Carta de Paulo a Filemom

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Carta de Paulo a Filemom

PRÉDICA PARA O 13º DOMINGO APÓS PENTECOSTES | 4 DE SETEMBRO DE 2022 | Texto da prédica:  Carta de Paulo a Filemom | Uwe Wegner |

Prezada comunidade:

Nosso texto de prédica para hoje é a carta do apóstolo Paulo a Filemom. Filemom era um cristão e dono de uma casa, onde a comunidade de sua localidade se reunia para o culto. Conta a carta do apóstolo para nós que este Filemom, dono da casa, tinha um escravo chamado Onésimo, que não era cristão.  Este escravo saiu da casa do seu dono e deve ter feito alguma coisa de errado para este seu dono, pois não voltou mais para casa. Distante da casa do seu patrão, este escravo encontra o apóstolo Paulo numa prisão e é convertido ao cristianismo pelo apóstolo, se tornando também um cristão.   O apóstolo Paulo então gostaria de que este escravo Onésimo, agora convertido ao cristianismo, o ajudasse na tarefa de evangelizar os povos. Mas, para que isso pudesse ser possível, ele primeiramente precisa resolver a situação do escravo Onésimo com seu antigo patrão e senhor, o Filemom. E para resolver isso, Paulo manda Onésimo de volta para seu patrão com as palavras da “Carta a Filemom”. Passo a ler agora algumas palavras dessa carta que Paulo escreve a Filemon:

“Peço-te, Filemom, EM NOME DO AMOR, em favor de meu filho Onésimo, que converti na prisão. Eu envio ele de volta, em pessoa, quero dizer, com ele envio o meu próprio coração junto. Eu queria conservá-lo aqui comigo […], mas não quis fazer nada sem o teu consentimento, para que a tua BONDADE não seja feita por obrigação, mas de livre vontade. Pois acredito que ele veio a ser afastado de ti só temporariamente, a fim de que o recebas para sempre, não mais como escravo, antes, muito mais do que escravo, como irmão caríssimo, especialmente de mim, e com maior razão, de ti, como irmão tanto no Senhor, como também na carne. […]Recebe-o como se fosse eu mesmo. E se algum dano ele te fez ou se ele te deve alguma coisa, lança tudo na minha conta…[…] eu pagarei.”

Cara comunidade: são muitas as lições que nos dá a carta do apóstolo a Filemon sobre o seu escravo Onésimo. Destaco a seguir algumas:

  1. A primeira lição é que o apóstolo Paulo deixa claro que a escravidão e a existência de escravos não combinavam com a fé cristã, que eram uma coisa errada. Na Carta aos Gálatas, cap. 3, vers. 28 ele escreve: “Assim sendo, não pode mais existir judeu ou grego, escravo ou liberto, homem ou mulher, porque todos vocês são um em Cristo Jesus”. A escravidão é uma situação horrível, pois escravos são pessoas que não são mais donas de si mesmo, mas pertencem inteiramente aos seus senhores, aos seus patrões: elas precisam pensar como os patrões, trabalhar de graça para os patrões, o que elas possuem não é delas, mas dos patrões, inclusive os seus filhos e filhas não podem ser pessoas livres, mas completamente a serviço dos seus patrões. Tudo é dos seus donos, nada lhes pertence.

Paulo não podia concordar com isso.  E isso por duas principais razões: (a) a primeira é que o Deus dos cristãos foi também o Deus dos judeus, e esse Deus foi desde o princípio CONTRA a escravidão. A grande obra de salvação feita pelo Deus do AT foi justamente ter libertado o seu povo da escravidão do Egito. É o que lemos no Livro de Êxodo, cap. 3, onde Deus fala a Moisés: “Certamente vi a aflição do meu povo que está no Egito […] conheço o seu sofrimento. Por isso desci a fim de livrá-lo da mão dos egípcios” (v.7-8). Mas há também ainda uma (b) segunda razão pela qual o apóstolo Paulo tinha que ser contra a escravidão como cristão: é que para Jesus Deus é nosso PAI e por isso, nós como cristãos, não podemos ser escravos, e sim, irmãos e irmãs uns dos outros (Gálatas 3.26). Deus é Pai: nós somos família de irmãos e irmãs. Irmãs e irmãos não procuram se explorar como se explora escravos, mas se ajudar e cuidar uns dos outros! Esta é precisamente também a razão pela qual o apóstolo pede que Filemom não receba mais o seu escravo de volta como escravo, mas como irmão.

  1. A gente poderia pensar que agora, o apóstolo Paulo, por estar convencido que a escravidão é coisa errada, passasse a não respeitar mais as leis de escravidão que existiam na sociedade. Mas se pensássemos assim, estaríamos enganados. O apóstolo continuava a respeitar, sim, as leis sobre escravidão que ainda existiam naquela época. Uma coisa não excluía a outra. Ele era contra essas leis, mas como cidadão romano, ele não podia simplesmente viver só de acordo com aquilo que ELE achava certo: era necessário também cumprir o que as leis da época mandavam, o que as leis daqueles que governavam exigiam. Assim também é ainda no Brasil de hoje: se cada um só cumprir como brasileiro as leis que ELE achar corretas, teríamos um caos social . Nós podemos ser contra muitas leis, mas como cidadãos, se quisermos viver em sociedade, é preciso que as leis vigentes sejam obedecidas. Se estivermos contra, é possível mudá-las através das eleições e de candidatos que pensam diferente. E é justamente por isso que o apóstolo Paulo, depois de converter o escravo Onésimo, não fica simplesmente com ele para trabalhar na evangelização, mas – como ele é escravo e as leis exigem que um escravo que saiu da casa do seu dono também retorne a ela – manda ele de volta ao seu dono, dispõe-se a pagar tudo o que Onésimo deve ao dono, e não exige, mas pede e implora para que Filemom, como dono de Onésimo, agora o considere como irmão e o liberte da escravidão.
  2. Para a libertação do escravo Onésimo de seu dono Filemom, Paulo apela para o AMOR e para a BONDADE do Filemom, seu senhor. Esse é um apelo que é próprio e característico de uma comunidade cristã. Na comunidade o amor e a bondade de Cristo conseguem unir pessoas de diferentes níveis e trabalhos (p. ex., em torno de uma mesa de Santa Ceia) que, fora dela, vivem desunidas e em concorrência umas contra as outras. Dentro de certas comunidades também as leis de contribuição não são simplesmente iguais para pessoas bem e mal situadas, mas procuram ser fraternas e sensíveis, atentando para contribuições maiores entre os que possuem mais e menores, entre os mais carentes. O amor é dinâmico, e, inspirado nele, é possível realizar muitas ações de ajuda e solidariedade dentro de comunidades, que nem sempre fora delas são possíveis. Com certeza muitas comunidades poderiam relatar de várias ações diaconais, inspiradas na bondade e amor de Cristo.
  3. Fora das comunidades não vigora a lei do AMOR, mas vigoram as leis civis, feitas pelos nossos legisladores, os vereadores, deputados e senadores, mas também pelos nossos prefeitos, governadores e presidentes. Através delas também é possível auxiliar pessoas que vivem nos dias atuais em condições semelhantes às dos escravos da época de Jesus: sem teto, sem emprego, sem comida, com salários baixos, etc. O poder que nós como cristãos temos para melhorar as condições das pessoas mais carentes na sociedade de hoje é, sobretudo, através do voto, através do direito que temos para escolher nas urnas os candidatos que nos parecem mais sensibilizados com a situação das pessoas necessitadas. No próximo mês, nos dias 2 e 30 de outubro, poderemos fazer uso desse direito e dever de votar naqueles candidatos e candidatas que melhor nos parecem contribuir para uma sociedade fraterna, em que as pessoas não se sintam inimigas, mas irmãs e responsáveis umas pelas outras. Atenção especial nos parecem merecer aqueles candidatos e candidatas que mais se encontrem sensibilizados com a defesa dos direitos dos negros e indígenas, pois foram justamente eles os dois povos mais escravizados no Brasil colonial e que ainda até hoje carregam os efeitos danosos destes séculos de escravidão. Amém.

  1. em. Dr. Uwe Wegner

Ibirama – Santa Catarina (Brasilien)

uweest@yahoo.com.br

É claro que um escravo significava um investimento do qual era preciso cuidar. Ele custava não apenas o seu preço, mas também a alimentação, a roupa, o cuidado, o treinamento e a vig

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