1º Domingo na Quaresma

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1º Domingo na Quaresma

Mateus 4:1-11 | Luis Henrique Sievers |

Estimada Comunidade, irmãos e irmãs na fé em Jesus Cristo:

Hoje, é o primeiro domingo na Quaresma. Neste tempo de preparação para a Páscoa, recordamos a caminhada de Jesus para Jerusalém. É lá, de maneira dramática, que ele vai cumprir fielmente a missão que recebeu do Pai, segundo os evangelhos. O texto da prédica de hoje fala das tentações que Jesus sofreu para se desviar desse caminho, dessa sua missão. Vamos ver como Jesus venceu as suas tentações. Podemos aprender muito para saber lidar com as nossas próprias tentações. Convido para lermos Mateus 4.1-11.

A fome foi a primeira tentação de Jesus. O diabo é menos uma pessoa e mais uma força, um poder que atua “de todas as maneiras”, como diz o texto, para afastar o crente de Deus e da sua vontade. O tentador sugere uma solução para a fome de Jesus: “… mande que estas pedras virem pão” (v. 3). Filho de Deus tem que ter poder para acabar com a sua própria fome. No entanto, Jesus sabe que os desertos da vida não prejudicam apenas o corpo. Eles machucam a alma, acabam com a esperança, sepultam os sonhos de qualquer um. Nos desertos da vida precisamos aprender a socorrer a pessoa integralmente. Só barriga cheia não resolve. As pessoas precisam de promessas, sonhos e esperanças: “… o ser humano não vive só de pão” (v.4), “mas de tudo o que Deus diz” (Dt 8.3), responde Jesus ao seu tentador.

Em algumas regiões e classes sociais do nosso planeta não é bem a fome que mata, mas a abundância, o consumismo e o desperdício. Há pessoas que concentram  todas as suas  energias para ter muito, e até demais, desde a comida até a parafernália eletrônica. Segundo o IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 35% da nossa produção de alimentos fica pelo caminho, no transporte, ou vai para o lixo. O desperdício virou um direito. “Eu paguei e faço o que eu quero!” A fome dos outros parece já não importar. Ainda sabemos agradecer o “pão nosso de cada dia”? Alguns restaurantes e lanchonetes estipulam uma pequena multa para quem deixa sobras no prato ou dão desconto para quem come tudo. Talvez ajude as pessoas a terem consciência de que o que sobra na mesa de uns é o que falta no prato de outros.

Quando Deus enviou o “maná” no deserto, deu a seguinte ordem: “Cada um de vocês deverá juntar o que for necessário para comer, de acordo com o número de pessoas que houver na família” (Êxodo 16.16). O que é necessário basta. Algumas pessoas, diz o texto, levaram além das suas necessidades. Esse maná acumulado bichou. Tudo que é demais bicha. Até a nossa vida pode ficar bichada pelo egoísmo e pela ganância.

Outro recurso do diabo para desviar Jesus da sua missão foi apelar para a sua confiança em Deus. Ele o levou para a parte mais alta do Templo de Jerusalém e disse: “Se você é o Filho de Deus, jogue-se daqui…”(v.5) Para atiçar Jesus, o Diabo mostrou os seus conhecimentos bíblicos e citou as Escrituras. Ele disse: “Pois as Escrituras Sagradas afirmam: Deus mandará que os seus anjos cuidem de você. Eles vão segurá-lo com as suas mãos, para que nem mesmo os seus pés sejam feridos nas pedras.”(v.10 e 11, Salmo 91.11-12) De fato, o evangelista Marcos

escreve que “os anjos cuidavam de Jesus” (Mc 1.13) E agora? Jesus deve se jogar, confiando na proteção de Deus e dos seus anjos? A cena é dramática.

Mais uma vez Jesus recorre às Escrituras Sagradas: “Não ponha à prova o senhor, seu Deus” (Dt 6.16) As promessas de proteção e de socorro de Deus não são uma “carta branca” para eu fazer o que bem entender, arriscando minha vida e a dos outros. O “excesso de confiança”, na verdade, pode se transformar sutilmente em “autoconfiança”. Ela cresce em nós com as vitórias que alcançamos na vida. O sucesso alimenta o nosso orgulho e faz crescer o sentimento de que somos invencíveis.

Foi o apóstolo Paulo que escreveu a frase “Se Deus está do nosso lado, quem poderá nos vencer? Ninguém!”. Com isso ele não estava querendo promover o orgulho e a autoconfiança entre os cristãos. Pelo contrário, ele queria levar esperança para os primeiros cristãos, que estavam “em perigo de morte o dia inteiro” e eram tratados “como ovelhas que vão para o matadouro”. “Nada pode nos separar do amor de Deus, que é nosso por meio de Cristo Jesus”, escreve Paulo aos Romanos 8.31-39.

O diabo jogou pesado com Jesus. Ofereceu a ele riqueza e poder (v.9). Que tentação. O problema é que, para ter poder e riqueza, Jesus teria que vender a sua alma ao diabo: “Isto tudo será seu se você se ajoelhar diante de mim e me adorar” (v.7). Os israelitas, na busca pela terra prometida, caíram nessa tentação e fizeram um bezerro de ouro fundido e o adoraram (Êxodo 32.1ss). Não foi fácil para Moisés consertar esse estrago e colocar o povo no caminho dos dez mandamentos.

Um conchavo, uma aliança com o diabo e seus interesses, não estava nos planos de Jesus: “De que adianta alguém ganhar o mundo inteiro, mas perder a vida verdadeira e causar dano a si mesmo?” (Lucas 9.25) Na opinião de Jesus, é melhor adorar a Deus e servir somente a ele. (v.10) Quem tem poder e riqueza neste mundo quer ser servido. Corrompe e paga para satisfazer os seus desejos e caprichos. Jesus não vê sentido nisso. Riqueza e poder passam. Esse tipo de tesouro a traça e a ferrugem do tempo corroem. Melhor que ser servido é servir, ensina Jesus (Mc 10.45, Mt 20.28).

Tentações são coisas sérias. Elas provam nossas convicções. Testam nossa resistência. Tentações querem nos seduzir e desviar da nossa missão como cristãos: ser sal e luz no mundo ( Mt 5.13-16). Elas querem abalar a fé, a confiança no caminho que Jesus mostrou a nós em suas palavras e suas ações. Tentações querem fazer  a gente desistir de compromissos e objetivos assumidos no nosso batismo. Jesus sabia disso e ensinou seus seguidores a pedir a Deus: “não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal.” Lutero explicou esses dois pedidos da seguinte maneira: „Deus não tenta ninguém. Mas pedimos nesta oração que ele nos proteja e guarde, para que não sejamos enganados pelo diabo, pelo mundo e por nós mesmos, nem sejamos levados a crenças falsas, desespero e outra grande vergonha ou vício. E pedimos que, mesmo sendo tentados, vençamos no final e mantenhamos a vitória“.

Tentações rodeiam os cristãos até hoje. Para alguns, o diabo sugere que a vida se resume na barriga cheia, no pão em abundância. Para outros, ele sugere que poder e riqueza devem ser o objetivo máximo da vida. Ainda em outros ele atiça a autoconfiança e o orgulho arrogante, que

desprezam as pessoas de pouca fé e os pobres. Quer na fartura, quer na abundância, o diabo aproveita as suas chances de afastar as pessoas de Deus.

Não duvide da vontade de Deus de socorrer e salvar você, onde quer que você esteja, qualquer que seja a situação desesperadora que você esteja vivendo. Não ceda às tentações do momento. Tenha fé em Deus. Confie no seu socorro. Siga o seu caminho na certeza dos seus cuidados. Amém.

 

P. Luis Henrique Sievers
Lajeado, Rio Grande do Sul, Brasil
E-Mail: uishenrique.sievers@yahoo.com.br
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