4º DOMINGO APÓS PENTECOSTES

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4º DOMINGO APÓS PENTECOSTES

PRÉDICA PARA O 3º DOMINGO APÓS PENTECOSTES | 20.06.2021 | Texto bíblico: 2 Coríntios 6.1-10 | Gottfried Brakemeier |

Prezada comunidade!

Faz pouco tempo que encontrei na internet o convite para aderir a uma coleta de dinheiro em favor de cristãos perseguidos em todo o mundo. E de fato! Atualmente, mais do que qualquer outro grupo religioso, cristãos e cristãs sofrem ódio e violência por parte de seus conterrâneos. Não é este o caso no Brasil, graças a Deus. Mas na Ásia e em muitos países da África a situação é diferente. Igrejas estão sendo incendiadas, instituições cristãs proibidas de funcionar, cristãos e cristãs são acusados de serem espiões a serviço de forças inimigas. Não poucos sofrem o martírio por motivos da fé. São vistos como quem subverte a ordem pública e se opõe aos costumes vigentes. É claro que as verdadeiras causas das hostilidades são outras. Consistem, por via de regra, na atenção dada por cristãos a vítimas de injustiça e discriminação, na inveja decorrente do progresso típico da cultura cristã, na liberdade reinante em ambiente pautado pelo espírito de Cristo. Por isto mesmo a campanha a que nos referimos, pretende ser um sinal de solidariedade com os irmãos e as irmãs na fé, bem como um estímulo para permanecer firme na confissão do evangelho.

Aliás, essa fidelidade pode custar caro. É disto que o texto para a pregação de hoje nos lembra. O apóstolo Paulo fala de si. Em suas viagens missionárias fez experiências altamente dolorosas. Menciona açoites, prisão, fome, privação. É longo o catálogo dos sofrimentos que o acompanharam no ministério. O evangelho pregado e vivido pelo apóstolo causou escândalo e redundou em cruel perseguição. Pelo que sabemos foi esta a sorte da maioria das primeiras testemunhas cristãs. Pertenciam à categoria das pessoas “não gratas”. Foram denunciadas como se opondo ao culto ao imperador em Roma e aos deuses adorados entre o povo. Cristãos eram um grupo suspeito, razão pela qual não raro se refugiavam para a clandestinidade. Ondas de feroz perseguição se abatiam sobre a jovem igreja cristã sempre com a intenção de acabar com este grupo incômodo.

Os tempos mudaram. Cristãos se espalharam pelos continentes e em alguns casos constituem até mesmo a maioria da população. Alcançaram poder. Já não chamam atenção como fenômeno estranho. Encontram-se integrados no quadro geral da sociedade. Ser cristão deixou de ser uma opção especial. Mesmo assim, parece que o cristianismo mantém um elemento irritante. Daí porque vivem perseguidos em pleno século 21. Certamente os sofrimentos de Paulo já não se repetem exatamente da mesma forma. Hoje os flagelos impostos aos cristãos divergem daqueles de outrora. Mas costumam ser não menos contundentes. Eu sei de casos em que as lavouras de cristãos foram devastadas, suas escolas destruídas, houve sequestro de mulheres e crianças. Para falar em termos modernos eu diria que há regiões neste planeta em que cristãos fazem parte de um “grupo de risco”. Vivem sob constante perigo. Assim aconteceu sob regimes comunistas do passado, e assim acontece hoje novamente sob regimes totalitários. A mensagem cristã aparentemente contém um ingrediente que incomoda e provoca indignação.

Será possível identificar este elemento irritante? Quem se dá ao trabalho de ler a segunda carta do apóstolo à comunidade em Corinto na íntegra – o que não deixa de ser um exercício trabalhoso – não vai ficar em dúvidas. É o próprio evangelho que tem essa qualidade. E este se resume praticamente numa só palavra: “Jesus Cristo”. Deus estava em Cristo, vai dizer o apóstolo, reconciliando o mundo consigo mesmo, perdoando-lhe os pecados e inaugurando novidade de vida (5.18s). Por ele Deus revela seu amor, sua graça, sua misericórdia. Por isto vale que o “amor de Cristo” nos constrange, respectivamente “nos domina”, donde resulta o imperativo de também nós amarmos os nossos próximos. É esta a nova lei que vale a partir de Cristo (cf. Jo 13.34s). E é nisto que se resume o evangelho pregado por Paulo. Deus não quer destruir o mundo, ele não o condena, não o julga. Deus quer salvar a sua criação. Eis porque o apóstolo é enfático ao constatar estar aí o dia da salvação. Reside nisto toda a sua pregação, ou seja, o conteúdo do ministério da nova aliança (cf. 3.8), como ele o chama em outra passagem.

Pois é! É o próprio amor, enquanto sincero, que incomoda neste mundo. É ele que irrita. Normalmente a ideia que se associa ao termo “amor” é outra. Acha-se que o amor é inofensivo, que ele é pacífico, que ele é sentimental. Nada mais errado do que isto. Não foi este o amor que Jesus pregou e viveu. Caso contrário ele não teria tido tanta oposição. Foi o amor que em última instância o levou à cruz. Quem tem a coragem de amar tem um compromisso com a verdade. Deve abrir a boca em defesa dos fracos e injustiçados. Não pode tolerar a mentira e a sedução do povo. É claro que isto escandaliza os grupos influentes. Provoca-lhes a inimizade. Eles vão denunciar tal sujeito como elemento subversivo a ser eliminado e até mesmo morto. A história da humanidade oferece inúmeros comprovantes dessa triste realidade. Os poderosos costumam tentar silenciar os profetas. Por que Jesus teve que morrer na cruz senão por este motivo?

Em sua primeira carta à comunidade de Corinto, o apóstolo Paulo fala longamente sobre a natureza do amor (1 Co 13,1ss). Aí se pode aprender que amor, caso ele se concretizasse mesmo em apenas pequenas parcelas, iria revolucionar o mundo. Daria rosto mais humano a uma sociedade terrivelmente viciada por disputa por poder, por riqueza e prestígio. Não existe salvação deste mundo à parte do amor. Trata-se da premissa  “básica” de uma humanidade justa, fraterna, próspera. Todos os bens, as maiores conquistas, toda grandeza humana a nada se reduzem, “se não tiver amor”. Passam a assemelhar-se ao “bronze que soa” e ao “címbalo que retine”. Fazem barulho e nada mais. O apóstolo Paulo julga necessário lembrar à sua comunidade esta verdade elementar. Em Corinto existe abundância de carismas. Trata-se de uma comunidade acentuadamente “carismática”. Mas ela se esqueceu o que no fundo constitui a comunhão em Cristo. Sem amor os maiores prodígios carismáticos nada valem.

Está aí o problema da comunidade em Corinto: Ela tenta contornar o escândalo do amor. Com isto encontra-se em descompasso com o apóstolo Paulo e os contratempos que teve que aguentar. Pior do que isto: A comunidade de Corinto se encontra em descompasso com o próprio Jesus Cristo. Pois este teve que sofrer a cruz por seu amor à humanidade. Em Corinto a cruz de Cristo é considerada profundamente antipática. Aqueles membros preferem uma fé sem o escândalo da cruz. Com isto, porém, perdem a capacidade da compaixão, da misericórdia, da bondade, ou seja, do amor. Ora, uma fé “apática” deixou de ser cristã. Ela significa traição do evangelho.

O texto de hoje certamente não quer dizer que devemos imitar o apóstolo Paulo em seu calvário. Nem mesmo devemos nos inspirar nas dores que estão vitimando tantos cristãos mundo afora. Sofrimento não pode ser padronizado. Ele não deve ser procurado nem deve ser preconizado como mérito ou sinal de particular autenticidade da fé. Também o apóstolo Paulo não buscou o que o fez sofrer em sua caminhada. Da mesma forma, porém, é bom saber que o testemunho cristão pode ter preço, assim como o amor o tem. Qual este preço e qual a sua modalidade vai depender das circunstâncias. Importante é que a comunidade examine as “demandas do amor” em seu respectivo contexto e faça o que for necessário. Que Deus nos ajude no cumprimento desta tarefa.

Amém.

P. Dr. Gottfried Brakemeier

Nova Petrópolis, RS, Brasil

brakemeier@terra.com.br

 

 

 

 

 

 

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