4º DO. APÓS A EPIFANIA

Home / Bibel / Neues Testament / 02) Markus / Mark / 4º DO. APÓS A EPIFANIA
4º DO. APÓS A EPIFANIA

PRÉDICA PARA O 4º DOMINGO APÓS A EPIFANIA – 31 de janeiro de 2021 | Texto: Marcos 1.21 a 28 | João Artur Müller da Silva |

Estimadas irmãs e irmãos da comunidade de Jesus Cristo, nosso Senhor!

Depois de ouvir o evangelista Marcos contar este encontro de Jesus com pessoas num sábado de manhã na sinagoga, surgem algumas questões que precisam ser conversadas e refletidas.

Quem de nós, hoje, acredita em milagres? Milagres acontecem na vida das pessoas? Na nossa vida? O que entendemos por milagre corresponde ao que o evangelista Marcos entendeu e nos transmitiu no seu Evangelho? A partir dos conhecimentos científicos que estão disponíveis hoje, ainda é possível acreditar em milagres? Dá para pensar na vida nos dias de hoje sem milagres?

Duas situações podem nos ajudar a nos aproximarmos do significado de milagre que circula entre nós. Quando crianças, nos primeiros anos na escola, fizemos a experiência de colocar grãos de feijão sobre um chumaço de algodão umedecido com água. E por orientação do professor ou da professora, deixamos estes grãos repousando no algodão umedecido sobre um prato ou dentro de uma tigela. E alguns dias depois, assistimos surgir alguns brotos verdes dos grãos de feijão! Como crianças, vimos neste singelo experimento o milagre da vida! Claro, depois na sala de aula ouvimos explicações sobre o processo de germinação das sementes. Mas a explicação fornecida por professores ou professoras percorreram apenas o trecho que a ciência lhes forneceu! E o milagre da brotação ficou sem ser desvendado. Mas isto não trouxe maiores consequências para nosso aprendizado e ficamos satisfeitos com a narrativa sobre o processo de germinação!

Outra situação que pode ou não nos ter ocorrido é a sobrevivência depois de um grave acidente de carro. Ou vocês ouviram noticiários em que pessoas sobreviventes de acidentes trágicos, relatam que estão vivos por milagre de Deus! Ou também já presenciamos a sentença de médicos no leito de hospital, falando aos familiares: Tudo o que eu podia fazer por seu pai, eu fiz! Agora, só um milagre pode salvá-lo! E em alguns casos, pessoas gravemente enfermas se recuperaram e voltaram a gozar de boa saúde enquanto outras faleceram!

Milagre está no centro desta história narrada pelo evangelista Marcos. Será que dá pra acreditar neste relato? Esta e tantas outras narrativas de milagres no Novo Testamento são verdadeiras? As curas de enfermos que Jesus realizou são dignas de fé? A ressurreição de mortos que Jesus promoveu aconteceram mesmo? A tempestade que Jesus acalmou e a transformação de água em vinho no casamento dos jovens em Caná da Galileia são acontecimentos verídicos? Ou estes relatos de milagres são fake news? São notícias falsas?

Pra nossa tranquilidade, os Evangelhos e todos os textos reunidos na Bíblia não são fake news! Mas, sim, são boas novas de Deus para todas as pessoas que nele creem! E nesta lista de crentes estamos nós! Está esta comunidade! E tantas outras comunidades cristãs espalhadas pelo mundo e que confessam Jesus Cristo como Senhor, Mestre e Salvador!

Reconhecido isto, podemos dar mais alguns passos para compreender o conteúdo desta narrativa de Marcos. Então vamos buscar alguns significados que podemos extrair desta história de Jesus no pátio da Sinagoga na cidade de Cafarnaum!

Era sábado, e como sabemos, para os judeus era dia de paralisar com atividades comerciais, como pesca, consertar redes, semear na lavoura. E Jesus se dirige à sinagoga para ensinar, para instruir e para explicar ao povo que o seguia qual é conteúdo da Boa Notícia – Evangelho – que ele recebeu para anunciar no seu tempo! É bom lembrar aqui que Jesus foi ensinado por seus pais e por seus professores como todo o menino judeu. Foi por meio do crescimento na fé que ele era portador do conhecimento da Lei e da vontade de Deus, seu Pai. O evangelista Marcos coloca esta narrativa dentro do contexto do início do ministério de Jesus. Em outras palavras, para Marcos foi importante narrar esta história de milagre logo no começo do trabalho de evangelização de Jesus que se desdobrava em ensino e prática. Ou seja, Jesus ensinava com autoridade e isto quer dizer, ele tinha poder para não somente anunciar a Boa Nova de Deus, mas também para mostrar na prática como devia ser para promover o bem das pessoas! Em Jesus não encontramos incoerência entre anunciar a Palavra de Deus e praticar esta palavra na vida cotidiana.

No entanto, o milagre ou os milagres que Jesus fez no seu tempo não tiveram como propósito fazer um grande show para atrair pessoas. Para cativar seu público ou para seduzir pessoas, dizendo: Vejam! Eu tenho poder de curar! Jesus não realizou milagres para ser engrandecido, para ser ovacionado, para ser colocado num pedestal e venerado como ente divino que veio para curar as mazelas das pessoas! Ele não buscou aplausos nem reconhecimento pelos milagres realizados enquanto por aqui viveu! Jesus não pode ser enquadrado na lista de curandeiros, milagreiros, benzedeiros e rezadores como hoje conhecemos em nosso país! Estes, às vezes, usam o nome de Deus para enganar pessoas, para enriquecer, para se vangloriar e aumentar sua fama e prestígio entre as pessoas incautas, ingênuas e desesperadas na buscar por uma solução para sua enfermidade, para sua desgraça familiar,  ou para sua situação de penúria.

Para o teólogo e pastor Osmar Luis Witt, os milagres de Jesus, “entre eles os exorcismos, estão diretamente relacionados com o Reino por ele anunciado, e a autoridade com que ele ensina e realiza milagres revela quem ele é.” E quem é Jesus?

A atuação de Jesus não se esgota nos milagres que ele realizou! E nós precisamos considerar que os milagres foram recursos que ele usou para apontar ao poder de Deus! Milagres no Novo Testamento sempre querem apontar para Deus e não exaltar quem fez! Mesmo Jesus sendo filho de Deus, enviado por ele ao mundo, não devemos ser seus discípulos e sua comunidade  pelos milagres realizados por ele! Mas antes por seu amor por nós, por seus ensinamentos e pelo duplo mandamento que ele nos deixou como orientação para o bem viver!

Nesta história da cura de um endemoninhado em Cafarnaum nos deparamos com outros ensinamentos e outras lições e advertências de Jesus quando estava no pátio da sinagoga naquele sábado. Mesmo que o espírito que dominava aquele homem tenha feito a confissão — Sei muito bem quem você é: o Santo de Deus! (no v. 24) – Jesus não se deixou intimidar, não se envaideceu com esta confissão, mas antes reconheceu o propósito deste espírito, a saber, criar confusão e desordem naquela manhã de sábado na sinagoga. Jesus reconhece neste espírito uma manifestação do demônio, e por isso, Marcos fala em espírito imundo! O diabo tem muitos nomes no Novo Testamento, e entre eles figura a expressão espírito imundo, ou seja, um espírito que não vem Deus! E que tem como objetivo trazer malefícios para as pessoas.

Por isso, o milagre! A cura! Jesus expulsa da vida daquele homem o espírito imundo para que o homem tivesse domínio sobre si, e sua saúde restaurada. E assim, o homem, sem nome, tivesse condições de ouvir os ensinamentos de Jesus. Lembremos: Jesus estava no templo para ensinar, para evangelizar, comunicar a Boa Nova de Deus! Então, a presença de um espírito imundo atrapalhava a vida daquele homem, impedindo-o de ouvir o Evangelho, a Boa Nova.

Os milagres realizados por Jesus não são critério para segui-lo, não devem ser usados para glorificar ou então considerar Jesus Cristo como Deus, como alguém que merece ser seguido, merece ser ouvido. Estamos a poucas semanas do Natal, onde se dá a encarnação de Deus neste mundo! O menino Jesus, nascido de Maria e José, cresceu no meio do povo judeu, foi batizado, circuncidado, aprendeu com seus pais e professores da Lei e agora começa sua missão! Critério para seguir a Jesus é reconhecer sua origem, sua missão, sua vocação e sua filiação, como o confessamos no Credo Apostólico: E em Jesus Cristo, seu Filho unigênito, nosso Senhor, o qual foi concebido pelo Espírito Santo, nasceu da virgem Maria, padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos…

            Então, qual o sentido do milagre na atividade de Jesus? Qual o motivo para que Marcos relate sobre este milagre de Jesus? Milagres no Novo Testamento têm alguma finalidade?

Este milagre do homem possuído/dominado por um espírito imundo e os demais milagres no Novo Testamente querem: – mostrar o poder de Deus; – livrar e abençoar as pessoas;  – confirmar a mensagem dos profetas que antecederam a Jesus;  – motivar pessoas a crer em Jesus.

A tentativa de resumir a Boa Notícia, o Evangelho, aos milagres relatados na Bíblia tira o foco principal do Evangelho, qual seja, a boa e proveitosa vontade de Deus para com seu povo. Para conosco, aqui reunidos. Sempre é bom recordar que a mensagem central da Palavra de Deus é a salvação, a vida eterna, a prática do amor, a promoção da paz entre pessoas e povos, a reconciliação de Deus para conosco por meio da morte e ressurreição de seu Filho amado! Resumir a Boa Notícia somente aos milagres é descaracterizar a grandiosidade e amplitude da vontade de Deus que vai muito além da cura desta ou daquela pessoa, deste ou de qualquer milagre que venha a acontecer hoje ainda.

Milagres aconteceram no passado, no tempo da atuação de Jesus! E acontecem hoje ainda, mas não tem como obrigar Deus a fazer milagres na hora que queremos ou necessitamos de ajuda! Os milagres acontecem quando, onde, como e por quem Deus quer que eles aconteçam! Não temos como obrigar Deus a fazer milagres só porque assim o desejamos! Não, milagres são frutos do poder de Deus e quando acontecem é porque ele o permitiu e a ele devemos ser gratos e o louvar por isto!

Ajuda-nos nesta reflexão considerar que também nós conhecemos momentos e situações em nossas vidas onde o milagre aconteceu, onde experimentamos a presença e o agir de Deus de modo especial. Estes momentos certamente estão vinculados a sua palavra e ao seu agir através dos sacramentos e de pessoas que ele coloca em nosso caminho.

            Crer em Jesus é a base da vivência cristã! Crer em milagres é achar que algum tipo de magia pode resolver nossa situação em momentos críticos! Lembremos: milagre não é magia e não é fantasia! Não acontece como num passe de mágica! Milagre é a revelação do poder de Deus! E por isso estamos refletindo sobre este assunto neste 4º Domingo Após a Epifania, quando o tema é compreender e aceitar a revelação de Deus – a epifania de Deus – para receber ensinamentos, orientações para a vivência aqui e agora! Precisamos abrir-nos para a ação de Deus em nossas vidas, em nossa comunidade! Algumas perguntas inquietantes e que instigam nossa reflexão neste domingo: Onde fica o espaço na vida das pessoas para o inusitado e o inexplicável a partir da ciência? Podemos simplesmente eliminar este espaço?

            Sim, como já afirmei, milagres acontecem na vida das pessoas e da comunidade, não por vontade nossa, mas por vontade daquele que quer nos presentear com vida, com esperança, com amor! Que saibamos viver a fé no Deus, Pai todo-poderoso, Criador do céu e da terra – assim como confessamos no Credo Apostólico!

Que o Deus todo-poderoso alimente a fé e a confiança nele e somente nele para que sua bênção nos fortaleça como seus filhos e filhas que o seguem em louvor e no serviço cristão onde quer que estejam!

Amém.

 

P. João Artur Müller da Silva

São Leopoldo – RS, Brasilien

E-mail: jocadasilva@hotmail.com

 

de_DEDeutsch