Isaías 44.6-8

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Isaías 44.6-8

PRÉDICA PARA O 8° DOMINGO DE PENTECOSTES | 23 de julho de 2023 | Isaías 44.6-8 | Luis Henrique Sievers |

Estimada comunidade, estimados irmãos e irmãs em Cristo,

Há uma música do grupo Paralamas do Sucesso, chamada “Alagados”. Muitos de vocês talvez a conheçam. A inspiração para compor essa música veio do contato dos membros do grupo com a pobreza e o sofrimento dos menos favorecidos do país. Ela começa dizendo “Todo dia o sol da manhã vem e lhes desafia, traz do sonho pro mundo quem já não o queria.” Onde esses “filhos da agonia” podem encontrar esperança? “Não vem do mar, nem das antenas de tv”, segue a letra, mas da “arte de viver da fé. Só não se sabe fé em quê.”

De certa maneira, os israelitas também eram acordados pelo sol toda manhã, longe de casa e do Templo de Jerusalém. Esse sol trazia “do sonho pro mundo real”  quem estava no exílio babilônico. Essa agonia só podia ser suportada com “a arte de viver da fé” e de lembranças da terra natal. Na Babilônia, porém, os israelitas corriam o risco de se renderem ao encanto de outros deuses, que se apresentavam como mais poderosos. Havia muita oferta de deuses para se crer, inclusive os que vinham do mar. A idolatria era um perigo constante.

Não havia, é verdade, tv para alimentar as esperanças. No entanto, ainda soavam as palavras proféticas, uma voz de Deus. Em meio ao desalento era possível ouvir palavras como as de Isaías 44.6-8:

Assim diz o Senhor , o Rei e Redentor de Israel, o Senhor dos Exércitos: „Eu sou o primeiro e eu sou o último, e além de mim não há Deus. Quem, assim como eu, fez predições desde que estabeleci o mais antigo povo? Que o declare e o exponha diante de mim! Que esse anuncie as coisas futuras, as coisas que hão de vir! Não fiquem apavorados, nem tenham medo. Por acaso não revelei e anunciei isso a vocês muito tempo atrás? Vocês são as minhas testemunhas. Será que há outro Deus além de mim? Não, não há outra Rocha que eu conheça.“

Seria possível recuperar a fé no “Rei e Redentor de Israel”? Não seria o exílio não só a derrota de um povo, mas também do seu Deus? Em quem crer nessa agonia?

Sol, lua, estrelas, mares, ventos e trovões são fenômenos da natureza. São poderes capazes de abalar nossas vidas, mas são limitados e passageiros. São criaturas daquele que está presente no espaço e no tempo de sua criação. Não se comparam “ao primeiro e ao último”: “além de mim não há Deus”, diz o nosso texto. Só Ele sabe o que há de vir. Por isso não há motivo para o medo. Só ele sabe as coisas que haverão de vir. O futuro pertence a Ele. Sobre esse Deus, essa “rocha”, podemos estruturar nossas vidas, do começo ao fim: “pois nele vivemos, nos movemos e existimos” (Atos 17.28). Ele é o Criador, mas também o libertador das agonias.

Os exilados podem ter esperança de voltar para casa. Seu mundo real vai passar por transformações. Deus prepara as condições para esse retorno. No capítulo 45 do livro de Isaías, Ciro, o rei Persa, está a caminho, para conquistar a Babilônia e, em consequência, libertar os israelitas. Mesmo sendo estrangeiro, ele é o “ungido de Deus”, o escolhido para isso. O Deus, do qual os israelitas são testemunhas, reina sobre todos os povos e usa os recursos que achar necessário para fazer chegar até aos que clamam por libertação o seu socorro.

O ser humano é uma espécie de “artífice de imagens”. Costuma adorar as obras das suas próprias mãos. O versículo na sequência do texto da prédica diz: “Todos os artífices de imagens de escultura são nada, e as coisas que eles tanto estimam não têm valor nenhum. Eles mesmos são testemunhas de que elas nada veem, nem entendem, para que sejam envergonhados” (v.9). No Novo Testamento até o dinheiro  chega a ser considerado um deus, “mamon”, a respeito do qual Jesus diz: — Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou irá odiar um e amar o outro, ou irá se dedicar a um e desprezar o outro. Vocês não podem servir a Deus e às riquezas.” (Mateus 6.24)

Viver da fé é uma arte concedida, não conquistada ou adquirida por esforço próprio. É mais um dom de quem foi testemunha de maravilhas em sua vida pessoal, do seu povo e de toda a criação. Quem não sabe em quem por a sua fé, acaba por idolatrar quem não é o maior. Fica com criaturas e não com o Criador. Perde a esperança na próxima dificuldade que a vida lhe impõe. Pior, vai de deus em deus, conforme a conveniência do momento. Para esse fato nosso texto quer chamar a atenção e faz um alerta: “Será que há outro Deus além de mim?”

Não “dá pé” estruturar a vida sobre deuses passageiros e sem importância, seja riqueza, poder, dinheiro ou beleza. É verdade que essas coisas fascinam e seduzem nosso coração. Prometem soluções rápidas e fáceis. Porém escravizam e não libertam. Pois não são “o primeiro” e “o último”, que nos acompanha em nossas maiores e profundas agonias. Também não são a “Rocha”, a montanha, que nos conduz à nossas maiores e plenas libertações.

Pense nisso! Não cabe a nós a tarefa de separar idólatras de não idólatras. Joio e trigo crescem juntos até que chegue o dia da colheita, segundo a parábola contada por Jesus aos seus discípulos, no Evangelho de Mateus 13. Até que esse dia chegue, o apóstolo Paulo nos exorta a vivermos no Espírito de Deus, conforme o texto de Romanos 8. Somos exortados a abandonarmos tudo o que nos escraviza e prende, nossos próprios deuses, e nos unirmos ao Espírito de Deus, que liberta e nos conduz para “as coisas que hão de vir”, sem pavor e medo. Amém.


Pastor Luis Henrique Sievers

Lajeado – Rio Grande do Sul (Brasilien)

lhsievers@gmail.com

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