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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

17º Domingo após Pentecostes, 06.10.2019

Predigt zu Lucas 17:5-10, verfasst von Antonio Carlos Oliveira

Querida comunidade: Frases do tipo “parabéns você mereceu a vitória” e “fulano recebeu o que merecia” são comuns aos nossos ouvidos.  A valorização do mérito está muito presente na sociedade em que vivemos e para muitas pessoas ela representa um jeito mais justo de viver.  Na meritocracia teoricamente cada pessoa recebe segundo o seu empenho, seu conhecimento, sua capacidade. Mas sabemos que não é bem assim, por trás de uma fachada de “honra ao mérito” se escondem muitas vezes, fraudes, privilégios, nepotismo, injustiças.

 

É fato que as relações de meritocracia nos tocam, estamos sempre nos autoavaliando e avaliando às outras pessoas, quer seja no trabalho, na escola, na família e até mesmo na igreja. Nossa compreensão sobre pagamento, premiação, retribuição e compensação está intrinsicamente relacionada com a valorização do que as pessoas fazem ou deixam de fazer. Automaticamente, seguindo esse raciocínio, já não são as coisas ou atitudes que têm valor. Mas, as próprias pessoas passam a ter mais ou menos valia. Diz-se, por exemplo, que determinada pessoa não “vale nada” ou que esta outra pessoa não merece isso ou aquilo.

 

Nesta mentalidade meritocrática pode estar presente uma compreensão de que o próprio Deus também age baseado no mérito das pessoas, concedendo bênçãos ou castigos a partir das ações das pessoas.  Nesse caso, a salvação e a vida eterna passam a ser prêmios a serem conquistados ou “comprados” ao longo da vida. Essa ideia não considera a onipotência de Deus e a justificação por graça e fé.

 

Lutero ensinou sobre o Deus que compreende as fraquezas e as limitações humanas. Segundo Lutero é impossível para o ser humano merecer por seus próprios méritos a salvação. Deus, no entanto, age com graça e misericórdia. À pessoa cabe ter humildade e confiar em Deus. A doutrina da justificação por graça e fé reforma o nosso modo de pensar, nela a meritocracia não tem vez. Entendemos que tudo que recebemos de Deus é graça preciosa e misericórdia. Isso não é mérito nosso, mas por causa do que Jesus fez por nós na cruz. Saber disso nos ajuda a entender melhor as pessoas, aceitar suas falhas e perdoar os seus erros. A graça de Deus nos motiva a praticar a misericórdia com as pessoas que nos cercam fisicamente no dia a dia e também com outras pessoas com as quais só temos contato através das redes sociais na internet.

 

O pedido que os apóstolos fazem a Jesus “aumenta-nos a fé” é semelhante a outro pedido “ensina-nos a orar” (Lc 11.1). Podemos entender que o desejo dos apóstolos era ter uma melhor capacitação ou formação nesses assuntos para enfrentar com mais segurança os desafios apontados por Jesus. O que, diga-se de passagem, é muito importante e válido. Jesus está a cada passo ensinando, capacitando, formando os que o seguem e preparando seus discípulos e suas discípulas (Lc 10.39). Os próprios apóstolos têm a missão de ensinar outras pessoas a respeito do que Cristo ordenou (cf. Mt 28.20). Mas, certos aspectos da meritocracia podem estar camuflados neste piedoso pedido. Melhor preparação, mais conhecimentos, bajulação, seletividade, concessões. Tudo isso para, quem sabe, alcançar melhores posições como revela outro pedido “Manda que, no teu reino, estes meus dois filhos se assentem, um à tua direita, e o outro à tua esquerda” (Mt 20.21).  Porém, Jesus aponta em outra direção “quem quiser ser o primeiro entre vós será servo de todos” (Mc 10.44). A fé é um dom e não apenas uma formação sistemática. A fé mesmo que pequenina como um grão de mostarda, a menor de todas as sementes (cf. Mc 4.31), deve ser acolhida, plantada e cultivada na vivência comunitária. Nesse ponto, não se trata, de ter ou de conseguir um pouquinho de fé, mas de se dar conta de que Deus nos concede a fé para que ela seja transformação, vida e serviço.

 

A fala de Jesus ainda nos guarda um conselho difícil de cumprir. Considerar-se diante de Deus um “servo inútil” depois da dedicação total ao trabalho parece um duro golpe em nossa autoestima. Quem em não se tratando de falsa modéstia diria isso? Quem publicaria isso nas suas redes sociais? Isso parece ilógico e contraproducente. É melhor ostentar nossas altas notas, títulos e o “orgulho de ser bom”. Inclusive perdemos a noção do que significa ser um servo ou uma serva. Queremos a posição de líderes ou chefes e não ser reconhecidos como serviçais. No mundo que erroneamente valoriza só as aparências saber-se verdadeiramente um “servo inútil” de Jesus Cristo é um grito de liberdade e uma confissão genuína de fé.

 

O sino pode ser usado como um símbolo nesta celebração. A meu ver ele pode representar o serviço humilde de chamar para algo importante. Segundo dados históricos, os sinos foram inventados pelos chineses há aproximadamente 4.600 anos e desde então usados como meio de comunicação no mundo todo, marcando o início e fim de atividades, sinalizando as horas do dia, avisando situações de perigo e emergência. A palavra sino vem do latim signum, que significa sinal. No cristianismo os sinos começaram a ser usados por volta do século V. Feitos em metais como bronze, cobre ou estanho inicialmente foram empregados nas igrejas da Europa e depois levados a outros continentes. Diversas denominações cristãs usam sinos nas torres de seus templos, entre elas as igrejas luteranas, católicas, ortodoxas e anglicanas.

 

Para que serve o sino? Ele toca no início e final do culto, durante o Pai Nosso, comunica sepultamentos e casamentos, avisa em casos de emergências. Similares ao sino têm as sinetas ou campainhas que são utilizadas nas escolas e nas empresas para avisar as pessoas o início e o fim das atividades. As casas e os apartamentos têm campainhas para indicar quando alguém nos procura. Algumas pessoas que criam animais no campo têm o costume de colocar pequenos sinos no pescoço das vacas ou das cabras para indicar sua posição em meio à vegetação. E ainda existe o fato de que muitas pessoas carregam um sino no bolso ou na bolsa na forma de um telefone celular que tem os toques da campainha e do despertador.

 

Podemos entender o sino como um símbolo para falar de vocação, humildade e liberdade. Sob o ponto de vista da vocação o papel do sino é chamar (do latim vocare) as pessoas para algo mais importante que ele próprio. Quando ele toca as pessoas não vêm para vê-lo. As pessoas vêm porque algo vai acontecer. Por exemplo, o início do culto, o começo da aula. A campainha anuncia que alguém quer falar, alguém quer entrar na casa. O despertador toca porque alguém precisa acordar. Quanto à humildade podemos entender que sino cumpre uma função importante, mas que ele não é imprescindível. As atividades podem acontecer sem ele. As pessoas cristãs são assim como “sinos” que sinalizam para Jesus Cristo. O verdadeiro valor não está em nós ou no trabalho que desempenhamos, por mais importante que seja, mas está naquele para o qual “chamamos”, ou seja, Cristo.  Isso nos dá liberdade, nos livra da vaidade, da meritocracia e da autorrealização. Ao entender a graça e a misericórdia de Deus podemos fazer bem o nosso trabalho, sabendo que somos servos e servas de Deus.

 

Que a graça e amor de Deus que excede todo o entendimento guarde os vossos corações em Cristo Jesus, nosso Senhor e salvador. Amém!



Pastor Antonio Carlos Oliveira
São Leopoldo, Rio Grande do Sul, Brasil
E-Mail: antonio.ieclb@gmail.com

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