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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

15º Domingo após Pentecostes, 22.09.2019

Predigt zu Lucas 16:1-13, verfasst von Leonídio Gaede

Prezada Comunidade

- I -

Muralhas, paredes, cercas e divisórias têm razão de ser? Na década de 1980 aprendemos a cantar com as comunidades no Brasil o hino “Utopia”, gravado pelo cantor Zé Vicente. Ele diz em uma parte que vamos cantar “quando as cercas caírem no chão, quando as mesas se encherem de pão, ... quando os muros que cercam jardins, destruídos, então os jasmins vão perfumar”. Não resta dúvida, havia a opinião de que existiam muros e cercas que impediam o cantar alegremente. O contexto era a existência de muitas famílias que queriam ter acesso a uma casa para morar e à terra para plantar. Propunha-se uma reforma agrária e uma reforma urbana.

As reformas não aconteceram na proporção que desejavam os movimentos sociais que a propunham. Houve, porém, cercas que caíram e muros que foram destruídos. Grandes fazendas foram desapropriadas e importantes assentamentos foram feitos. Hoje famílias assentadas, graças a esse movimento, sustentam, por exemplo, o título de maiores produtores de arroz sem agrotóxico na América Latina. São eles responsáveis por colocar no mercado consumidor interno e até externo um variado estoque de alimento de origem agroecológica.

Falando quase ironicamente, estamos hoje no ponto de precisar pedir ao Zé Vicente que mude a letra de sua música, dizendo que vamos poder cantar felizes quando forem erguidos muros e cercas ao redor dessas iniciativas que produzem alimento sem veneno neste país que é campeão em uso de agrotóxicos. Poderemos cantar felizes quando a Constituição Federal de 1988, que manda criar e demarcar áreas de preservação ambiental e indígenas, de fato representar cerca e muro que evitam a invasão de grandes mineradoras e criadores de gado. Poderemos cantar felizes quando existirem grandes e fortes muralhas ao redor dos lagos de dejetos amontoados por mineradoras, que, por falta de muros adequados, recentemente soterraram povoados inteiros, matando centenas de pessoas (1) (2).

- II -

Talvez seja por motivos semelhantes que a parábola de Jesus menciona elogios a um homem que, em seu ofício, resolveu, simbolicamente falando, construir muros, muralhas ou cercas. O administrador tinha sido infiel justamente por ter desrespeitado os limites que os preceitos morais e a ética impunham à atuação dentro dessa cadeia de relacionamentos que incluía um proprietário de terras, um administrador de arrendamentos, arrendatários e um grupo de viúvas, órfãos e estrangeiros, que por serem desapropriados, tornavam-se catadores, defendidos por lei, conforme Deuteronômio 24.19-22.

O proprietário das terras vivia distante, mas conhecia a lei e era praticante da misericórdia. Sua longínqua propriedade o fazia cantar de alegria quando muros e cercas cumpriam sua função: o arrendatário trabalhava com a garantia de produzir num contexto em que as entregas por conta do arrendamento não ameaçavam a continuidade do seu posto de arrendatário. A reprodução do sistema fazia o proprietário cantar de alegria porque garantia a continuidade da renda a partir da propriedade. A denúncia que chegou ao proprietário

informava, porém, que o administrador tinha derrubado esse muro. O proprietário ficou sabendo que as cobranças do administrador iam além do possível. A continuar assim, não haveria cerca nem muralha que pudesse evitar a entrada dos arrendatários na categoria dos catadores. Mesmo supondo que o proprietário cumpria a lei que favorecia os catadores, ele estaria atentando contra o seu próprio reino, admitindo a tendência de transformar arrendatários em catadores. O longínquo proprietário não tinha como se alegrar com a queda do muro que separava essas duas categorias. O proprietário precisava de muros para evitar que arrendatários inflassem a categoria dos catadores.

Quando o administrador tomou conhecimento de seu iminente destino, percebeu que o muro por ele destruído - entre o proprietário e o administrador, entre o administrador e o arrendatário, entre o arrendatário e o catador – abria o caminho para ele próprio chegar a uma categoria na qual não gostaria e não poderia viver. É assim que ele se torna um construtor de muros. Esses muros evitam a sua entrada em ruína, evitam a entrada de arrendatários na categoria de catadores, o que tornaria esse grupo inflacionado. E assim o administrador recebe elogios do proprietário. Ele agora vê os muros, isto é, os limites de sua sede de rendimento, como possibilidade e proteção de sua vida, e não como impedimento de seus projetos de renda pessoal.

- III -

Nos versículos finais do texto que lemos hoje, Jesus comenta a parábola que contara. Fala então do relacionamento com o alheio. Riqueza de origem injusta (v11) é aquela que atravessou o muro e veio para o outro lado. É riqueza que chegou sem haver merecimento. Em seguida ele fala da fidelidade no relacionamento com o que é próprio e com o alheio (v12) e finalmente fala da impossibilidade de prestar serviço nos dois lados do muro.

A salvação que Cristo trouxe ao mundo, veio a nós do outro lado do muro sem mérito de nossa parte. Trata-se de uma obra consumada. Como tal não está sujeita a mudanças. Mas compreendemos o reino de Deus como “já agora e ainda não” realizado. Por isso estamos na situação de administradores a serviço do misericordioso proprietário ausente. E assim cabe-nos fazer a pergunta: Como estamos administrando esse alheio que veio a nós? Jesus diz que devemos fazê-lo de tal forma que sejamos acolhidos no tabernáculo eterno por amigos que lá nos esperam. Estamos construindo e derrubando muros no lugar certo? A olhar para o esgotamento dos recursos naturais do planeta, parece que estamos explorando os arrendamentos sem limites. Não há muros que cercam a sede de tirar ainda mais das fontes que já mostraram seus limites. Está na hora de o proprietário nos avisar que seremos demitidos. Talvez então façamos amigos com as riquezas ilicitamente tiradas dos arrendamentos da natureza e devolvamos a ela os 50% ou 20%, como fez o administrador da parábola.

Irmãos e irmãs, “os filhos deste mundo são mais hábeis do que os filhos da luz” (v8). Este é um chamado ao engajamento das pessoas cristãs nos assuntos de nosso mundo. Não podemos cantar alegres em nossos santos templos, deixando a tarefa de destruir e construir muros aos “filhos deste mundo”. Precisamos agir com esperteza, como o administrador infiel. Como “filhos da luz” somos chamados a ser luz exatamente nas trevas do mundo. Procuremos, pois, conhecer e ajuntar-nos com organismos que existem em nosso lugar de vida e que foram criados para frear, para colocar barreiras de impedimento, à atuação sem limites de grandes corporações transnacionais, que estão levando o planeta terra à exaustão.

Que a graça de Deus, que vem do outro lado do muro, nos dê sabedoria, esperteza e gratuidade para o engajamento da luz de Cristo na escuridão do mundo. Amém!



P.Me. Leonídio Gaede
Itati, Rio Grande do Sul, Brasil
E-Mail: leonídiogaede@hotmail.com

Bemerkung:
(1) Ao invés dessa inversão no significado do muro, pode ser citado como exemplo que existem diversas cidades cercadas com muralhas na Europa e na Ásia, obras realizadas em sua maioria entre os séculos XII e XVIII com a finalidade de reter inimigos, quando estes atacavam com arco e flecha. Tratava-se de um empreendimento contra a visita de estranhos. Hoje em vez de reter o inimigo, essas muralhas atraem turistas. Trata-se agora de um empreendimento para atrair estranhos.

(2) Hoje existem também os muralhas e cercas construídas com a finalidade de barrar a passagem de pessoas pelas fronteiras entre países, enquanto que as mercadorias -cruzam sem dificuldade.



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