evangelistas Marcos e Lucas são mais explícitos. Dizem que foi um rebelde, um revolucionário, um homicida. Matou gente. Pelo que tudo indica, Barrabás foi um daqueles que, na época, ofereceram resistência ao jugo opressor dos romanos, não desprezando para tanto nem a violência. Barrabás, um terrorista. Ele teve azar, foi capturado e agora aguarda processo que, sem dúvida alguma, vai resultar em sentença de morte. Mas aí aparece Jesus. E na loteria da vida, a sorte cai para o seu lado. O povo opta por ele - contra Jesus.

Pois é, Barrabás! Tu deves entender bem aquela afirmação da Igreja que diz: "Cristo morreu pelos nossos pecados." Você sentiu na própria pele o que é isto. Você já estava com um pé na sepultura, quando ele, Jesus, o tirou do corredor da morte. Você é assassino, mas graças a Jesus você anda solto, já não perseguido pela polícia. Veja, nós confessamos que, perante Deus, não merecemos outra coisa senão a morte. Somos pecadores, réus de condenação e de castigo. Barrabás, nós somos iguais a você. Somos culpados, endividados com Deus, sem chance de vida - não fosse Jesus o crucificado que "por nós" sofreu o castigo.        

Prezada comunidade! Confesso que me sinto mal com tal discurso, ou seja, com a identificação da minha pessoa com Barrabás. Eu não sou Barrabás. Eu não matei ninguém, e também não tenho o direito de empurrar os membros de minha comunidade para o lado dos criminosos. Isto é injusto. Se eu olhar as pessoas que chegam aos nossos cultos e mesmo aquelas que talvez tenham ficado em casa, eu enxergo antes vítimas da violência, não assassinos. Nós somos gente honesta. Ou? Não, essa história de que nós todos somos pecadores e merecemos a condenação eterna, essa história me é suspeita. Ela é cruel, injusta, desanimadora. Às vezes eu tenho a impressão de sermos na Igreja um tanto irresponsáveis em nosso discurso sobre o pecado. Eu repito: Nós não somos iguais a Barrabás.

É o mérito de muitas Igrejas neste País de terem aberto os olhos para as vítimas da sociedade. O pequeno agricultor, por exemplo, membro fiel da nossa comunidade, como está sendo estrangulado pela desvalorização de seus produtos. Celebramos há poucos dias o dia internacional da mulher. Ainda hoje a mulher se defronta com situações de exploração e violência. E o índio que vamos lembrar em dia especial logo mais? E o escravo? É longa a lista de vítimas em nosso País e em nosso mundo. Será que Barrabás não era vítima também?  

Acho que sim! Barrabás luta contra a exploração, levantando a bandeira da justiça, da auto-determinação, da liberdade. Aparentemente ele tem muitas simpatias entre o povo. Barrabás é vítima do imperialismo romano, representado na figura do procurador Pôncio Pilatos. Portanto, Pilatos um opressor? Não! diria ele. Pilatos é vítima também. Ele procura um jeito para libertar Jesus. Até mesmo sua mulher o alerta: "Não te envolvas com esse justo!" Mas Pilatos sofre a pressão do povo. Ele se considera inocente. Por isto aquele gesto teatral de lavar as mãos em público. Então, a responsabilidade estaria com o povo que grita: "Crucifica-o!"?? Não, de modo algum! Ele é igualmente vítima. Foi persuadido, seduzido pelas autoridades. Demagogos sabem como fanatizar as massas. O povo não tem culpa, não. E até mesmo aquelas autoridades, os sacerdotes e anciãos, o sinédrio, também eles poderiam alegar legítima defesa. Esse Jesus estava minando as sagradas tradições. Portanto, era um sujeito perigoso. Tinha que ser eliminado. O sinédrio teria faltado com as suas obrigações, se tivesse cruzado os braços. Todo mundo é vítima. Pelo que parece, resta somente um culpado: Deus! Deus quis. Pelo menos não impediu. A cruz de Jesus foi determinação divina, não foi? Então todo mundo está desculpado, menos Deus.

E aí eu me flagro que assim não dá. Porventura, não existe nenhuma responsabilidade humana na crucificação de Jesus? Ora, a cruz foi um assassinato, um daqueles bem bárbaros, hediondos, repugnantes. E se olharmos para os crimes de hoje, os homicídios, as chacinas, os atentados, quando olharmos para a violência nas nossas cidades, para o cinismo, para a exploração de uns pelos outros - vamos dizer também dessa vez: Deus quis? Onde estão os responsáveis? Claro, todo o mundo é vítima. Nós já conhecemos essa história. Ora, desse jeito nada vai mudar na sociedade.

Vejam, o problema é que o ser humano costuma ser, a um só tempo, agente e vítima do pecado. Isto em proporções desiguais. Uma pessoa como Pôncio Pilatos carrega mais culpa do que o apóstolo Pedro, por exemplo. Mas também Pedro errou. Negou a Jesus, e nem sempre pensou as coisas de Deus, razão pela qual Jesus, em certo momento, o apelidou de Satanás. Não, não vamos nivelar a culpa, e muito menos esquecer as vítimas do pecado: Os Lázaros que morrem de fome num pais campeão em produção de alimentos, os desempregados, os jovens sem perspectiva de futuro, os idosos que estão sobrando. Jesus se solidarizou com as vítimas de seu tempo. Buscou a reintegração das pessoas à margem. Morreu entre dois outros crucificados. Não, a Igreja é chamada a ter ouvidos para as vítimas, produzidas em nosso mundo em proporções alarmantes. 

Mesmo assim - e isto me parece ser um dos grandes aspectos da história da paixão de Cristo - não devemos diluir ou apagar responsabilidades. Faz parte da dignidade do ser humano, assumir a sua culpa. Nós contribuímos, cada qual a seu modo, para a problematização do nosso mundo. Ficamos em dívidas com Deus e com as pessoas a nosso lado. E sempre que isto acontece, estamos também nós contribuindo com a crucificação de Jesus. Se isto não for verdade ou se não o admitirmos, então, por favor, fiquemos calados, quando no "Pai Nosso" dizemos: "Perdoa-nos as nossas dívidas!" Então vamos esquecer essa prece. Aliás, eu confesso que não me sinto bem na companhia de pessoas "justas". Elas têm dificuldades com a compaixão. E eu preciso de compaixão. Acho que toda pessoa precisa, precisa de mais compaixão do que normalmente está disposta a admitir.

Por isto eu agradeço a Deus por sua compaixão. Jesus morre porque, em nome de Deus, soube compadecer-se, perdoar pecados, mostrar solidariedade com gente que sofre. A história da paixão de Jesus tem duas caras: Por um lado é a história de um crime humano, coletivo, típico da humanidade em seu todo. E, não existe apenas um único responsável nessa história. Responsáveis são todos que de uma forma ou outra se escandalizam em Jesus. Não estou também eu entre eles? Por outro lado é uma história de amor, melhor do amor de Deus. Eu volto a lembrar Barrabás. Jesus por ele entrou na brecha. Morreu por ele, algo que Barrabás durante toda a sua vida não deve ter esquecido. Não importa o volume de nossa culpa. Importante é que reconheçamos em Jesus aquele que também por nós sofreu. Devemos, portanto, gratidão a ele.                            

                                                                                         Amém

 



Prof. Dr. Gottfried Brakemeier
Nova Petrópolis, RS
Brasilien

E-Mail: gbrakemeier@gmx.net

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