1 Coríntios 12. 12-31

1 Coríntios 12. 12-31

PRÉDICA PARA O 3º DOMINGO APÓS EPIFANIA | 23 de janeiro de 2022 | Texto: 1 Coríntios 12. 12-31 | Harald Malschitzky |

Irmãs e irmãos em Cristo, comunidade do Senhor!

O corpo humano, o  nosso corpo, é uma criação fantástica. Todos os esforços, estudos, análises através da história, ainda não desvendaram todos os mistérios; médicos, estudiosos, pesquisadores volta e meia são pegos de surpresa por mais um aspecto ou detalhe até então desconhecido. Nesse corpo,  cada detalhe, por menor que seja, tem uma função importante. Quem já passou por cirurgias bem o sabe. Mas mesmo um pequeno “acidente doméstico” já nos ensina como todo o nosso corpo e alma estão interligados. Quebrar um braço, por exemplo, sempre é mais do que “apenas” quebrar um braço: Mudam os movimentos (que ficam limitados), muda o humor, muitas vezes acaba a paciência…

O apóstolo Paulo tem noção das funções interligadas neste corpo que, segundo Salmo 8, Deus criou só um pouco menor do que Deus e o coroou de glória e honra. Ele, porém, dá um passo adiante: Ele compara a comunidade ao corpo humano e, por sua vez – o mais importante – ele afirma que a comunidade, semelhante ao corpo humano,  é o corpo de Cristo! Isso diferencia a comunidade de todos os demais corpos: Ela é corpo de Cristo e, de forma semelhante ao corpo humano,   ele também tem muitas e diferenciadas funções. Com essa passagem, Paulo admoesta a comunidade de Corinto à união com todas as diferenças. Se lemos as duas cartas dirigidas àquela comunidade (uma terceira carta, na verdade a segunda na ordem cronológica, se extraviou) vamos descobrir  a razão não só pastoral do apóstolo. A comunidade estava dividida em grupelhos que puxavam cada um para um lado, usando inclusive o nome dos apóstolos. Mas há dissenções também em torno da Santa Ceia e outros punham em dúvida a legitimidade de Paulo… Era um corpo dilacerado a caminho do “suicídio”! A “segunda carta”, a extraviada, também é conhecida como a carta das lágrimas. O sofrimento do apóstolo por sua comunidade parece que foi descomunal! Mas  o que ele quer é que os coríntios entendam com razão e coração que onde o corpo é o próprio Cristo, o jeito de viver, partilhar, celebrar, administrar a comunidade são determinados pelo próprio Cristo, por tudo aquilo que ele havia ensinado, pregado e vivido e pelo que ele pagou com a vida: Não há maior nem menor, não há como argumentar com o poder do dinheiro, com qualquer tipo de influência seja de raça, cor, nível social, ideologia, por mais religiosa que esta pareça ser (os fariseus são bons exemplares de religiosidade ideológica). A comunidade de batizados e batizadas é  o corpo de Cristo em toda a sua diversidade. Bem, se olhamos ainda outras carta de Paulo, vamos ver que também em outras comunidades há problemas, talvez de outra ordem. O ponto crucial é sempre o mesmo: O ego das pessoas, em todas as suas manifestações, fala mais alto e é preciso admoestar, escrever, chamar à razão tendo como critério o cabeça do corpo, ou seja, o próprio Cristo.

Nós hoje temos comunidades estruturadas, devidamente documentadas, com muitos regulamentos, com decisões locais… Será que, por si só,   isso nos ajuda a ser comunidade, corpo de Cristo? Seguramente que não. É imperioso passar todos os nossos regulamentos constantemente pelo crivo do agir de Deus em Cristo, pelo crivo do corpo de Cristo! Não é por menos que Lutero afirmou que “a igreja da Reforma  sempre está em reforma”.

Mas como está nossa comunidade no varejo de todos os dias, na relação entre os diversos grupos e lideranças. Quantas vezes existe ciumeira, inveja e até difamação entre os diversos grupos; quantas vezes esse ou aquele se acha melhor do que os demais, tendo inclusive mais direitos (!) na comunidade. Ou então, esse ou aquele grupo se enche de ufanismo, esquecendo que também ele é só uma pequena parte do todo, do corpo. Em outros lugares ainda persiste a falsa ideia de que mulheres e homens não podem se unir em torno de objetivos comuns ou de que o homem é mais apropriado para o pastorado! E neste momento, em nossa IECLB, vivemos o preconceito ideológico permeando a comunidade. Está muito difícil de entender que ideologias diferentes devem achar caminhos de conviver e comungar na comunidade, no corpo de Cristo. E não vamos esquecer que em uma comunidade existem os papeis individuais os quais são exercidos por pessoas: Como se relacionam funcionários  com a direção da comunidade? Como se relacionam ministras e ministros entre si e com cada membro individualmente? Como é o relacionamento entre e com colaboradoras e colaboradores voluntários? Por que tanta pergunta?  Apenas para lembrar que o espírito do Cristo precisa estar presente em todos os lugares, papéis, funções. Em não sendo assim, a comunidade se transforma em um clube cujo objetivo – por definição e em essência – é outro do que o da comunidade.

Assim como Paulo, apesar de todos os problemas em Corinto, é grato pela comunidade, penso que cada um/a de nós tem motivos de gratidão por sua comunidade/igreja. Hoje somos uma igreja com um ministério feminino consolidado e presente em todas as esferas e temos uma mulher na presidência da igreja! Por que destaco isso? Sou da velha geração ministerial e acompanhei de perto as primeiras estudantes de teologia e sua trajetória nem sempre fácil na igreja e sou muito grato por isso. Temos ministros e ministras abnegadas, o que se revela principalmente nestes tempos de pandemia; temos voluntárias e voluntários que se dedicam muito em grupos e programas; temos funcionárias e funcionários fieis…

Recolhendo o espírito da carta aos Coríntios eu arriscaria repetir uma formulação conhecida: Prefiro essa comunidade e igreja, com todos os seus defeitos, a simplesmente não ter igreja, porque ela nem existe.

Pelo batismo somos feitos corpo de Cristo – sejamos corpo de Cristo por nosso pensar, agir e viver. Amém.

P.em. Harald Malschitzky

São Leopoldo – Rio Grande do Sul (Brasilien)

harald.malschitzky@gmail.com

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