9º Domingo após Pentecostes

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9º Domingo após Pentecostes

Prédica para o 9º Domingo após Pentecostes – 02.08.2020 | Texto da prédica: Mateus 14.13-21 | Vera Maria Immich |

 

QUE A GRAÇA DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, O AMOR DE DEUS E A COMUNHÃO DO ESPÍRITO SANTO SEJAM COM TODOS. AMÉM!!!

 

Irmãos e irmãs!

Imaginem a seguinte cena: “um dia de muito calor em meio ao deserto. O sol brilha forte. A poeira é intensa. Há ali milhares de pessoas à procura de alguém, de alguma coisa. Estas pessoas procuram por vida. Elas estão famintas por pão. Aos poucos o Sol vai se pondo. Mas ninguém naquela multidão quer partir. Um pequeno grupo de 12 pessoas se reúne. São pessoas sensíveis e preocupadas com aquele cenário. Perguntam-se sobre o que fazer.” Vamos mandá-los para casa. Dizem uns. Deixemos que eles mesmos busquem ao seu sustento, afirma o outro. Outra voz, contudo, diz: “dai-lhe vós mesmos de comer.” Inicia então um grande milagre, ou melhor, uma sequência de milagres. Naquele deserto surge uma grandiosa visão. Uma visão para a qual ainda hoje olhamos. A visão de uma vida farta.

 

Prezada comunidade!

Comida partilhada, fome saciada, fartura. Esta passagem não é apenas o relato de um milagre, mas de vários milagres. Milagres que são uma visão do reino de Deus e que são aperitivos para a vida comunitária. Milagre que mostra que um pouco de pão e peixe podem ser transformados em muito, em fartura. Estes milagres mostram que a solução para os problemas estava com aquelas pessoas reunidas, tal como a solução para os nossos problemas está em nós mesmos, em meio à sociedade. Seja por mudança de vida, de hábitos, de atitudes. Tudo passa por nós mesmos.  A transformação começa conosco, com nossa ação e envolvimento. O primeiro milagre acontece quando Jesus encarrega os discípulos, para que eles mesmos “deem de comer àquela multidão ali reunida”.

 

Nesta narrativa, há duas propostas para resolver a fome das multidões:  Os discípulos, e nós hoje, muitas vezes seguimos a lógica do dinheiro: despedir a quem tem fome para que, de forma individualista, compre comida para si, como lemos em  Mt 14.15. Essa não é uma solução justa, pois certamente eram poucos os que tinham dinheiro. E o projeto dos que controlam o dinheiro não é solução para a fome do povo, como constatamos ainda hoje em nossa realidade.

A solução que Jesus propõe é outra. E ela está em nossas mãos: Dai-lhes vós mesmos de comer  (Mt 14.16). Jesus não permite passar o problema pra frente. Lavar as mãos e fazer de conta que não me diz respeito. A solução que Jesus propõe passa pelas pessoas, pela generosidade, pela liberalidade que também está ao nosso alcance, passa pelo envolvimento: temos aqui cinco pães e dois peixes  (Mt 14.17). E todos sabemos que sete (cinco pães e dois peixes somados) significam que as multidões se sentassem na relva (Mt 14.19). E nos tempos que enfrentamos esse desafio tem enorme valor.

 

Tempos bicudos, de crise econômica sem precedentes, de quarentena que quer preservar vidas, mas ao interromper a cadeia econômica produtiva deveria também propor uma solução contra a fome e miséria crescentes. Como Igreja somos chamados a colaborar com campanhas e doação de alimentos e outros gêneros urgentes. Desde nosso lar abastecido de alimentos e esperança, devemos encorajar, animar e fortalecer na fé e na esperança todo aquele que carrega um fardo maior que seus ombros enfraquecidos.

 

Os discípulos logo perceberam que ali estava em jogo algo mais do que o simples ato de saciar a fome daquela multidão. Ali, estava em jogo o sentido de comunidade. Comunidade que deveria ser criada, incentivada e fortalecida. Comunidade que necessita de pessoas e de confiança mútuas. Comunidade que precisa se envolver e ter papel na transformação social.

 

Os discípulos perceberam que se tratava da proposta de uma nova perspectiva diaconal vinda de Jesus. As palavras de Jesus soavam fortes: “deem vós mesmos de comer” foi e é um sinal de que o Reino de Deus torna-se real, concreto e perceptível, já hoje em nosso meio. E isto, os discípulos entenderam, tomando para si este compromisso. Eles estavam dispostos a lançar mão de todos os esforços, a fim de mostrar um pouco da plenitude da vida e do amor de Deus. Estavam dispostos a mostrar que o amor de Deus também pode ser tornado real para outras pessoas.  Ali onde pessoas sentem necessidade e onde então pessoas auxiliam, seja com alimentos, seja com roupas, seja fazendo visitas a enfermos, ou outras formas, ali se mostra a forma real e concreta do amor de Deus, tal como feito e demonstrado pelos discípulos de Jesus. Quando ajudamos a outra pessoa, ajudamos concretamente a mostrar o amor de Deus. Isto é parte do grande milagre.

 

Creio que nós hoje, antes de doarmos algo ficamos imaginando que não será o suficiente, que não é bom o suficiente ou mesmo duvidamos sobre o bom uso que o receptor da doação dará aquilo que doamos. Percebemos nisso a nossa mesquinhez, que  nos faz ser limitados e que limita as possibilidades de outras pessoas e que até mesmo limita a possibilidade da ação de Deus.

 

Os discípulos compreenderam que Jesus necessitava dos dons e das capacidades de todos. Compreenderam que Jesus necessitava daquilo que as pessoas tinham consigo, no caso um pouco de pão ou peixe. Isto Deus precisava para fazer visível e vivenciar o amor de Deus. Aqueles pães e peixes na mão de Jesus, abençoados, vieram suprir as necessidades, saciando toda a multidão. Aqui encontramos o milagre maior. Após a confiança e ao não se assustar, vem o milagre de sentir-se saciado. Isto é bem diferente do que a realidade na qual hoje vivemos.

 

Vivemos numa época em que o avanço da ciência é significativo, mas, no qual, infelizmente, ainda muitos permanecem com fome, à procura. Jesus disse: “Eu sou o pão da vida.” Isto é bem diferente do que dizer: Eu lhes dou o pão. Jesus não falou de pão que ao ser consumido é doce e que rapidamente sacia, mas que em pouco tempo novamente permite a fome retornar. Ele falou e repartiu um pão que é mais do que alimento que sacia a nossa fome física. Seu falar de pão trata de comunhão e de acolhida. E por isto Jesus distribuiu este pão no passado e ainda hoje. O fez por meio de sua palavra, dos seus ensinamentos, da santa ceia que celebraremos daqui a pouco.

 

Jesus é o pão da vida que a todos sacia. Para tal, somos chamados a  segui-lo e a praticar o que ele ensinou. Foi exatamente isso que Jesus fez quando acomodou aquela multidão em grupos. Foi o primeiro sinal da amizade e da comunhão. Este é um passo importante para resolver os problemas. Vale para todos nós hoje.

 

Foram milagres. Milagres da confiança. Milagre do não se assustar da tarefa recebida. Milagre do saciar. Estes milagres não querem deixar em nós somente a admiração. Mas, querem também nos presentear uma visão. Uma visão, um aperitivo do Reino de Deus para toda a sua criação.

 

Sabemos que a fé em Jesus Cristo é conectada à dimensão social e diaconal. Não posso ser indiferente à fome do irmão e da irmã. Mas, justamente sobre este aspecto que muitas vezes somos questionados e é onde falhamos.  O texto em questão é significativo perante este sentimento. Quer nos deixar preparados para vermos com outros olhos as possibilidades, os chamados que recebemos. O pouco de pão e peixe do qual fala o texto quer nos dar a certeza, a confiança da graça de Deus e do seu imenso amor por cada um de nós e pelo mundo e a sua criação.

 

Aquele pouco de peixe e pão faz-nos recordar que a saciedade se torna real por meio da partilha daquilo que dispomos. E, ao falar de partilhar deve também ficar claro que não somente partilhamos pão, agasalho, etc. Devemos também partilhar perguntas, preocupações, esperanças, dor, medo e sofrimento. Partilhar comunhão. Isto é o grande milagre de nosso tempo.

 

Desta forma, o relato da multiplicação dos pães e peixes, não é só um relato de milagre. É também o relato de um incentivo e de ânimo. Ele nos incentiva a continuar gerando milagres em nossos dias, superando as carências desta sociedade. No texto em questão somos incentivados a buscar sempre o seguimento da palavra de Deus em resposta a tudo o que Ele nos tem dado e permitido. Somos incentivados a partilhar tanto material quanto espiritualmente. Muito recebemos, só um pouco somos chamados a partilhar

 

No relato da multiplicação dos pães, Deus nos mostra todo o seu amor, resumido em João 10.10. Quando Jesus mesmo nos diz: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância.” AMÉM.

 

 

Pa. Vera Maria Immich

Curitiba – Paraná, Brasilien

veraodair@gmail.com

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