Göttinger Predigten

Choose your language:
deutsch English español
português dansk

Startseite

Aktuelle Predigten

Archiv

Besondere Gelegenheiten

Suche

Links

Konzeption

Unsere Autoren weltweit

Kontakt
ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

6º Domingo após Epifania, 16.02.2020

Predigt zu Mateus 5:21-37, verfasst von Geraldo Graf

Irmãos e irmãs em Cristo!

 

Ao sermos confrontados com os mandamentos, provavelmente já fomos tentados pelo seguinte pensamento: “Eu nunca matei, jamais cometi adultério nem menti caluniando as pessoas. Então estes mandamentos nada têm a ver comigo”. Porém, ao lermos as palavras de Jesus no Sermão do Monte e nos lembrarmos das explicações dos mandamentos, feitas por Martim Lutero no Catecismo Menor, sentimo-nos abordados por aquele “MAS”, que contrapõe o NÃO. Eles nos conscientizam de que, para cumprir os mandamentos, não basta não ter cometido uma infração dos mesmos. Também quando deixamos de praticar o bem, tornamo-nos igualmente infratores dos mandamentos. É disso que Jesus fala em Mateus 5.21-37.

Jesus “revisita” os mandamentos (Êxodo 20 e paralelo) dando a entender que não basta ter o conhecimento dos mesmos e não colocá-los devida e integralmente em prática.  Jesus também faz uma crítica severa aos fariseus e intérpretes da lei por exigirem o cego cumprimento de toda a lei como requisito de uma vida em santidade, para poder contar com a amizade de Deus. Porém, os mesmos não estavam dispostos a cumpri-la a partir da misericórdia e da bondade divina.

Em Mateus 5.17, Jesus afirmara que não veio revogar leis e mandamentos, mas para cumpri-los integralmente dentro do propósito do amor de Deus. Jesus propõe que as pessoas desfoquem mais de si mesmas e voltem sua atenção para o bem do próximo como critério de cumprimento dos mandamentos. Os mandamentos tinham, e continuam tendo, o objetivo primordial de definir e conduzir a boa e justa relação entre as pessoas e Deus (amor, obediência, confiança  e fidelidade a Deus) e as relações inter-humanas (amor ao próximo, convivência justa, defesa de uma vida digna para todos, relação respeitosa coma a natureza).

Tanto quanto na época de Moisés, quando os mandamentos foram apresentados ao povo da Antiga Aliança, quanto na época em que Jesus Cristo proferiu o Sermão do Monte, como também em nossa época, os mandamentos sempre tiveram o propósito apontado por Jesus e bem compreendido por Martim Lutero: De não apenas evitar o mal, mas de praticar o bem. Os mandamentos são de vital importância para uma vida sob o temor, o amor e a confiança em Deus, e para uma comunhão plena com todas as pessoas.

Na atualidade, nós vivemos na era dos “Fake News”, das meias verdades, da inversão dos valores. O que existe de pior no coração das pessoas é trazido à tona como se isso fosse a autêntica expressão de uma ética cristã. E pior, as pessoas acreditam nisso. Criticam e rejeitam o alerta bíblico dos sermões dominicais como sendo discurso ideológico de esquerda. Crescem assustadoramente práticas que se pensavam banidas: O neonazismo, o uso indiscriminado de armas de fogo (no último semestre, o Brasil novamente bateu recorde de tiroteios, de homicídios e feminicídios). Cresce potencialmente a crise conjugal e familiar. As músicas mais tocadas nas mídias abordam temas como sofrência, traição e adultério. As pessoas não querem mais compromisso duradouro, apenas aventuras passageiras. Há uma sistemática doutrinação do povo nas redes sociais via Fake News. A autêntica ética cristã é atacada como sendo discurso marxista. A agressividade e a maledicência são os temas mais concorridos. As pessoas se recolhem cada vez mais em seu individualismo, o que dificulta uma vida em comunidade e sua consequente prática comunitária dos mandamentos divinos. Uma das mais gritantes cenas de inversão de valores aconteceu durante a “Marcha para Jesus”, no ano passado, quando lideranças de alguns grupos neopentecostais fizeram o gesto da “arminha”, repetido calorosamente pela multidão presente. E tudo em nome de Jesus!

O texto bíblico de Mateus 5.21-37 foca três mandamentos: Não matar (v. 21), Não adulterar (v.27) e jurar falsamente (v.33). Nós os conhecemos como quinto, sexto e oitavo mandamentos. Aos mesmos, Jesus acrescenta valores, que vão muito além do mero conhecimento ou de sua prática parcial, destoada e desfocada do amor a Deus e do amor ao próximo. Fazendo frente ao jeito como a lei era interpretada e cumprida, Jesus tem uma atitude de ruptura por um lado, mas de continuidade por outro. Ele rompe com as interpretações erradas, que se trancam na escravidão da letra (prática dos fariseus) e reafirma o objetivo verdadeiro dos mandamentos, que é: serem praticados sob a ótica do amor divino.

De acordo com Jesus, não basta evitar o assassinato, mas é preciso arrancar de dentro de si tudo aquilo que faz gerar o crime: raiva, ódio, xingamento, ofensa, vingança. Quem fica com raiva de alguém merece a mesma condenação de um assassino. O próprio xingamento é considerado por Jesus uma falta grave contra o próximo. Tirar de dentro de si todo e qualquer sentimento de ódio é caminho para a perfeição do amor, objetivo final dos mandamentos. Jesus insiste na reconciliação. Quando não conseguimos perdoar, cometemos falta grave diante de Deus e prejudicamos a comunhão com o próximo.

Na época, o ideal religioso era “ser justo diante de Deus”. Os fariseus e os intérpretes da lei ensinavam que a pessoa alcança a justiça diante de Deus ao observar toda a lei. Isso provocava profunda angústia nas pessoas, pois era impossível alcançá-lo. Para Jesus, a justiça não vem através daquilo que nós fazemos para agradar Deus, mas através do profundo amor com que Deus nos trata, acolhendo-nos como filhos e filhas. O cumprimento dos mandamentos não acontece através de uma desesperada tentativa de querer agradar Deus, mas como resposta de gratidão por tudo o que Deus faz por nós.  Somos justos diante de Deus ao desfocarmos de nós mesmos e acolhermos e perdoarmos as pessoas da mesma forma como Deus nos acolhe e perdoa sem nosso merecimento, gratuitamente por meio de Jesus Cristo.

Da mesma forma são interpretados por Jesus o sexto e o oitavo mandamento (além de todos os demais mandamentos).  A lei antiga condenava quem cometesse flagrante adultério. Jesus vai além da letra e diz: “Todo aquele que olhar para uma pessoa com desejo de possuí-la, já cometeu adultério no seu coração”. Objetivo de Jesus é a fidelidade mútua do casal. Ela se torna completa, se os dois souberem manter a fidelidade mútua até em pensamentos e se souberem ser transparentes no seu relacionamento. Também não basta não jurar falso. Jesus vai além e afirma: “Não jure de modo algum. Diga apenas sim quando sim e não quando não”. Jesus propõe a radical honestidade.

Jesus deixa claro que nós não seremos salvos pela mera observância dos mandamentos. Eles devem sempre visar ao bom relacionamento com o próximo e à obediência e à gratidão a Deus. Observamos a lei por gratidão a Deus pela sua imensa bondade, que nos acolhe e salva sem nosso merecimento. Por graça somente!

A nossa vida deve ser regrada pela palavra de Deus, que nos ensina a cumprir os mandamentos a partir do amor de Cristo. A moral cristã é em primeiro lugar para o auto-exame da consciência e não para o julgamento dos outros. O moralismo, praticado pelos fariseus, impunha regras absurdas para os outros e não para si próprios. No Sermão do Monte, Jesus faz uma releitura da lei e dos mandamentos e diz: Não basta apenas não matar, não adulterar, não jurar falsamente. É preciso amar o próximo e querer bem, fazer tudo para que tenha uma vida digna. A ética cristã não se fundamenta sobre discursos bonitos e vazios. Ela se mostra na prática do amor de Deus. Esta é a mensagem que Jesus dirige para nós e nos convida para o cumprimento amoroso e pleno dos mandamentos.

Amém

 



Pastor em. Geraldo Graf
São José do Rio Preto, Brasil
E-Mail: g.graf@uol.com.br

(zurück zum Seitenanfang)