1 Coríntios 11,23-26

1 Coríntios 11,23-26

PRÉDICA PARA A 5ª. FEIRA SANTA | 14 DE ABRIL DE 2022 | Texto:  1 Coríntios 11,23-26 | Gottfried Brakemeier |

Prezada comunidade!

“Na noite em que foi traído, Jesus pegou um pão…”. Ele o fez para celebrar a ceia com seus discípulos, instituindo o que para nós veio a ser a eucaristia. Da mesma, forma, porém, ele pegou uma bacia e uma toalha e passou a lavar os pés dos seus seguidores. A Quinta-feira Santa passou a ser um sinal eloquente da diaconia de Jesus, muito à semelhança do bom samaritano na afamada parábola. Jesus veio para servir. Ao levar os pés dos discípulos Jesus fez o que era praxe na antiga Palestina: Chegando alguém de longa viagem dava-se um banho nos pés poeirentos do hóspede que por via de regra calçava somente um par de sandálias. Isto com o objetivo de proporcionar-lhe a sensação de higiene e de conforto. O lava-pés de Jesus converteu-se em conhecido símbolo de humilde serviço.

O texto para a pregação de hoje, porém, não se refere ao lava-pés e, sim, à santa ceia. Também isto faz bom sentido. O apóstolo Paulo lembra à comunidade de Corinto as palavras que Jesus proferiu na última noite que passaria juntamente com seus discípulos. Por que o fez? Ora, porque havia abusos na celebração. Em Corinto a santa ceia havia sido transformada em verdadeiro banquete. Os membros ricos traziam os comes e bebes de casa e então se regalavam. Houve até mesmo quem saísse dali embriagado. Enquanto isto outros passavam fome. Eram os membros pobres, normalmente escravos, sem condições de chegar no horário da ceia comum. É o que irrita o apóstolo. Ele considera o desnível social entre os membros um insuportável escândalo. Não é isto o que Jesus quis quando disse: “Isto é o meu corpo, … e a seguir, “este cálice é a nova aliança no meu sangue…” Vocês sabem o que estão comendo e o que estão bebendo? Aparentemente não. Caso contrário, saberiam que na santa ceia está sendo consumido o próprio corpo de Jesus e o cálice é o sangue da aliança. Ambos sofrem insulto mediante a prática leviana em Corinto.

Pois esta transforma a ceia do Senhor em ceia da comunidade.  Esta é a crítica contundente do apóstolo. Se estivesse consciente de sua falha a comunidade deveria saber que Jesus não tolera o menosprezo aos membros pobres. Sob tal aspecto também a recitação da tradição da santa ceia contém um forte imperativo diaconal. Assim como o gesto do lava-pés, assim também a comunhão com o corpo e sangue de Jesus (1 Cor 10.16s) implica em cuidado recíproco dos membros. Jesus quer que os membros do seu corpo se sirvam mutuamente.

Está aí um dos grandes desafios da comunidade até hoje. É bem verdade que os problemas da comunidade de Corinto não são os nossos. Mesmo assim é vergonhosa a existência de muita gente necessitada na sociedade brasileira.

Somos um país com uma enorme produção agrícola. Como se explica então que a fome é um flagelo que castiga amplas parcelas da população? Nós celebramos missa, santa ceia, eucaristia, mas aparentemente isto não ajuda a combater um dos grandes males que grassa nas favelas e condena muitas pessoas à subnutrição. A Quinta-feira da Paixão é oportunidade para insistir em cuidado fraternal e amor ao próximo.

Aliás, eu não quero ser injusto. Somos testemunhas de impressionantes exemplos de ajuda mútua. Quando catástrofes se abatem sobre nossa região, quando deslizamentos de terras arrastam as casas dos vizinhos, quando um vendaval causa terríveis estragos e deixa as pessoas desabrigadas, ou quando outros infortúnios castigam nossos próximos, a disposição para ajudar é fabulosa. O mesmo se observa de momento na Ucrânia. A loucura da guerra produz vítimas, mata inocentes, multiplica sofrimento. Ao mesmo tempo, porém, cresce a solidariedade, que socorre com mantimentos e artigos de primeira necessidade, acolhe fugitivos e hospeda quem já não tem onde “reclinar a cabeça”. Existem reservas morais entre o povo, sim. Louvado seja Deus. A pregação do amor ao próximo trouxe bons frutos. Ela não caiu em terra improdutiva. Trata-se de uma herança, da qual a cristandade pode orgulhar-se.

E, no entanto, não existem em absoluto motivos para considerar a tarefa cumprida. As Nações Unidades não conseguiram acabar com a fome no mundo. Há doenças epidêmicas que insistem em maltratar o povo. O mal prolifera em ampla escala, causando sempre novos focos de sofrimento. Ademais, toda pessoa pode tornar-se dependente de ajuda alheia. Principalmente idosos, doentes, vítimas de crimes, além de outros fazem com que diaconia seja uma tarefa permanente da humanidade. O sofrimento tem muitas faces. Ele se apresenta em inúmeras variantes e confronta com sempre novos desafios.

Então, a Quinta-feira da Paixão é dia da diaconia. Não é que outros dias não o sejam. Mas hoje a diaconia de Jesus está em especial destaque. Jesus lavou os pés de seus seguidores e, sobretudo, entregou seu próprio corpo e sangue em favor dos pecados do mundo. Jesus veio para servir, e enviou seus discípulos com o mesmo encargo. Disto lembra não por último o lema para o ano em curso: “Amar a Deus e as pessoas”. Rogamos a Deus queira assistir-nos nesta nobre tarefa.

Amém

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P. Dr. Gottfried Brakemeier

Nova Petrópolis – Rio Grande do Sul (Brasilien)

brakemeier@terra.com.br

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