6º DOMINGO DA PÁSCOA

6º DOMINGO DA PÁSCOA

Texto bíblico:  Atos 10.44-48 | PRÉDICA  PARA O 6º DOMINGO DA PÁSCOA – 9 de maio de 2021 | Valdemar Lückemeyer |

Leituras bíblicas:  Ev.  João 15.9-17         Salmo   98       Epíst.  1.João 2.1-6

Estimadas irmãs, estimados irmãos!

O livro de Atos dos Apóstolos nos relata nos primeiros capítulos o surgimento, a expansão, os desafios e as dificuldades da Igreja Cristã nos seus primeiros anos.  Foram muitos os desafios, inclusive com várias tensões internas. Mas ela foi se expandindo, foi crescendo, venceu inúmeros obstáculos.

Nós, aqui em Carazinho, ainda não temos um livro que conta o surgimento, a expansão, os desafios da nossa comunidade. O livro vai surgir em breve. Sabemos que os primeiros evangélicos luteranos chegaram  aqui por volta de 1910 – 1915. Foram se agrupando, se agregando, e de início se congregando nas casas das famílias. Pastor não tinha.  O que eles tinham era uma perseverança firme e forte naquilo que aprenderam com seus pais: ser cristão evangélico luterano.  A comunidade foi crescendo, se organizando e em 1921 foi fundada legalmente. Estamos, agora, pois celebrando o centenário da nossa presença aqui.

A história da nossa Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil – IECLB – iniciou oficialmente aqui em 1824 com a vinda dos primeiros imigrantes alemães.  Certamente já estavam por aqui, antes disso,  outros evangélicos luteranos, esporádicos, isolados. Quantos? E Onde?  Em todos os casos, a partir de 1824 a nossa igreja foi crescendo, se expandindo e procurando assumir a sua missão neste torrão brasileiro, não sem muitos  desafios e obstáculos.

Assim, irmãs e irmãos, é a história da Igreja Cristã. História com muitos detalhes ricos, curiosos e cheios de vida e de esperança.  Como mencionei no início, o livro de Atos dos Apóstolos nos relata o surgimento da igreja cristã. No primeiro capítulo, versículo 8 (1.8) lemos:

“Vocês receberão o poder do Espírito Santo e serão minhas testemunhas em Jerusalém, toda a Judéia e Samaria, e até nos lugares mais distantes da terra”.

Os discípulos não decidiram por conta própria levar adiante a mensagem que receberam de Jesus, o seu Mestre. Eles se tornaram testemunhas de Jesus mundo afora por incumbência dele, de Jesus. Testemunhar seu Senhor, em todos os lugares, até nos lugares mais distantes, esta foi a ordem e a incumbência recebida.

Mas pelo que o livro de Atos nos relata ainda nos primeiros capítulos, é que os discípulos/ apóstolos esqueceram este detalhe destacado tão forte e claramente: testemunhar Jesus até nos lugares mais distantes. Tudo indica que eles estavam restringindo o testemunho apenas para Israel, para os judeus, para os seus conterrâneos, para o povo de Deus da primeira aliança.  Pedro até teve que dar explicações aos apóstolos e a outros seguidores de Jesus, por que ele passou fronteiras e levou a mensagem de Deus a não-judeus (Atos 11.1ss). Depois se explicou na reunião com todas as  lideranças presentes = apóstolos e presbíteros da Igreja – Atos 15.

Sair das suas fronteiras, ultrapassar fronteiras, derrubar barreiras – isto foram marcas do início da história de Igreja Cristã. Observem: não foi tudo pacífico, esplendoroso e tranquilo.  O nosso texto bíblico, base da mensagem de hoje, nos mostra que Pedro está diante de um grupo de pessoas na casa de um tal de Cornélio, numa cidade chamada de Cesaréia. Cornélio era comandante de um regimento do exército romano, portanto não judeu, mas era “religioso e, com toda a sua família, adorava a Deus. Ajudava bastante os judeus pobres e orava sempre a Deus” – lemos em versículos anteriores ao nosso texto.  Cornélio, que certamente conhecia Pedro, ou ouvira falar muito bem dele, chamou-o, pois   ele, seus parentes e amigos  queriam ouvir de Pedro “o que o Senhor mandou dizer” (V. 33).

Pedro tinha resistido a este envio de Deus. Sim, o envio era de Deus! Deus estava agindo através de Cornélio e Pedro para que a mensagem do Reino de Deus  ultrapassasse as fronteiras étnicas e geográficas do povo de Deus de então.  Aos seus ouvintes Pedro se justificou dizendo que “vocês sabem muito bem que a religião dos judeus não permite que eles façam amizade com não-judeus ou entrem nas casas deles. Mas Deus me mostrou que não devo considerar ninguém impuro ou indigno” (V. 28).

O nosso texto base da prédica dá um destaque especial a este momento histórico em que a Igreja primitiva ultrapassa fronteiras. Gente estranha, gente não pertencente ao povo de Deus de então, não judeus, também eles recebiam o poder do Espírito Santo, também eles eram envolvidos e presenteados pelo poder de Deus, portanto, aceitos por Deus como seus filhos e filhas.  Consequentemente também deveriam ser batizados em nome de Jesus para confirmar esta filiação.

Até aqui, prezada comunidade, um longo relato  ou também uma longa reflexão sobre alguns percalços da Igreja cristã no início de sua expansão. Agora, o que podemos aprender com este relato, qual a mensagem desta Palavra de Deus para  nós hoje?

1) Não adianta resistir ao chamado ou também ao envio de Deus! Pedro inicialmente não queria assumir o envio para outros povos. Entendia que a mensagem das Boas Novas, do Evangelho de Jesus Cristo, o anúncio do Reino de Deus, se restringia a algumas fronteiras: fronteira étnica (judeus) e fronteira geográfica (Israel). Pedro entendia que alguns princípios, que faziam parte da sua vida pessoal, não poderiam e não deveriam ser abandonados. Anunciar o Evangelho aos de casa, tudo bem, mas aos de fora, gente estranha, totalmente diferente, não! Era preciso resistir, dizer não. Mas Deus não quis assim. Deus chamou e enviou Pedro através de um caminho relativamente longo e, até certo ponto, estranho: usou um homem  não-judeu crente, mostrou em sonhos a Pedro que o que Ele manda e dá nada é recusável ou impuro. Pessoas que estão longe do povo de Deus, que ainda não fazem parte da Igreja, também são dignas de receberem o Evangelho e, se o aceitarem, são dignas de serem incluídas na família de Deus. Temos  hoje pessoas não-pertencentes à família de Deus perto de nós, às quais poderíamos e deveríamos levar as Boas Novas do nosso Mestre?

2) O envio de Deus rompe barreiras, aliás, não as conhece. Quem coloca barreiras e levanta impedimentos são as pessoas, somos nós. “Essa gente recebeu o Espírito Santo como nós também recebemos. Será que alguém vai proibir que eles sejam batizados com água ? (v. 47) “Essa gente”?  A IECLB é conhecida como uma igreja étnica (= igreja dos alemães), formada por imigrantes alemães. Essa formação original nos marcou durante muitas e muitas décadas. “Deutsch und evangelisch”  –  alemão e evangélico tinha que ser o noivo, a noiva pretendente, caso contrário ele ou ela não eram bem recebidos, às vezes até não eram aceitos.  E este fato, deixou suas marcas. Não se “pescava em tanques alheios”, cuidava-se apenas dos de casa, do próprio rebanho. Não é por menos que há mais de duas décadas nossos temas anuais abordam a “missão” como nossa grande tarefa. Cito apenas alguns temas recentes:  “…e sereis minhas testemunhas” (1987/8); “Aqui você tem lugar” (97/8); “É tempo de lançar” (99);  “Ide, fazei discípulos” (2001); “Missão de Deus – Nossa Paixão” (2009/10). Junto com os temas foram elaborados bons “Planos de Ação Missionária” .  O que nos levou a despertar para esta vocação essencial da Igreja de Jesus Cristo? O que nos levou a reconhecer que precisamos agir diferentemente do que agimos até há pouco?    Estatísticas nos revelaram (e continuam revelando) que estamos “murchando”, encolhendo em número de membros! Há barreiras a serem superadas? Há novos caminhos e novas formas de “chegar aos de longe”,” aos de fora”? Ao mesmo tempo precisamos olhar com urgência para   “os de casa”, pois não estamos mais conseguindo motivá-los o suficiente para serem “membros vivos e ativos”.

Hoje, aqui e agora, nós somos as testemunhas de Jesus.  A exemplo de Pedro também devemos ultrapassar eventuais barreiras e testemunhar Jesus em palavras e atitudes. Que Deus nos ilumine, oriente e dê forças para  tal.

P.em.Valdemar Lückemeyer

Carazinho – Rio Grande do Sul, Brasilien

pvluckemeyer@gmail.com

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