3º DOMINGO APÓS EPIFANIA

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3º DOMINGO APÓS EPIFANIA

PRÉDICA PARA O 3º DOMINGO APÓS EPIFANIA – 24 de janeiro de 2021 | Texto da prédica: 1 Coríntios 7.29-31 | Harald Malschitzky |

Irmãs e irmãos em Cristo.

Quando  estudante nós apresentamos uma peça teatral cujo fio condutor era a pressa, a falta de tempo. Mais de uma vez no decorrer da peça, se ouvia uma voz lá do fundo, gritando: “Não tenho tempo!”.

Nosso mundo moderno, com toda a sua tecnologia e ferramentas digitais, que deveria nos ajudar a ter mais tempo, parece que produz o contrário: Agora precisamos estar sempre conectados, não temos muita paciência para esperar, dialogar, refletir e nessa pressa toda,  muitas relações de amizade e familiares se desfazem, tanto que um sociólogo famoso (Zygmunt Baumann) fala em tempos líquidos, quer dizer,  em tempo que nos foge e do qual procuramos fugir porque outro momento já nos espera.

De março do ano passado pra cá, uma estranha criaturinha infesta o mundo e dá um nó no tempo: Planos, projetos, viagens, férias, aulas, economia, tudo o que demanda tempo, cai por terra.  Fomos e somos obrigados a reorganizar  o nosso tempo. Vendo o número de mortos, em vez de planejar e de não ter tempo, a gente se pergunta qual a dimensão do tempo que nos resta. Essa pergunta fica mais contundente para pessoas e famílias que (já) perderam entes queridos,  que ontem ainda estavam bem! A pergunta já não é se eu tenho tempo, mas sim, quanto tempo será que ainda me resta!

O apóstolo Paulo, na passagem que vamos ouvir, também fala de tempo, mas numa outra perspectiva. Ouçamos o texto: 1 Coríntios 7. 29 – 31.

Paulo pensava que o reino de Deus irromperia ainda no seu tempo de vida. Ele não fez disso um dogma e nem ficou fazendo contas como volta e meia aconteceu e acontece, tanto que organizou comunidades pelos mundo ao seu redor.  A questão que ele colocava era como viver e se relacionar no curto tempo que restava e aí entravam assuntos do dia a dia, como o funcionamento de uma comunidade, o direito  de missionários terem a uma sobrevivência digna mantida pelas comunidades(ele mesmo diz que teria o direito, mas abria mão de recebê-la), o relacionamento familiar… O texto do qual ouvimos uma pequena parte trata do matrimônio e família. Ele mesmo diz que não tem opinião formada sobre todos os momentos, mas dá  seu parecer. Aqui talvez ajude lembrar que a posição de Paulo em relação às mulheres na família e na igreja reflete mais costumes de sua época  do que uma teologia sobre o assunto. E a crítica que se faz hoje em boa parte é justa.

Nosso texto começa com as pessoas solteiras, para as quais ele tem somente seu parecer tendo como pano de fundo o fim dos tempos próximo. Segundo ele, seria melhor que solteiros/as ficassem solteiros para não (possivelmente) causar sofrimento à outra parte e para poder viver uma vida dedicada a Deus sem outras preocupações. Confesso que eu já tropecei na afirmação de que  “casados devem viver como se não tivessem casado”. Estaria ele liberando da fidelidade entre mulher e homem no matrimônio, um dos alicerces do bom matrimônio?  Seguramente ele não está fazendo isso e nem liberando de compromissos recíprocos. A partir do evento libertador de Cristo – isso está por detrás de todo a sua teologia! – as nossas situações e estados se relativizam. Isso significa que a minha situação ou o meu estado civil não são absolutos! Qualquer que seja o meu estado civil, ele não é o único jeito de viver. Todas as formas, assim se lê um pouco antes, são dons do Senhor e por isso não vão se impor uns sobre os outros e nem serão usados para ofender ou desprezar o outro. Como dons eles precisam ser preservados em todos os estados civis dos cristãos.

Não é preciso pesquisar muito para descobrir que pelo mundo afora valem outras leis: Preconceitos religiosos, ideológicos, sociais determinam as relações; em pleno século 21 homens  ainda pensam que a mulher é sua propriedade que pode ser maltratada e até assassinada. E o que vemos e vivemos no nosso momento social e político é de arrepiar. Famílias da mesma comunidade e igreja são juradas de morte por questões ideológicas; comunidades estão infestadas por preconceitos que impedem que se ouça o Evangelho – isso significa a Bíblia do começo ao fim! -; vizinhos que não se falam mais. Isso tudo não são  apenas questões particulares e domésticas, mas elas assumem dimensões inimagináveis: O  mundo todo está tomado pelo covid19. Jamais laboratórios e pesquisadores/as do mundo se dedicaram tanto a desvendar os “segredos” de uma doença e a elaborar medicamentos de combate à pandemia.  Infelizmente em nosso país vivemos uma tremenda confusão: Como em todo lugar, há os favoráveis e os contrários à vacina. Nos ensina a ciência, porém, que por enquanto não existe outro caminho do que a vacina. Mas aqui a vacina foi politizada e ideologizada e se perdeu muito tempo até o início da vacinação além do tempo perdido até que se concretizasse a compra das vacinas. O vexame de preparar  e enviar um avião para buscar vacinas que não estavam disponíveis é um exemplo.

O que será que o apóstolo Paulo nos diria hoje? Eu tento destacar duas ênfases:

1) Ele repetiria o que escreveu: Vivam a vida conforme o dom de Deus e na vontade de Deus, mas não se cerquem de muros em torno de si mesmos. Cada um,  em seu “estado civil”,  esteja aberto e receptivo para os outros, para suas alegrias e suas lágrimas sem por isso deixar de ser o que se é, nutrindo-se  do amor de Deus revelado no Cristo.

2)Em meio à pandemia,  que já abreviou a vida de mais de 200 mil brasileiros em poucos meses, sejamos livres para abrir mão de nossos “direitos” de ir e vir, festejar, aglomerar, ignorar as recomendações mais básicas como o uso da máscara, tudo isso em favor da vida, nossa e dos outros. Aceitemos para nós e nossos familiares e amigos a aplicação da vacina assim que for possível. É bom nos darmos conta de que o tempo de que dispomos pode ser muito curto e por isso, usemos também todos os cuidados necessários e possíveis que sempre têm uma dupla função: Para nós e para os outros. Façamos da (curta) que talvez nos reste, uma vida responsável diante de Deus para não contribuirmos com o sofrimento que já atormenta tanta gente.

Deus nos ajude a quebrar os nossos preconceitos e a dureza de nossos corações para usarmos nossos dons em favor da vida, por mais breve que ela possa ser.              Amém

 

P.em. Harald Malschitzky

São Leopoldo – Rio Grande do Sul, Brasilien

harald.malschitzky@gmail.com

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