Göttinger Predigten
Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach
9º Domingo após Pentecostes, 11.08.2019
Predigt zu Lucas 12:32-40, verfasst von Harald Malschitzky
Irmãs e irmãos em Cristo.
Conta-se que – lá se vão algumas décadas – quando a filmadora portátil e pessoal estava em alta, um grupo de turistas estava admirando um lugar fantástico, quando, na conversa, um dos integrantes do grupo disse: Estou louco para chegar em casa e olhar o filme disso tudo!
Talvez tivesse sido melhor olhar com devoção e admiração o cenário ao vivo, naquele momento!
Hoje estamos alguns passos além, com o WhatsApp. As fotos e imagens precisam ser postadas na hora, uma atrás da outra, em todas as direções, contatos e grupos para satisfazer amigos e seguidores/as. E aí se veem as pessoas entretidas o tempo todo com a maquininha maravilhosa que tira as fotos e logo as envia. As fotos chegam muito antes do que quem as tira! Mas uma pergunta se impõe: Será que, de tanto tirar e enviar fotos, restou tempo para desfrutar, interiorizar, se deixar emocionar pelo que se estava fotografando? Aquilo que eu estou vendo tem valor em si ou só vai ter valor e fazer sentido a partir dos comentários de quem viu as fotos?
Os dois cenários são reveladores: Temos pressa, nos desfocamos da realidade e não temos dimensão de futuro; somos imediatistas apressados, e assim perdemos a essência do presente porque nos desfocamos e perdemos a dimensão de futuro porque a pressa e a ansiedade nos consomem. As milhares de fotos que tiramos acabam encalhadas e encalhando os próprios aparelhos se não eliminamos grande parte delas de tempo em tempo. As futuras gerações, quando, em crianças, visitarem seus avós, já não terão aquelas caixas e mais caixas de fotos para olhar, comentar, fazer perguntas e ir reconstituindo o passado de sua família. É claro que, em algum arquivo virtual, em alguma nuvem, haverá fotos, mas vamos combinar que não é a mesma coisa!
Um grande pensador polonês, falecido em 2017 (Zygmunt Baumann), descreve a sociedade atual como uma sociedade líquida, porque temos pressa, somos imediatistas, não nos importamos muito com a reflexão e a memória, somos consumistas e vamos descartando pensamentos, reconhecimento, memórias, objetos. Basta dar uma espiada nas redes sociais para ver como isso funciona. E no momento temos exemplos muito bem acabados do uso das redes sociais por governantes que negam o passado, querem mudar a própria história, que dizem e desdizem coisas e que não têm perspectiva de futuro para a humanidade, esquecendo inclusive que seus próprios países fazem parte desse mundo em risco... Leis e convenções são torcidas, retorcidas, distorcidas – é o mundo líquido!
O texto bíblico proposto para a nossa reflexão de hoje tem bem outras dimensões, dimensões estranhas para boa parte do nosso mundo. Ouçamos Lucas 12. 32-40. Esta passagem abrange diversos aspectos da vida e da vivência de fé, que estão ligados entre si. A moldura do texto é a dimensão de futuro e de eternidade que está nas mãos de Deus. Não se trata de um suposto futuro que a gente proclama constantemente com palavras Deus acima de tudo; enviado de Deus, mas que se quer garantir com armas e autoritarismo. O futuro de Deus é e continua sendo de Deus e ele irromperá quando bem aprouver a Deus. Quem sabe, quando Deus vê as manifestações de bravura com os gestos de armas em punho, que se julga fazer em nome de Deus, ele se ri das ridículas criaturas, como o podemos ler no Salmo 2, 2: Ri-se aquele que habita nos céus; o Senhor zomba deles. Armas, distorções de leis, declarações autoritárias não vão impedir a vinda e concretização do Reino de Deus e muito menos vão antecipá-lo!
Um outro aspecto do texto é o da espera vigilante. Este chamado à vigilância desde o início e através da história da cristandade gerou muitos mal-entendidos: Fugir do mundo, retirar-se em fechados conventos, restringir a vida no mundo e na sociedade, fazer promessas e romarias. Se nós lermos o texto bíblico um pouquinho adiante nós vamos descobrir que Deus, nesse tempo de espera vigilante, confia pessoas e suas sociedades a quem espera, para que estes cuidem deles! Trata-se, pois, de uma espera ativa e responsável. Quem nutre a esperança pela realização plena do reino de Deus, da vinda do seu reino, vai ser ativo, vai ser MORDOMO FIEL E PRUDENTE (V.42) durante o tempo de espera. Isso, em nossos dias, implica e não se deixar levar de roldão pelas enxurradas a sociedade líquida e significa colocar-se em defesa de quem está ameaçado de ser arrastado como vítima das enxurradas provocadas por poderosos políticos, religiosos e donos da maioria dos bens e riquezas do planeta. É preciso dizer que todos os seres humanos são criaturas de Deus e têm dignidade própria, dignidade que não é conferida por uma raça, uma religião, um partido político, uma ideologia, sexo ou cor da pele, e que todos têm direito a uma vida digna.
Temos que convir que essas palavras de Jesus nos colocam em uma situação muito complicada, tanto que não poucas vezes somos tentados a deixar de ser vigilantes, ou porque o Reino de Deus nos parece muito distante ou, então, porque vemos progredir o mal e as injustiças... Seria mais fácil e confortável – assim no vem à cabeça - aderir ao jeito de agir do nosso mundo líquido, entrar a onda sem muitos escrúpulos ou remorsos. Às vezes é duro conviver com a advertência de que ali onde está o nosso tesouro, ali também estará o nosso coração, quer dizer, não podemos fazer de conta. Ou nos comportamos como mordomos fieis e prudentes ou vivemos de forma egoísta e egocêntrica que busca levar e tirar vantagem de todas as situações. A questão é se estamos afim de apostar na causa do Reino de Deus com todas as consequências. Não será fácil nem tranquilo, mas temos a nosso favor a promessa do primeiro versículo que ouvimos: Não temais ó pequenino rebanho; porque vosso Pai se agradou em dar-vos o seu reino. Que nosso bom Deus ajude a viver com esperança e fidelidade em tempos líquidos e incertos!
Que o amor de Deus, que excede todo o nosso entendimento, guarde nossos corações e pensamentos em Cristo Jesus.
Amém.