Apóstolos 9. 1 – 9

Apóstolos 9. 1 – 9

PRÉDICA PARA O 3° DOMINGO DA PÁSCOA DIA  – 1º DE MAIO DE 2022 | Atos dos Apóstolos 9. 1 – 9 | Harald Malschitzky |

Irmãs e irmãos em Cristo, comunidade do Senhor!

A  expressão “cair do cavalo” significa ser pego completamente de surpresa. Algo inimaginável acontece e “derruba” a gente. Cair do cavalo dói e pode deixar sequelas. Não poucas vezes esse tombo muda o rumo da vida da gente. Há relatos bonitos de acontecimentos assim. Uma palavra conhecida para descrever o fenômeno é “conversão”. Infelizmente, com o correr do tempo, a ideia de conversão foi sendo estreitada e se tornou um acontecimento intimista que até cerceia a vida. Ainda assim,  conversão é um acontecimento sério e marcante na vida de quem passa pela experiência.

O – mais tarde – apóstolo Paulo passou pela experiência. Há ilustrações que  mostram ele montado em um cavalo, que, de repente, o derruba diante de uma luz muito brilhante;  em seguida ele está cego! Se ele de fato caiu de um cavalo ou não, nem é tão importante. Fato é que ele estava estirado no chão

Ouçamos o texto de Atos dos Apóstolos 9. 1-9.

Não bastasse o súbito tombo acompanhado de uma cegueira momentânea, uma voz pede contas de sua vida e do que ele está fazendo: “Saulo, Saulo, por que me persegues?”.

Saulo era uma pessoa letrada, como o atestam as cartas de Paulo que temos no Novo Testamento. Ele pertencia ao grupo dos fariseus, quase uma seita dentro do povo judeu. Esse grupo estudava e interpretava as Escrituras Sagradas da época com fervor e rigor e tentava aplicá-las a em  vidas. Mas, como é típico do ser humano, se costuma ser mais rigoroso com os outros do que consigo mesmo. E Saulo era  mais rigoroso ainda com a nova seita de seguidores de Jesus que crescia em muitos lugares. Pelo que se pode ler, ele tinha um poder imenso, pois tinha carta branca para prender cristãos e levá-los amarrados para Jerusalém (cf. versículo 21). Sua fama, aliás, já era conhecida…

Seus companheiros de viagem estavam atônitos e nada compreendiam do que estava acontecendo. Tomando-o pela mão,  o levaram a Damasco, onde um discípulo de Jesus, chamado Ananias, foi incumbido de visitá-lo e mostrar-lhe que ele estava enganado em sua crença e em suas ações contra os cristãos. Passados alguns dias e tocado pelo Espírito Santo, ele mesmo começa a falar de Cristo  em Damasco, sob olhos e ouvidos desconfiados. Aqui começa a grande missão de Saulo, que passa a se chamar de Paulo, versão latina para o seu nome. Levando-se em conta as dificuldades de locomoção, a oposição em mais de um lugar, a ponto de ele ser apedrejado, sua prisão em Roma, onde suas pisadas terminam, ele pode e deve ser considerado o maior missionário de todos os tempos. Um exemplo simples: A maior parte das cartas do Novo Testamento vêm dele e são de uma profundidade teológica ímpar.

O chamado à conversão perpassa toda a Bíblia, é um apelo de Deus através dos profetas, através de Jesus, é um convite insistente ao povo, a grupos, a pessoas para que deem a volta e tomem outro rumo, a saber, o caminho para Deus. É engano pensar que o objetivo da conversão é apenas para a pessoas se sentirem bem. A conversão do apóstolo Paulo ensina que a conversão põe a caminho, a caminho com outros critérios, ou seja, no caminho onde há todo o esforço para que se concretize a vontade de Deus para a humanidade e sua criação! A crítica dos profetas e de Jesus a todo tipo de fariseismo é o uso de duas medidas: Uma medida generosa para si mesmo e uma dura para os outros. Um exemplo bem atual é a declaração de Bolsonaro no Pará de que as próximas eleições serão a escolha entre o bem e o mal!

Infelizmente dentro da igreja  estamos vivendo esse tipo de classificação com grupos que se julgam teologicamente mais corretos e que, como os fariseus, não estão dispostos a um diálogo aberto na busca da verdade que poderá gerar conversão. Na igreja e na sociedade estamos em uma situação de ouvidos moucos e corações travados. Dietrich Bonhoeffer define essa situação como tolice dizendo “A impressão que se tem é de que a tolice não é tanto um defeito de nascença,  mas que, sob certas circunstâncias, as pessoas são feitas tolas, isto é, deixam-se tornar tolas” (Resistência e Submissão p. 33). Eu até prefiro usar o termo “estupidez”. Com pessoas tolas, estúpidas, não há como argumentar, assim conclui Bonhoeffer.

As pessoas, as igrejas, os povos carecem de conversão, precisam “cair do cavalo” para encontrar o caminho que Deus quer para a sua humanidade, para a sua criação. O Cristo precisa ser proclamado como aquele que deu a sua vida por todos, tolos e não tolos, estúpidos e não estúpidos. E é preciso admitir que esta proclamação está cada vez mais difícil, as igrejas cuja tarefa é levar a mensagem,  em boa parte estão em descrédito e o senso comum está marcado cada vez mais pelo individualismo tolo, estúpido. Isso, porém, não nos exime de continuar na busca e na divulgação da verdade de Deus em Cristo. Paulo, depois de “cair do cavalo”, arriscou a sua vida até à morte em favor de divulgar a boa nova do Cristo que rompe barreiras.

Roguemos que Deus nos converta continuamente e sempre de novo para divisar e viver o caminho que leva à vida e se impõe contra a morte em todas as suas manifestações. Amém.

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P.em. Harald Malschitzky

São Leopoldo – Rio Grande do Sul (Brasilien)

harald.malschitzky@gmail.com

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