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ISSN 2195-3171

ÚLTIMO DOMINGO DO ANO, 29.12.2019

Predigt zu Mateus 2:13-23, verfasst von Pedro Alonso Puentes Reyes

Título: Deus em nosso ambíguo mundo 

Introdução

Segundo o calendário litúrgico ainda estamos no ciclo do Natal. Isso significa que Natal não se esgota com a comemoração do nascimento de Jesus. Este ciclo ajuda a enxergar a extensão do evento no qual Deus entra na história e faz morada entre nós. Com isso o texto da prédica alerta para não cairmos numa infantilização do Natal nem na proclamação de um otimismo barato, que não se sustenta perante a crua realidade do nosso mundo. 

De alguma forma o texto está na contramão daquele “turismo religioso” que procura por lugares “especiais”, como se fossem portais para se conectar com o sagrado. O evangelho anuncia que Aquele que fez morada entre nós permanece sempre conosco. Os três locais mencionados (Belém, Egito e Nazaré) apontam para esse fato: que não importa o lugar aonde a gente vá, Deus caminha junto de nós. Vejamos aqueles lugares.

Belém - O lugar da vida e da ameaça

O evangelho coloca Belém como o lugar onde a vida e a esperança são afirmadas, com o nascimento de uma criança. Desta forma, Belém é o lugar do sim de Deus para a vida, que mesmo em circunstâncias complicadas  abriu seu caminho para nascer numa manjedoura. Essa vida, assim como toda vida, foi profundamente celebrada nos céus e na terra, pelos anjos e pastores. Belém é o lugar onde se reafirma a bênção e esperança na humanidade. Mesmo assim, Belém é também o lugar onde essa vida é ameaçada, e massacrada. Herodes não poupa esforços para matar o filho de Maria e José, e muitas crianças pagam pela sua loucura pelo poder. Abruptamente, Belém passou de lugar da vida e aconchego para o local da ameaça e morte da vida. Perante tamanha ameaça a pequena família foge e se torna imigrante e refugiada num outro país. O feliz Natal virou assassinato de crianças e fuga.

Belém é um fiel reflexo da ambiguidade dos lugares onde nós moramos. É nas cidades, vilas e bairros que a vida acontece: família, trabalho, amizades, igreja e toda a alegria da vida. Mas, também, é lá onde acontece a violência e a morte em suas diversas formas. Quem de nós já não teve essa experiência? Aqueles lugares, onde uma vez a vida borbulhava, com alegria e segurança, hoje se tornaram espaços onde a vida é vivida com medo, ameaça, violência e morte. Lugares dos quais é necessário fugir para preservar a vida. 

Mesmo nesta Belém, ambígua e contraditória, Jesus – Deus conosco- está presente e partilha da mesma sorte das pessoas que a habitam.   

Egito – O Lugar da proteção e da escravidão

Na história bíblica o Egito é o lugar onde há salvação e proteção. Sendo o celeiro do mundo antigo é para lá que se foge da fome, para preservar e sustentar a vida. É para esta terra que fogem Abraão e Sara, Jacó e seus filhos e, também, a pequena família refugiada: Maria, José e Jesus. Sim! Sem dúvidas o Egito é uma boa terra para quem migra. Sendo a terra da fartura é possível sonhar com um futuro e, por que não, com a desejada estabilidade e prosperidade. Contudo, Egito é também o lugar da escravidão

e da impiedade. A memória alerta que o Egito é o lugar onde tantas pessoas trabalharam, sofreram e morreram, sem alcançar o sonho. E, mesmo com essa memória latejando, a família refugiada vai até lá em busca de proteção e sustento. 

Egito se parece com nosso mundo de hoje, cheio de contrastes. Na procura de sustento e proteção da vida vamos atrás da “abundância” deste mundo, cuja acessibilidade está cada vez mais difícil para uma grande maioria. Muitos dos lugares onde se procura o sustento são verdadeiras arapucas: o que se ganha não cobre as despesas para uma vida digna. E quando se ganha o suficiente a manipulação da propaganda cria novas “necessidades”, propondo verdadeiras prisões por meio de esperanças falidas. Também aqui, em meio das trevas, Jesus –Deus conosco - nos acompanha. Sim! Foi em meio da escravidão no Egito que Deus ouviu os gemidos e se lembrou do seu povo. (Ex 2.24). Quer dizer, mesmo no fim do mundo, mesmo nos lugares mais obscuros e onde sustento e exploração são misturados, Deus está presente. E desde lá nos chama para sairmos da escravidão. 

Nazaré – O lugar do crescimento: a periferia

Nazaré é o lugar onde a família se instala ao retornar do Egito. Mas, Nazaré não é a Jerusalém: centro político, religioso e intelectual. Nazaré é pequena e de pouca importância, como alega Natanael (Jo 1.46). É um lugar comum, onde Jesus torna-se um trabalhador comum no ramo da carpintaria (Mc 6.1-6). Entretanto, essa insignificância aos olhos de muitas pessoas é o lugar onde Deus está presente. Pois é ele quem faz com que Jesus cresça, fique forte, amadureça em sabedoria e seja abençoado (Lc 2. 30-40). A sem importância vila de Nazaré é um lugar paradigmático. Nela estão presentes todos os lugares comuns, sem importância, que há neste mundo. O significativo destes lugares comuns é que Deus está presente e agindo, como diz o salmista: “Da boca de pequeninos e crianças de peito suscitaste força”. (Sl 8.2). Nazaré, a beirada do mundo (a periferia) é o lugar onde “Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são, a fim de que ninguém se glorie na presença de Deus”. (1Co1.28-29)

Palavras finais

Despedimos o ano que se foi e nos preparamos para enfrentar o novo ano com todos os seus desafios. O evangelho nos diz que podemos entrar neste novo ano com plena confiança, porque Deus circula entre nós. Que mesmo naqueles lugares cheios de contradições e ambiguidades, Deus está conosco. Natal é a afirmação de que o ser humano não está só nos caminhos desta vida. Mesmo naqueles vales de sombra e de morte temos sua presença, sua palavra, sua bênção. Que esta palavra do evangelho nos inspire para viver em nossos lugares com criatividade e coragem, esperança e amor, que vem da fé. Amém.