4º DOMINGO NA QUARESMA

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4º DOMINGO NA QUARESMA

14 de março de 2021 | João 3. 14-21 | Harald Malschitzky |

Irmãs e irmãos em Cristo.

Venho de uma família tradicional do meu tempo, onde a autoridade de pais, avós e professoras era incontestável. Castigos físicos faziam parte da educação também na escola. Por uma razão que desconheço até hoje, eu tinha medo também do pastor. Era só timidez? Eu não sei. Mas não admira que em um conjunto assim de autoritarismo (verdadeiro ou não) a imagem de Deus também era autoritária, até porque pais e educadores gostavam de transmitir a imagem de um Deus que castiga até os mínimos deslizes. No culto infantil se falava do bom pastor, do Deus que amou o mundo, do Cristo que morreu por nossos pecados…    Isso tudo, porém, não chegava na vida do dia a dia e, diga-se de passagem, a gente também não era anjo!

Ouçamos o texto bíblico para nós meditarmos hoje: João 3. 14-21.

O fio condutor do texto, que inicia com uma cena do Antigo Testamento que fala do amor de Deus por seu povo, passa pelo Cristo, o filho de Deus e vai chegar à prática do amor que se espera de quem se diz seguidor do Deus de Cristo.

A  história do amor de Deus por seu povo vai cruzando todo o Antigo Testamento, por caminhos tortuosos, por momentos que nos dificultam  entender a própria ação de Deus, por descaminhos e mais descaminhos do povo e de governantes. Por todos esses séculos não faltaram arautos de Deus e profetas que buscavam trazer o povo de volta aos caminhos e à vida desejada por Deus. Mesmo pagando caro os seus descaminhos, até com exílio e escravidão e a ter que viver na própria terra sob governos de outros países e religiões que se opunham frontalmente à religião judaica de seus ancestrais.  E Deus, em lugar de desprezar esse seu povo birrento, entra em cena pessoalmente em seu filho: Deus amou ao mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito, para que todo  o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna (v. 16). Aqui se anuncia uma novidade que perpassa todo o Novo Testamento: Deus ama ao mundo!Os limites de um povo foram simplesmente rompidos. O amor de Deus é uma grande libertação para a vida plena caracterizada pelo amor de uns pelos outros. O projeto de Deus inclui também a flora e a fauna. A plenitude de vida depende do conjunto.  Quem se deixa envolver por esse amor se põe a caminho, se põe a caminho de viver na prática do amor de Deus. A minha libertação vai em direção do outro, em uma ação libertadora do outro no sentido de uma vida plena e com sentido. Quem se deixa envolver pelo amor de Deus e envolve outros nesse amor, é corresponsável pela vida do outro. Tem aquela bonita expressão no PEQUENO PRÍNCIPE: Você é eternamente responsável por quem cativa. Se, partindo do amor de Deus, muitos ganhassem outros muitos, teríamos um mundo e uma humanidade mais solidária. Para não ser injusto: O amor de Deus age em muitos lugares, move muitas pessoas a dar tudo de si pela causa da vida. Basta pensar nas milhares de pessoas que colocam suas vidas em risco em hospitais, que vão até à exaustão para cuidar de vidas, para salvar vidas. Muitas talvez nem tenham consciência de terem sido tocadas pelo amor de Deus, mas elas estão vivendo à risca o amor de Deus em sua profissão.

No entanto, muitos nunca se deixaram tocar pelo amor de Deus, outros acharam e acham que é mais proveitoso viver segundo critérios próprios que valorizam a lei da vantagem, do mais forte, do mais astuto. A luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más (v.19). Muitas vezes quem produz obras más nem aceita que elas o sejam. Muito pelo contrário essas pessoas vão afirmar que estão agindo de forma correta.

Um dos problemas é que todos, tanto os que buscam viver no amor de Deus e dele tirar as consequências, quanto os que acham que estão certas, embora amem mais as trevas, vivem no mesmo mundo. Sempre deu errado quando um determinado grupo, determinada raça, determinada religião se diziam e dizem donos da razão, transformando os diferentes em inimigos de Deus somente por serem diferentes.

Cristãs e cristãos são chamados a viver o amor; isso tem dimensões individuais e dimensões coletivas.  Somos eternamente responsáveis por quem cativamos! Para dizê-lo com palavras de Lutero: “Transgride este [5º] mandamento não só quem pratica o mal, mas também quem pode fazer o bem ao próximo – antecipando-se, impedindo, protegendo e intervindo para que não sofra dano físico – e deixa de fazê-lo. (…) Se você vê uma pessoa condenada à morte ou em dificuldade semelhante e você não abrir a boca, quando conhece meios e formas de intervir  você a matou” [Catecismo Maior]. Por mais de uma vez a igreja ou segmentos dela acharam que a guerra era o melhor caminho. A verdade é que, nesse caminho, se matou mais gente do que se salvou. A igreja só tem uma ferramenta, a PALAVRA fundamentada no Cristo que é a palavra encarnada. A partir daí, cabe prestar atenção ao que acontece na sociedade, apoiando aquilo que contribui para uma vida plena e significativa para todos e denunciando aquilo que visivelmente está ajudando a destruir vidas, direta ou indiretamente.

Vivemos momentos terríveis de pandemia; vemos os esforços extremos de pessoas para salvar vidas; vemos campanhas e mais campanhas voluntárias para minorar a fome e a misérias aqui e agora; vemos milhões de pessoas fazendo o possível de manter o isolamento social… Ao mesmo tempo vemos verdadeiras hordas de gente negando o risco na medida em que atropelam o isolamento social com festas e aglomerações; vemos governantes distribuindo medicamentos que, comprovado por toda a ciência,   não têm nenhuma eficácia para a covid19,  e vemos um presidente fazendo chacota da vacina, de quem se cuida, de quem chora seus mortos e não tomando a sério os mais de 260.000 brasileiros que a pandemia já ceifou. Para não ser injusto: Ele tem muitos seguidores! É preciso dizer que, mesmo invocando a Deus e participando de grandes eventos  religiosos, suas atitudes e decisões são contrárias à vontade de Deus.

Cabe a cada um/cada uma em particular tomar todos os cuidados possíveis, denunciando se necessário atividades e eventos que ajudam a espalhar o vírus. Cabe a nós dizer não a falsas notícias que andam por aí e a procurar pela verdade para divulgá-la. Parafraseando o Pequeno Príncipe: Cristãos/ãs são eternamente responsáveis por quem cativam. Negar essa responsabilidade é negar o amor de Deus, é negar o próprio Cristo.

Que Deus nos dê muita força e determinação para vivermos o seu amor. Amém

P.em.Harald Malschitzky

São Leopoldo – Rio Grande do Sul, Brasilien

harald.malschitzky@gmail.com

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