Malaquias 3.1-4

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Malaquias 3.1-4

PRÉDICA PARA O 2º DOMINGO DE ADVENTO — 5 de Dezembro de 2021 | Malaquias 3.1-4 | João Artur Müller da Silva |

Estimadas irmãs e irmãos da comunidade de Jesus Cristo, nosso Senhor!

Quando no princípio do ano passado nos deparamos com o começo da pandemia do Covid-19, muitos de nós pensávamos que seria de curta duração! Mês após mês fomos obrigados a reconhecer que não tínhamos conhecimento e nem tratamento para frear o avanço dos contágios que foram se multiplicando de forma assustadora. Vidas e mais vidas de pessoas da sociedade, da nossa família e das nossas relações de amizade foram ceifadas e nós nem tivemos chance de nos despedir delas como fazíamos anteriormente quando éramos confrontados com o falecimento de uma pessoa querida.

A pandemia do Covid-19 provocou uma espécie de blecaute social, comunitário e familiar. Atividades sociais, as mais simples, como fazer compras no supermercado, representavam perigo a quem se arriscava sair de casa. O medo e o pavor espalharam-se por todos os lados. Alimentamos a ilusão de que em breve tudo voltaria a ser como antes! Mas não foi bem assim em nossas cidades, em nosso país. E hoje, 22 meses depois ainda não estamos seguros de que a pandemia foi vencida.

Entre os inúmeros ensinamentos que aprendemos nestes 22 meses de pandemia do Covid-19 é o convencimento de que o inevitável processo de globalização chegou no seu ponto mais alto, a saber, a vulnerabilidade global do nosso mundo agora é inquestionável. Se alguém tinha dúvidas do processo de globalização, não tem mais como negar, como dizer que cada país, cada região é uma ilha. Não! Nós, aqui e acolá, estamos interligados e dependemos uns dos outros, umas das outras. E daqui para frente povos e nações, etnias e tribos nativas, sociedades e pátrias estão numa relação íntima de dependência, de vinculação e de responsabilidade uns com os outros.

Lembramos aqui que os cultos de Advento do ano passado foram todos eles virtuais, on-line, sem a presença de fiéis, sem a nossa presença. Nossos templos foram fechados! Nossos salões comunitários foram fechados! Nossas atividades comunitárias e paroquiais foram canceladas. Somente neste ano, passo a passo, seguindo normas de segurança sanitária, nossos espaços de celebração estão sendo abertos para o retorno dos membros. O público frequentador dos cultos e das reuniões comunitárias está orientado a seguir as normas de segurança sanitária para que sigamos evitando o contágio e a propagação deste vírus mortal.

A mensagem para este segundo domingo de Advento poderá ser ouvida pelas poucas pessoas que se farão presentes ao culto em sua comunidade. E certamente, esta mensagem chegará também por via on-line às pessoas diante do seu celular ou do seu tablet ou do seu computador no conforto do seu lar.

Ao longo de todo este tempo de pandemia do Covid-19 onde se encontrava Deus? Onde ele estava, já que não podíamos ir à sua casa de oração, à igreja, onde nos sentíamos em casa, acolhidos, ouvidos, consolados, amparados e reconfortados por sua Boa Nova, anunciada dos púlpitos?

Pois, o testemunho do teólogo e padre tcheco Tomáš Halík, professor de Sociologia na Universidade Charles, de Praga, presidente da Academia Cristã Tcheca e capelão da universidade, nos ajuda a responder esta pergunta, quando ele afirma: “Mas, em um momento de calamidade, eu não vejo Deus como um diretor de mau humor, comodamente sentado nos bastidores dos acontecimentos do nosso mundo. Mas sim como uma fonte de força que opera naqueles que, nessas situações, dão provas de solidariedade e de um amor desinteressado, incluindo também aqueles que agem sem uma ‘motivação religiosa’. Deus é amor humilde e discreto.”

Convido, pois, a sermos humildes e discretos como nosso Deus e acolher a palavra do profeta Malaquias para a mensagem deste segundo domingo de Advento. Passo a ler a vocês, irmãs e irmãos aqui reunidos presencialmente, ou me ouvindo on-line, a passagem bíblica de Malaquias 3.1-4:

                        Eis que eu envio o meu mensageiro, que preparará o caminho diante de mim. De repente, o Senhor, a quem vocês buscam, virá ao seu templo; e o mensageiro da aliança, a quem vocês desejam, eis que ele vem, diz o Senhor dos Exércitos. Mas quem poderá suportar o dia da sua vinda? E quem poderá subsistir quando ele aparecer? Porque ele é como o fogo do ourives e como o sabão dos lavandeiros. Ele se assentará como derretedor e purificador de prata. Purificará os filhos de Levi e os refinará como ouro e    como prata. E eles trarão ao Senhor as ofertas justas. Então a oferta de Judá e de Jerusalém será agradável ao Senhor, como nos dias da antiguidade e como nos primeiros anos.

                        São raros os momentos na comunidade onde se reflete sobre o conteúdo do livro bíblico de Malaquias, que fecha a coleção de 39 livros do Antigo Testamento. Outros profetas são mais ouvidos e estudados, tais como Isaías, Jeremias e Amós. Arrisco afirmar que talvez muitas pessoas ouvintes desta mensagem não leram este livro bíblico. Em razão disso, convido e desafio as pessoas que ainda não leram o livro de Malaquias que tirem um tempo, depois, em casa, para ler e refletir sobre a mensagem contida no livro de Malaquias.

Aliás, Malaquias é um nome de origem hebraica e significa “meu mensageiro” ou “mensageiro de Deus”. Assim, seguimos em nossa reflexão abrindo nossos ouvidos e corações para a mensagem deste mensageiro de Deus para o segundo domingo de Advento. São poucas as informações que temos sobre este personagem bíblico e o que sabemos está contido nos quatro capítulos que compõem o seu livro. Mais interessante do que conhecer a vida deste mensageiro de Deus, é estudar, refletir e buscar orientação para nossos dias em sua mensagem!

Quando ouvimos, instantes atrás, a mensagem de Malaquias imediatamente nos lembramos de outro personagem muito citado, muito falado, nesta época de Advento, neste tempo de preparação para o Natal de Jesus Cristo. Quem pensou em João Batista, o profeta que andava no deserto da Galileia, anunciando a vinda do Messias, acertou! Malaquias é portador da mensagem que alimenta a esperança cristã. O povo de Deus, conforme outros relatos bíblicos, alimentava a esperança pela vinda do Messias que lhe traria salvação, cura e restauração para seus dilemas, problemas e adversidades. Bem antes da vinda de Jesus Cristo, relatada no Novo Testamento, esta esperança estava na vida e no coração do povo de Deus e que era seu amparo e ânimo para sua caminhada por este mundo cheio de armadilhas, enganações e também de falsos profetas querendo enganar o povo de Deus.

Nós, hoje, estamos na mesma situação do povo de Deus daquela época! Ou seja, estamos peregrinando por este mundo em direção ao dia do juízo final. No entanto, se faz necessário repensar algumas questões que hoje se impõe principalmente também forçadas pela pandemia que ainda se faz presente entre nós!

Vamos refletir sobre a simbologia dos nossos templos vazios, dos nossos centros comunitários igualmente vazios. O que isso significa para nossa comunidade que tem o compromisso de mostrar para a sociedade o rosto cristão que queremos ser? Durante a pandemia deixamos de testemunhar o amor cristão? Deixamos de fazer o serviço cristão? Deixamos de levar a Boa Nova às pessoas?

Creio que o profeta Malaquias pode nos ajudar a rever algumas questões, como: a que Deus estamos buscando neste tempo? Que tipo de aliança ou acordo Deus quer fazer conosco em meio a este tempo de restrições e sofrimento? Depositamos em Jesus Cristo nossa esperança para superar e cruzar por esta pandemia?

Conforme a mensagem de Malaquias, aquele que vem em nome do Senhor dará início ao processo de aperfeiçoamento em nossas vidas. E não para por aí! Ele também quer purificar nossas relações e maneiras de viver. E continua com uma ação da qual tememos, qual seja, ele virá para julgar nossas falhas morais, éticas e de relacionamento entre nós. Se queremos, em algumas semanas, celebrar o Natal de Jesus Cristo, precisamos ter bem presente em nossas vidas e na vida da nossa comunidade, da nossa Igreja, que o Messias vem com tudo! Estamos preparados e preparadas? Queremos nos deixar “contagiar” por esta Boa Nova que anuncia o amor como princípio para nossas ações e relações, mas que também anuncia o arrependimento para recomeçar?

O teólogo e pastor Humberto M. Gonçalves bem nos lembra que “a igreja é feita pelo compromisso das pessoas na vivência da fé e na disposição de exercermos o sacerdócio de todo o povo de Deus e o ministério ordenado, indo ao encontro da vontade divina de acolher e incluir todas as pessoas.”

            Não adianta buscar soluções mágicas para nossos dilemas e problemas na atualidade! Temos, sim, é que buscar Deus no serviço de amor, de solidariedade e de reconciliação para que todas pessoas se sintam dignas e valorizadas. Pois, Deus não se apresenta a nós como o gênio da lâmpada para resolver nossos problemas. Mas antes, ele se coloca ao nosso lado com sua graça amorosa, com seus mandamentos de amor e justiça, com sua misericórdia que nos levanta a cada tropeço. Nossa prática comunitária de fé pode muito bem ser exercida com templos e salões fechados por causa da pandemia do Covid-19! Assim como também como pessoa cristã, individualmente, podemos seguir dando testemunho da fé que nos move. E certamente, muitas pessoas aqui reunidas deram seu testemunho cristão quando ajudaram com cestas básicas para famílias necessitadas, quando financiaram a confecção de máscaras para serem distribuídas em hospitais e na entrada de supermercados, quando fizeram contribuições financeiras para projetos sociais em crise…

Pra concluir: o profeta Malaquias convida-nos a rever a esperança, a fé, a confiança e nossa prática de amor a partir da mensagem do Messias que é o centro da celebração de Natal! Deixemo-nos, pois, purificar pelo Evangelho de Jesus Cristo! Temos nova oportunidade de preparar bem o caminho que vamos trilhar como filhos e filhas de Deus, e como comunidade cristã no local em que estamos inseridos. Que Deus afaste o medo e o pavor diante do futuro, que a ele pertence! E que nos encoraje a servir em amor e solidariedade mesmo nessa situação de pandemia que ainda persiste em nossas cidades!

Amém!

P. João Artur Müller da Silva

São Leopoldo – RS (Brasil)

E-mail: jocadasilva@hotmail.com

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