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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

Domingo passado depois da epifania, 02.02.2020

Predigt zu Mateus 5:1-12, verfasst von Ilmar Kieckhoefel

Irmãs e irmãos em Cristo.

 

A cada passagem de ano, a maioria das pessoas reafirma o desejo de sucesso. Ninguém, por exemplo, adentra um novo ano, nem se aventura num novo emprego, estudo, empreendimento, novo relacionamento, esperando que isto lhe trouxesse menos alegrias do que as experiências anteriores. Afinal, sempre buscamos tempos melhores e promissores; idealizamos e esperançamos por algo novo, restaurador, espetacular. 

 

No exagero de nossos desejos e expectativas, expressamos também nossa maior angústia, o medo do fracasso, o medo da infelicidade! Pois, num mundo em que a tão desejada felicidade parece estar constantemente ameaçada, sua busca incessante torna-se algo quase desenfreado, porque faz parecer que há uma obrigação inconsciente de sermos felizes o tempo todo. De preferência, que ainda mostremos nossa alegria aos outros, na tentativa de convencê-los a nosso próprio respeito, nas redes sociais. 

 

Na contramão dessa tendência, a impressão que fica é que temos dificuldades para lidar com a dor, o sofrimento, a solidão, o luto. Afinal, todas as pessoas querem ser felizes e é bom e justo que assim o seja! Todavia, não somos, nem seremos felizes o tempo todo. A cada novo ano, a cada nova experiência que fizermos, e isso valerá para toda a nossa existência, inevitavelmente passaremos por novos desafios, surpresas, medos, chateações, doenças, talvez mortes... 

 

Evidente que Deus nos criou para a alegria! Sim, “a alegria de Deus a nossa força é” (Ne 8.10). Compreendo a frase de Jesus: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10.10) igualmente sob o viés da felicidade. “Felicitas” que vem do latim, e significa o estado de espírito no qual sentimos uma vibração intensa, força, vitalidade, prazer, satisfação. Felicidade, no entanto, não pode ser compreendida apenas em termos privados, individuais. Conforme o ensinamento de Jesus, somente na sua partilha, no coletivo, no altruísmo, no amor às outras pessoas é que verdadeiramente completamos nossa própria felicidade. 

 

Como já mencionado, não deveríamos ser pessoas ingênuas ao ponto de imaginarmos que a felicidade seja um estado garantido, permanente, pronto. Em absoluto; alegria precisa sempre ser recriada, reencontrada nas coisas mais singelas, e resignificada! O desafio, portanto, está em encontrarmos longanimidade (fôlego duradouro), razões e motivação para sentirmos realização de vida, até mesmo quando os êxtases de alegria forem mais tímidos. Isso é importante ser lembrado numa época marcada pela realidade de pessoas que lidam com a doença de tristezas profundas. 

 

Sem dúvida alguma, “alegria é um dos frutos do Espírito de Deus” (Gl 5.22), tanto que na homilia da montanha Jesus tratou do tema das bem-aventuranças de forma

significativa. Na Sua prédica sobre a felicidade, o Mestre fez referência a um conjunto de bênçãos atribuídas a pessoas com características que apontam para essa virtude. Trata-se de nove declarações sobre perfis, valores de pessoas 1) que se reconhecem como humildes, 2) que choram, 3) que são mansas, 4) que zelam pela justiça, 5) que são misericordiosas, 6) que são limpas de coração, 7) que são pacificadoras, 8) que são perseguidas por um ideal e 9) que são insultadas em virtude do seguimento a Cristo.

 

Humildade parece ser a característica de pessoas que reconhecem suas próprias limitações e, por isso, evitam atitudes de arrogância, pois se sabem complementares, interdependentes. Já a compaixão é a capacidade de sentirmos junto, de nos colocarmos no lugar de outras pessoas. E mansidão tem a ver com luta não violenta, equilíbrio emocional, bondade. Empenhar-se por justiça certamente é dos mais nobres princípios a serem cultivados e resgatados, a fim de não sermos tornados coniventes do mal. Misericórdia é o que precisamos de Deus e, por extensão e sobrevivência, também de outras pessoas; é salutar que a pratiquemos em relação à miséria alheia e para com toda a Criação – é como se colocássemos o nosso coração nas dores deste mundo! Porque um coração puro, compassivo, sensível, sabe que necessita da graça divina, pois está inevitavelmente exposto a tentações e à imperfeição. Nesse contexto, pessoas pacificadoras são uma verdadeira bênção; são aquelas pessoas que não estimulam para o conflito ou a guerra, mas se empenham pelo Shalom integral, consciente e consistente. Porque provavelmente haverá alguma perseguição e insulto, como conseqüência, como preços do seguimento – “Se alguém quer vir após Mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-Me” (Lc 9.23); pois, “ai de mim, se não o faço; como escapar de Ti!” (do chamado e profecia de Jeremias).

 

Por isso, na abrangência do conceito de felicidade, Jesus não apresenta uma vida fácil, tampouco uma receita fácil de alegria, nem mesmo milagrosa; antes, Ele nos desafia a uma vida dedicada e trabalhosa. Mesmo assim, quem não quer a satisfação de vida; quem não deseja a felicidade?! Óbvio que não faz sentido buscarmos uma vida feliz, a qualquer preço, em qualquer lugar aparentemente confortável, seja no abandono de princípios éticos ou de coisas semelhantes. Justificar a felicidade sujando as mãos, vendendo a alma, abrindo mão do caráter – não pode ser sinônimo de realização plena. Tripudiar sobre a felicidade ou tristeza alheia, limitá-la, tolhê-la, significa comprometer a realização com a própria existência. 

 

Graças a Deus, Jesus considerou feliz a pessoa que se encontra consigo mesma, com Deus e com os seus semelhantes. Possivelmente, hoje, Jesus acrescentasse a bem-aventurança do cuidado para com toda a criação divina na sua lista de itens a serem observados! O que importa, é que para Jesus a pessoa bem-aventurada é aquela que dignifica sua própria história, a partir do lidar com outras pessoas e as histórias de vida delas. Portanto, sensibilidade, humildade, compaixão, senso de justiça, resistência, resiliência, são alguns dos indicativos de pessoas bem encontradas.

 

O sermão que Jesus proferiu aos discípulos e para toda aquela multidão ávida por receitas de satisfação, no alto da montanha, serviu como  desafio para o retorno dessas pessoas à planície, símbolo da vida delas no dia-a-dia. Porque é lá, na existência muitas vezes trivial, com ou sem grandes espetáculos, que os ensinamentos,

aprendizados e ideais precisam ser testados e aprovados. Nossa vida é uma seqüência de etapas a serem vencidas! Justamente por isso, exercitemos a capacidade para interpretarmos tudo de forma mais sábia, tal qual pretende o ensinamento bíblico: “Todas as coisas cooperam para o bem das pessoas que a Deus amam!” (Rm 8.28)

 

O caminho para esse aprendizado é longo; assim como pode ser para a felicidade! O próprio Martim Lutero precisou de tempo para isso. Ele passou por períodos difíceis na sua vida, especialmente aqueles nos quais havia interiorizado a imagem de um deus punitivo e vingativo, atento unicamente às suas “pisadas de bola”, falhas e pecados. Nesse período, Lutero foi alguém profundamente triste, infeliz, decepcionado e desesperado. Depressivo! Tentou agradar a Deus, de todas as formas, através de sacrifícios e até rituais de mortificação, mas não teve êxito para com sua alma, nem paz para sua consciência. Não encontrou tranqüilidade, tampouco a desejada felicidade. Somente graças à redescoberta do Evangelho do Amor de Cristo, Lutero aprendeu a ser feliz, pois compreendeu que “a pessoa justa viverá pela fé” (Rm 1.17). Fé que naturalmente conduzirá à gratidão, a boas atitudes, a obras de generosidade e compaixão, justiça, e consequentemente nos aproximará da verdadeira felicidade! Lutero descobriu que Deus também ri e que é repleto de misericórdia, e deseja que também sejamos pessoas bem felizes, não a qualquer preço, mas ao preço da dignidade de Cristo. 

 

Independente de condição social, nível de escolaridade, raça, cor, sexualidade, todo ser humano tem necessidade de saber-se uma pessoa acolhida, aceita, bem-aventurada, amada, para igualmente poder amar. Nem todas as pessoas alcançam esse ideal sozinhas; algumas perdemos pela metade do caminho, simplesmente porque carecem de forças internas para alcançá-la, mas nós temos a responsabilidade de, com a graça divina, nos importarmos e cooperarmos para uma felicidade digna e o mais abrangente possível. Jesus falou lindamente sobre a felicidade e, desta forma, resumiu Seu Evangelho nessa que é considerada Sua maior pregação. Jesus recomendou que as virtudes das bem-aventuranças fossem pedidas em oração e exercitadas, pois elas têm o poder de transformar o mundo, as outras pessoas e a nós mesmos. Ou seja, sermos pessoas que se aventuram na construção da felicidade traz resultados, recompensas para todas e para todos!

 

Sigamos, pois, por esse caminho, ao longo de 2020, e por toda a nossa vida. Sejamos pessoas inspiradas nesse projeto de satisfação, ancoradas e movidas pela fé em Jesus Cristo, e que nossa satisfação nesse propósito inspire e desafie outras pessoas para um serviço semelhante. Porque as bem-aventuranças exigem de nós disposição, nova consciência, novas posturas.  E existem resultados que nós não enxergaremos no nosso tempo, mas nossas ações serão feito sementes para o amanhã. Bem disse  Martim Lutero: “Mesmo se eu soubesse que morreria amanhã, ainda hoje plantaria uma árvore!” Isto significa que, a sombra dos meus bons atos, os frutos do meu envolvimento na causa do Reino de Deus servirão para alguém abrigar-se, saber-se uma pessoa motivada, amada. Plantemos fartamente destas mudas de felicidade! Jesus nos deixou a fórmula do êxito e do cultivo: “Alegrem-se e cantem, porque será grande a vossa recompensa...” (Mt 5.12). Vivamos o significado do sermão da montanha e colhamos bênçãos! 

 

Deus no ajude. Amém.



Pastor Ilmar Kieckhoefel
Sapiranga – Rio Grande do Sul, Brasilien
E-Mail: ilmarkieckhoefel@gmail.com

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