5º Domingo da Páscoa

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5º Domingo da Páscoa

10 de maio de 2020 – Dia das Mães | Prédica sobre João 14.1-14 | Gottfried Brakemeier |

Prezada comunidade!

 

O texto previsto para servir de base para a prédica no domingo de hoje tem nítidas características de um testamento. Jesus se está se despedindo de seus discípulos e os prepara para o tempo após a sua morte. Com este capítulo do evangelho de João inicia o ciclo dos discursos de despedida de Jesus. Ele diz que voltará a seu Pai, aliás, do qual ele veio, deixando órfãos seus seguidores. Doravante eles terão que arranjar-se sozinhos num mundo hostil, sem a presença física de seu mestre. Jesus será preso, condenado e crucificado. É disto que o evangelista vai falar a partir do capítulo 18. É porque esse testamento inicia com um alerta: “… que o coração de vocês não fique angustiado…” A paixão de Jesus não é motivo de medo e pavor. Apesar de todos os horrores da crucificação a comunidade cristã pode encarar o futuro com ânimo e confiança.

 

Isto porque Jesus tem promessa. Ele vai preparar lugar para seus discípulos na casa de seu Pai. Lá existem muitas moradas. Não vai faltar espaço. Então, quem crê em Jesus tem futuro garantido. Será acolhido no mundo vindouro depois de encerrada a jornada terrestre. Será este um consolo convincente? Confesso que tenho dificuldades com este tipo de discurso. Como imaginar estas “moradas” celestiais? Trata-se de algo semelhante a “apartamentos” no reino dos céus a serem ocupados pelas almas dos falecidos? Isto é maneira humana de falar de coisas divinas que ninguém conhece. Portanto, cuidado com ideias fantasiosas! E, com efeito, auscultando o texto devidamente, percebe-se que Jesus quer dizer algo bem diferente. Usa, isto sim, a imagem da morada para designar o lugar onde Deus está. Mas não abusa dela para satisfazer curiosidades. É ali, na casa de Deus, que também os fiéis estarão em casa. É esta a promessa testamentária de Jesus.

 

E ela cumpre ardente anseio humano. Nada pior do que sentir-se órfão neste mundo, sem amparo, sem abrigo, sem lar. Pessoas sem teto têm sorte cruel. Vivem debaixo de pontes, são obrigadas a dormir ao relento, expostos às intempéries do clima. O apóstolo Felipe expressa sua angústia, quando pede a Jesus: “Senhor! Mostra-nos o Pai, e isto nos basta!” Ele quer ver Deus, perceber sua presença, ter evidências de que existe. Aquele apóstolo sofre sob o abandono, sob a solidão, sob a falta de sentido. “Deus, onde estás?” A pergunta voltou inquietar justamente hoje diante da onda de violência que assola a humanidade, bem como diante da pandemia que tranca as pessoas em quarentena e que, não obstante, ceifa inúmeras vidas inocentes, para não falar dos prejuízos econômicos que provoca. Deus parece estar ausente. O ser humano – um órfão neste mundo, sem pai, sem mãe, sozinho com suas dores e seu sofrimento, entregue a um destino cego e brutal? A flagrante ausência de Deus está na raiz de muita descrença no mundo moderno. “Senhor! Mostra-nos o Pai, e isto nos basta.”  A súplica de Felipe é também a nossa.

 

Mas aí Jesus intervém. Ele lamenta a cegueira de Felipe, e pergunta: “Há tanto tempo estou com vocês, e você, Felipe, ainda não me conhece?” E ele conclui: “Quem vê a mim, vê o Pai”. É este o segredo da pessoa de Jesus Cristo, a saber que “Deus estava em Cristo” (conf. (2 Co 5.19) e que nele se revelou. Então, não é verdade que Deus esteja ausente neste mundo. Trata-se de grande e trágico engano. Deus se fez e ainda se faz presente na pessoa de Jesus Cristo. Quem quiser conhecer Deus, deve contemplar sua vida, ouvir sua voz, estudar sua mensagem. Ninguém enfatiza a unidade de Pai e Filho de tal maneira como o faz o evangelista João, muito embora não seja ele a única testemunha desta verdade. Desde o batismo por João Batista a comunidade cristã sabe ser este Jesus de Nazaré o filho amado de Deus, enviado para a salvação da criatura (Mt 3.17). Por ele Deus chega perto das pessoas. Ele é o caminho usado por Deus para mostrar o seu rosto. Consequentemente, Jesus afirma: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida.”

 

Mas o inverso também vale: Jesus é o nosso caminho a Deus. “Ninguém vem ao Pai senão por mim”. Portanto, quem busca Deus neste mundo, não pode desprezar este atalho. Sem ele certamente vamos encontrar muitas assim chamadas “divindades”, muitos personagens importantes, muitos sábios e exemplos impressionantes em nosso contexto religioso e social. Mas quem passa ao largo de Jesus Cristo, jamais vai achar o “Pai”, o Deus verdadeiro. Todo conhecimento autêntico de Deus está condicionado ao discipulado de Jesus Cristo, à fé em sua pessoa, à atenção a este mestre, crucificado e ressuscitado, enviado por Deus para redimir a humanidade. Não há religião autêntica além da fé cristã. Será verdade?

 

Eu sei que isto soa mal nos ouvidos de nossos contemporâneos. Consideram escandaloso o  exclusivismo em evidência em afirmações como essas. Vivemos em sociedade plurirreligiosa. Porventura, existe uma só verdade? Um só caminho? Um só acesso a Deus? Estamos comprometidos com a liberdade religiosa, portanto, com o direito do cidadão de optar pelo credo de sua livre escolha. Repudiamos a tutela exercida por instituições e autoridades religiosas. Nada mais justo do que isto. Tirania religiosa reduz o ser humano a um miserável escravo. E, no entanto, há uma ressalva a fazer: Importa que nossa opção seja bem pensada, consistente, libertadora. É preciso aprender a discernir. Pois existe por demais refugo entre as ofertas do mercado. Nem todos os caminhos conduzem ao mesmo destino. Jesus conduz a um só, ou seja ao Deus que ele chama de “Pai”. Está aí a diferença.

 

Que Deus é este? Ora, é o Deus que sabe ser misericordioso; que perdoa pecados; que cura enfermidades; que ama seus filhos. Então, preferimos outros deuses? Mais simpáticos, mais poderosos, mais atrativos? Nesses caso devemos procurar por outros mediadores, por outros caminhos, ver propostas religiosas alternativas. Mas já não mais podemos orar juntos o “Pai Nosso”. Pois o Deus a quem dirigimos nossas preces, é exatamente este, a saber, o “Pai de Jesus Cristo”. Ninguém vem ao Pai, senão por ele, Jesus Cristo. Que grande verdade!

 

E este Deus não vai deixar órfãos aqueles e aquelas que nele confiam. Ele vai conduzi-los com a sua mão, orientá-los nos impasses da vida, conceder-lhes forças para resistir ao mal. Disse Jesus: “Eis que estou com vocês todos os dias até o fim dos tempos” (Mt 28.20). É uma promessa que sempre de novo se confirmou. Pode ser que Jesus às vezes esteja oculto. Quando os discípulos enfrentaram terrível tempestade no lago de Genezaré, estranharam que Jesus estivesse dormindo em meio às águas agitadas. Mesmo assim, Jesus estava aí. O barco no qual lutavam contra as ondas não afundou. Deus não abandona a quem nele deposita a confiança.

 

Celebramos neste domingo o “dia das mães”. Admito ser difícil relacionar este texto com a oportunidade de hoje. Mesmo assim, não vamos deixar passar a memória das mães em brancas nuvens. Creio não ser oportuno falar numa “homenagem” das mães. Para tanto existem outros dias e outros momentos. Tal homenagem deveria consistir antes de mais nada no veemente protesto contra a violência, à qual a mulher continua exposta. Lamentavelmente. Não vamos homenagear e, sim, agradecer. O texto do evangelho de João nos convida a agradecer a Deus por enviar Cristo como caminho, verdade e a vida. Convido a agradecer também às mães por incontáveis benefícios que delas recebemos. Sem o engajamento da mãe não existe perspectiva de desenvolvimento sadio para os filhos, razão para valorizar essa atividade bem mais do que costumeiramente o fazemos.

 

Assim sendo, podemos nos juntar no louvor a Deus e rogar a ele que nos dê a sua bênção.

Amém.

 

P.Dr.Gottfried Brakemeier

Nova Petrópolis, Rio Grande do Sul, Brasilien

brakemeier@terra.com.br

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