4º Domingo após Pentecostes

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4º Domingo após Pentecostes

Prédica para o 4º Domingo após Pentecostes – 28 de junho de 2020 | Mateus 10. 40-42 | Leonídio Gaede |

Prezada Comunidade

Certa vez fui presenteado com um banquinho de três pernas. O que me chamou à atenção no presente não foi o fato de se tratar de uma cadeira, um utensílio para sentar-se, mas o fato de ter três pernas. Desta forma percebi que, em minha concepção, uma cadeira normal é uma cadeira de quatro pernas. Meu amigo explicou que se trata de um móvel mais relacionado ao passado, a um estilo de vida rústico. Concluí então que houve uma evolução: o conceito de cadeira evoluiu de três para quatro pernas. A observar a quantidade de moveis existentes com quatro pontos de apoio, julgo que a evolução desse móvel quase extinguiu o seu antecedente. Em algum momento e por algum motivo ficou estabelecido que, para descansar as duas pernas de um ser humano, o utensílio mais adequado é uma cadeira com quatro pernas. O mercado passou a priorizar o assento com quatro pontos de apoio. Feita essa constatação, me veio a pergunta: por que fui presenteado com algo quase em desuso ou superado pela evolução no conceito de cadeira. A resposta veio pela explicação do meu amigo: o banco de três pernas se adapta a uma superfície irregular. (1)

(Ler o texto de Mateus 10. 40-42)

Via de regra, cada empresa, instituição ou organização tem relatada a sua missão em um planejamento estratégico. A missão relatada deve condensar a natureza da empresa, instituição ou organização. Também hoje aqui, na proclamação do evangelho, Jesus relata a missão dos discípulos que se tornam apóstolos. Essa missão cria uma unidade natural entre Apóstolo, Messias e Deus. (2)

Em meu tempo de infância, no interior de Minas Gerais, Brasil, nem todos os cultos da comunidade eram oficiados pelo pastor. Existia uma pessoa da comunidade designada, provavelmente pela direção da paróquia, para dirigir um encontro comunitário chamado culto de leitura. O oficiante era chamado de pregador leigo. Nesse culto não aconteciam batismos e não era celebrada a Ceia do Senhor. Este culto era menos frequentado pelos membros. Provavelmente, no chamado senso comum, existia uma escala de valores que mobilizava as pessoas mais para um culto e menos para outro. O valor maior ou menor podia tanto estar vinculado ao tipo de culto como também a quem o oficiava. Pode   parecer que ocorria aí um desvio da missão de Deus, conforme relatada por Jesus em Mt 10. Que os membros daquela comunidade não estavam sequer oferecendo “um copo de água fria” ao pregador leigo. A missão de Deus, relatada por Jesus evita, porém, colocar missionários e missionados em polos opostos. Não há o conceito de que os receptores da ação missionária são as pessoas erradas e que o agente da ação é o dono do que é correto. Não está dito que o missionário correto leva correção aos incorretos de sua área de missão.

Jesus afirma que entre os três – Deus, Enviado e Apóstolo – aquilo que é de um é também de outro: “Quem vos recebe, recebe a mim; e quem me recebe, recebe quem me enviou” (v 40).

O que é isto que é comum aos três? É o poder de realizar, a capacidade de absorver o sofrimento daí decorrente e a recompensa. (3)

O poder não é o poder em si, como proeminência, mas poder que significa poder fazer. Cada pessoa batizada pode. Cada crente pode. O poder não requer a instituição de uma quarta perna. O poder vincula-se ao sofrimento no sentido da capacidade de absorver as consequências de um fazer.

Quem anda por comunidades conhece pessoas que, do ponto de vista clínico, convivem com um maior sofrimento e têm um maior poder de realização comunitária do que outras pessoas que alegam o sofrimento como causa da falta de poder fazer. E justamente as pessoas com poder de realização comunitária têm a recompensa do alívio do sofrimento. “Se a lamentarmos, nossa dor somente ficará maior” diz o hino que, assim, testemunha a respeito da recompensa trazida pelo engajamento na missão proposta por Jesus.

Por isso a missão dos pequenos, a missão relatada por Jesus conforme Mateus 10, é a tarefa do poder de realização comunitária. O apóstolo e a apóstola, o missionário e a missionária estão na comunidade realizando a missão de Deus. Toda a missão acontece na comunidade, também aquela que consiste em ofertar dinheiro para sustentar a missão “até os confins da terra” (At 1.8). As três partes dessa missão são: viver, proclamar e testemunhar o Reino de Deus. A missão é viver o Reino; a missão é afirmar a sua existência; a missão é anunciá-lo a outras pessoas, para que estas também possam vivê-lo, afirmá-lo e anunciá-lo. (4)

Em linguagem de nossos dias podemos dizer que a missão de Deus consiste na vivência prática, na defesa teórica (retórica e parlamentar) e no marketing do Reino. Se pretendemos ser seguidores e seguidoras de Jesus na missão de Deus, tornando-nos apóstolos nos dias de hoje, é necessário que o nosso jeito de viver testemunhe a existência do reino de Deus. Não podemos viver por aí como se o reino de Deus fosse apenas um sonho pregado por Jesus; como se o reino de Deus fosse uma ideia interrompida pela condenação e morte de Jesus de Nazaré; como se o reino de Deus fosse apenas algo para depois de nossa morte. A missão de Deus relatada por Jesus em Mt 10 ensina a viver o reino de Deus em meio ao tumultuado mundo de hoje. Em segundo lugar, o nosso falar não pode só testemunhar a respeito de uma suspeita ou de uma hipótese de existência do Reino, mas pode proclamar a sua existência já agora. Nosso falar afirma que o reino de Deus é uma realidade dada, apesar da dimensão do ainda não plenamente realizado. E em terceiro lugar, nossa relação com outras pessoas não pode criar desconfiança quanto às implicações de viver a realidade do Reino, mas pode despertar vontade de experimentar a vivência dos seus sinais ou, dito de outra forma, pode despertar saudades do paraíso perdido.

Pelo menos uma causa de dificuldades missionárias nos dias de hoje consiste na evolução do conceito de missão de um banco de três pernas para um banco de quatro pernas. Às três pernas é acrescentada uma quarta, o que quer dizer uma espécie de terceirização da missão, uma profissionalização do fazer missionário. Evidentemente podemos fazer parte de uma missão, sem “botar as mãos na massa”, apenas ofertando dinheiro para uma instituição missionária que atua onde não podemos estar presentes fisicamente. Isto, porém, não nos libera de sermos um banquinho de três pernas que se adapta ao terreno irregular no qual estamos postos. A missão de Deus relatada por Jesus aos seus apóstolos, conforme Mateus 10, inclui a vivência de sinais do reino em nossa vida particular, familiar e social. Apesar de nossa consciência de que as obras não nos salvam, existem obras de misericórdia a serem vividas no nosso cotidiano. Apesar de o contexto de vida colocar em questão a existência de um reino de justiça e paz, cada dia aguarda de nós, não uma suspeita da existência do reino de Deus, mas sua proclamação inequívoca. O chão onde vivenciamos a fé cristã certamente tem irregularidades, e isso nos motiva a formular convites insistentes e permanentes para que outra gente experimente essa vivência conosco. Por isso permaneçamos com o nosso banquinho de três pernas. Deixemos a quarta para o terreno plano das instituições bem planejadas, que vão onde não podemos ir.

Amém.

P. Me. Leonídio Gaede

Itati – Rio Grande do Sul, Brasilien

leonidiogaede@hotmail.com

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