Lucas 2.41-52

Lucas 2.41-52

 1º domingo após Natal –  26 de dezembro de 2021 | Texto bíblico: Lucas 2.41-52 | Fernando José Matias e Stéfani Niewöhner |

No texto de hoje, Jesus tem 12 anos. “Parece que foi ontem” (em tom de graça) que falamos sobre o nascimento de Jesus, em Belém. E agora, um dia depois, o texto dá um salto e vem nos contar sobre um episódio de Jesus aos 12 anos de idade. Do zero aos doze. Esse texto, aliás, é o único que preenche a lacuna entre o nascimento de Jesus e sua vida adulta.

Esse episódio é muito interessante, pois nos mostra que Jesus é filho de pais judeus. E como toda família de judeus, eles vão ao Templo de Jerusalém, em peregrinação, todos os anos, para a Festa da Páscoa. Era comum que, a partir dos 13 anos, todo judeu (especialmente do sexo masculino) passasse a visitar o Templo em Jerusalém pelo menos uma vez por ano.    Provavelmente, a partir de agora, Jesus irá com seus pais para Jerusalém todos os anos.

Maria e José, começam a viagem de volta, certamente acompanhados de outros viajantes. Assim, no meio da caravana, não percebem que Jesus tinha ficado para trás. Em um determinado momento, sentem falta dele, e voltam para Jerusalém para procurá-lo. O texto diz, que depois de três dias, eles encontram Jesus. A menção dos três dias nos lembra do tempo entre a morte e a ressurreição de Jesus. O evangelista quer trazer a mente dos seus leitores outra festa da Páscoa que acontecerá 20 anos depois desse momento.

José e Maria encontram Jesus “sentado no Templo com os professores, ouvindo-os e fazendo perguntas”. E todos ficam maravilhados com sua compreensão e suas respostas. Nos evangelhos vemos várias vezes as multidões impressionadas com a maneira de Jesus ensinar, com sua autoridade, com seus milagres, com suas curas e palavras de admoestação e de consolo. Mas o que Lucas quer nos mostrar, é que mesmo ainda sendo uma criança, um adolescente, Jesus já chama atenção para sua pessoa.

Jesus não estava perdido. Ele simplesmente não estava onde seus pais esperavam que ele estivesse, afinal eles demoram três dias para lhe encontrar. Seus pais, certamente, ficam aliviados ao encontrá-lo, mas também deixam transparecer sua preocupação. Lucas nos mostra Maria e José como pais normais: assustados, preocupados, aflitos, como percebemos na fala de Maria: “- Meu filho, por que foi que você fez isso conosco? ” E Jesus reage dizendo: “Por que vocês me procuraram? Você não sabia que eu tinha que estar na casa do meu pai (patrós)?“ Mas eles não entendem o que Jesus está dizendo.

Jesus parece surpreso ao ver que seus pais (goneis) não lhe entendiam. E nós também podemos pensar, poxa, logo Maria e José, que receberam o anúncio do anjo, dizendo que Maria estava grávida, esperando o Filho de Deus; depois receberam os anjos, os pastores, profetas e magos para adorar o menino em Belém; e ainda tiveram que fugir da inveja e do Rei Herodes e esconder o menino no Egito. E doze anos depois, eles não entendem?

Bom, esta não será a primeira vez que Jesus é incompreendido. Mesmo 20 anos depois, seus discípulos também terão dificuldades para entender sua mensagem. E o que dizer de nós hoje, 2 mil anos depois? Creio que ainda não podemos dizer que compreendemos ou vivemos completamente o evangelho de Jesus.

No texto de hoje, Jesus é encontrado em um local que para ele era óbvio estar, mas para os que o procuravam, foi talvez o último local onde esperavam encontrá-lo, visto que Maria e José só o encontraram três dias depois. Daí me vêm as seguintes perguntas: Onde eles o procuraram primeiro, por onde começaram? Onde imaginaram Jesus estar e onde imaginaram ele não estar?

Assim como José e Maria, nós também temos nossas ideias e preconceitos sobre onde Jesus deveria ou não estar. Onde você buscaria primeiro Jesus? Onde seria o último lugar que você o buscaria?

Sim, consciente ou inconscientemente, nós imaginamos e pensamos onde achamos normal Jesus estar ou não. Consciente ou inconscientemente nós pensamos que em alguns momentos bons ele está conosco e em outros não. Por vezes nos sentimos rodeados pela glória de Deus; por vezes não. E passam-se 365 (ou 366) dias do ano e isso vai nos acompanhando: “aqui ele está; ali ele não está! Aqui ele esteve, passou por aqui; Não, aqui não o vimos, ele não esteve e nem passou por aqui.” Não é assim quando procuramos “alguém que sumiu”?

Querida comunidade, nessa época de Natal, é certo, o encontramos na manjedoura do presépio montado em nossa casa ou na igreja. Falamos que ele deve entrar em nossas casas, em nossa vida. E está correto, ele está mesmo nesses lugares. Mas será que é só ali que ele está e quer estar, deitado, dormindo eternamente em paz celestial? Será que ele também não está ou quer estar (e quer que estejamos e o busquemos) ali onde até então nem pensamos em procurá-lo e buscá-lo? Ele, por acaso, não está também na periferia, nas calçadas, nas estrebarias de hoje em dia? Ele não está na casa do menino gaúcho (e de tantos outros) que pediu um pedaço de carne na cartinha ao Papai-Noel? Ele não está na casa do menino que encontrou um pinheiro no lixão de Maranhão, que disse: “Eu nunca tive uma árvore de Natal em casa”? Esses meninos representam muitos meninos, meninas e famílias pelo mundo afora.

O Jesus da manjedoura de Belém, daqui e dali, não está preso ao local que achamos “certo” ou “digno”. Ele está na minha casa, mas também está na casa daquela pessoa com quem eu tenho uma desavença. Ele está lá onde o meu preconceito não me deixa levar o amor.

Nesse texto, o local inesperado era o Templo. Jesus está na casa do Pai. E a considera como sendo a sua casa. E ele sabia disso aos 12 anos, idade em que nós frequentamos o ensino confirmatório e nos preparamos para a confirmação. Momento da vida de fé em que buscamos compreender mais sobre a Palavra de Deus e sobre a vida em comunidade, como irmãos e irmãs de um mesmo Pai. E era exatamente isso que Jesus estava fazendo. Quando o encontram, ele deixa claro que o último lugar que o procuraram, deveria ter sido o primeiro!

Motivados e motivadas por esse texto, podemos pensar: onde seria o último lugar que eu imagino encontrar Jesus? Nas calçadas? Nos hospitais? Nos presídios? Na periferia? No meu próximo? Em mim mesmo?

Depois de ser encontrado por seus pais, o texto conclui dizendo que Jesus volta para a casa com eles e que era obediente a eles. Jesus parece saber o caminho que lhe aguardava. Mas ainda não havia chegado o seu tempo. Agora era hora de voltar para casa e continuar crescendo em sabedoria.

No Natal agradecemos a Deus porque Jesus vem ao nosso encontro. Deus está conosco, em todos os lugares, nos mais óbvios; e nos mais inesperados também. Ele é Deus Emanuel, é Deus conosco, que conta conosco. Por isso, não tem como segurar ou prender Jesus a um local. Ele estará sempre nos surpreendendo e mostrando que nós ainda não somos capazes de compreender e de viver certas coisas. Mas, apesar disso, não podemos deixar de procurá-lo. Por mais demorado que seja, precisamos continuar procurando. E procurando, o encontramos e o levamos. Que assim seja entre nós. Amém.

 

Link para as reportagens citadas:

https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2021/12/07/meu-sonho-e-ganhar-uma-carne-para-passar-com-a-minha-familia-escreve-menino-do-rs-em-carta-ao-papai-noel.ghtml

 

https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2021/12/05/nunca-tive-uma-arvore-de-natal-em-casa-diz-menino-fotografado-apos-achar-pinheiro-no-lixao.ghtml

 

P.Fernando José Matias

São Lourenço do Sul – Rio Grande do Sul (Brasilien)

ferjmatias@gmail.com

 

Pa. Stéfani Niewöhner

São Leopoldo – Rio Grande do Sul (Brasilien)

stefaniniewohner@gmail.com

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