Atos dos Apóstolos 7. 55-60

Atos dos Apóstolos 7. 55-60

PRÉDICA PARA O 5º DOMINGO DA PÁSCOA | 7. De maio de 2023 | Atos dos Apóstolos 7. 55-60 | Mauri Kappel |

Queridos irmãos e irmãs:

Quem foi Estêvão? Algum tempo depois da morte e ressurreição de Jesus o número de seus seguidores aumentava. A comunidade de Jerusalém crescia com a conversão de judeus locais e de judeus de origem grega. Isto significava um aumento considerável de trabalho para a liderança dos apóstolos. Surgiram insatisfações, especialmente entre os judeus que tinham sido criados fora da terra de Israel. Diziam que suas viúvas estavam sendo esquecidas na assistência social da comunidade.

Nesse contexto, foram escolhidos 7 homens de confiança, cheios do Espirito Santo e de sabedoria e os apóstolos confiaram a eles todo o serviço diaconal da comunidade cristã de Jerusalém. E Estêvão era um deles. O livro de Atos nos diz que era um homem muito abençoado e cheio de poder, que fazia grandes maravilhas e milagres entre o povo.

Fazer maravilhas e milagres! A pregação da Palavra e a administração dos sacramentos são serviços fundamentais na vida da comunidade. Mas a Palavra vivida na ação diaconal faz milagres também. Onde pessoas são recebidas, aceitas, amadas e atendidas, o evangelho se torna visível e concreto. Onde mãos são estendidas e o amor transparece, milagres acontecem. Falar e fazer; palavra e ação; são as duas pernas de que a Palavra de Deus necessita para transformar realidades. E isto estava acontecendo através do primeiro diácono da igreja cristã: Estêvão.

Porém, o seu empenho despertou também a inveja e a intolerância de um grupo de judeus vindos de outras localidades fora de Israel. Houve muita discussão. Por fim arrumaram falsas testemunhas e o acusaram, com mentiras, diante do Conselho Supremo dos judeus. Estêvão teve a oportunidade de se defender e, para isso, fez um longo discurso sobre a dureza de coração do povo de Israel ao longo da história e da ação misericordiosa de Deus para com eles. E, na sua conclusão, disse que os membros daquele Conselho estavam sendo duros de coração e surdos para com a mensagem de Deus. Assim como mataram seus mensageiros no passado, agora haviam traído e matado Jesus, o Servo de Deus.

Enfurecidos, lançaram-se sobre Estêvão. Mas ele continuava firme no seu testemunho sobre Jesus. Na sua raiva, os membros do Conselho o levaram para fora da cidade e o apedrejaram até a morte. Assim, Estêvão se tornou o primeiro mártir do cristianismo após a morte e ressurreição de Jesus.

INTOLERÂNCIA!  Talvez não tenha uma palavra melhor para descrever a relação humana nos dias de hoje. Há tanto ódio, tanta raiva, tanto desrespeito que parece que estamos voltando aos tempos antigos, onde as pessoas se juntavam em tribos e guerreavam umas contra as outras. É triste ver que amizades são desfeitas, com xingamentos e agressões, porque as pessoas têm visão política diferente. É triste ver o ódio sendo destilado nas redes sociais por posições diferentes. É triste ver agressões e violência contra pessoas de outra cor ou opção sexual. A intolerância tem causado muita dor e sofrimento.

É verdade que não surgiu agora. Vem de longe. Ao longo de toda história a intolerância matou muita gente. E parece que nós não aprendemos nada. Ela está aí, cada vez mais forte, até mesmo dentro das nossas casas e nossas famílias.

Alguns anos atrás minha irmã mais nova se casou. Ela convidou uma de nossas sobrinhas para servir-lhe de madrinha na celebração religiosa. Essa moça foi batizada na igreja luterana, participou do culto infantil e também fez sua confirmação. Um tempo depois ela começou a participar na igreja pentecostal chamada Maranata, e lá permaneceu. Diante do convite para ser madrinha de casamento, ela ficou de dar uma resposta. Certo dia ela procurou a minha irmã e disse que não poderia aceitar, com o seguinte argumento: ela perguntou para o pastor da igreja dela se poderia ou não aceitar o convite. E ele disse que não, porque nenhum verdadeiro cristão – que são eles – pode entrar em outra igreja. No dia do casamento minha sobrinha ficou na praça em frente à igreja, esperando o fim da celebração e não entrou. Porém, na “festa” ela foi.

Mesmo que se considere que aquele pastor tenha estabelecido aquela regra por puro medo de perder pessoas para outras igrejas, sua posição é injustificável. Ele criava em seus membros uma aversão, uma intolerância, para com pessoas de outras igrejas. E isso tanto é verdade que aquela sobrinha sempre agrediu e menosprezou a fé e costumes de sua própria mãe e dos outros familiares.

Infelizmente temos visto tantas ações intolerantes dentro das famílias, nos ambientes de trabalho, até mesmo dentro das nossas comunidades. Triste! Muito triste!

Não é isso que o Cristo espera de nós. Aquele que aceitou e abraçou tantas pessoas com suas diferentes histórias e crenças; aquele que pediu perdão a Deus pelos seus algozes; aquele que morreu por todos nós, com nossas diferentes manias e esquisitices; espera que sejamos servos uns dos outros e não juízes e carrascos.

A mensagem de Cristo é que vivamos em amor. É o amor que nós devemos a Deus e ao nosso próximo. Um amor que respeita, que compreende, que ouve com atenção. Certamente sempre haverá coisas a se questionar, discutir, divergir. Mas que isso seja feito com tolerância, com amor. Não com pedras. Que tal a gente começar essa caminhada pela nossa casa? Que tal cuidarmos mais de nossas palavras nas redes sociais?

Mas, o que fazer com a intolerância recebida? Fico com a impressão de que não adianta nada tentar argumentar com o intolerante. Ele não vai ouvir. Acho que temos somente duas coisas a fazer: 1) encerrar a discussão pedindo a Deus que nos dê paciência e força contra as pedradas. 2) Pedir a Deus, como Jesus e como Estêvão (v.60b), que use de misericórdia e ajude as pessoas para uma melhor convivência.

Ninguém é dono da verdade e cada pessoa pode enxerga-la de forma diferente. Todas as questões têm diferentes maneiras de serem encaradas e decididas. Os posicionamentos das pessoas têm contextos e condicionamentos próprios. Isto significa que precisamos olhar uns para os outros com muita compreensão e paciência. Assim como somos amados e aceitos por Deus, gratuitamente, imerecidamente, façamos isso com os nossos próximos.

Amém!


P. em. Mauri Kappel

São Leopoldo- Rio Grande do Sul I(Brasilien)

maurikappel@gmail.com

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