Jeremias 20.7-13

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Jeremias 20.7-13

PRÉDICA PARA O 4º DOMINGO APÓS PENTECOSTES – 25 DE JUNHO DE 2023 | Texto bíblico: Jeremias 20.7-13 | Werner Kiefer |

“Sábio casal” postergava sempre a lavação da louça suja do almoço.  “Logo mais damos um jeito nisso”. Acontece que certa vez, este casal recebera uma visita. E agora, o que faremos com aquela bagunça sobre a pia da cozinha? Ah, não resta dúvida. Aquela toalha de mesa toda bordada é colocada caprichosamente sobre a pia e, assim, toda a sujeira foi escondida do olhar da visita. (1)

Aquela bela toalha de mesa esconde uma realidade que não desejamos revelar e a postergamos para não expor aos nossos queridos(as). Assim, continuamos a dar uma demonstração de que a vida continua sempre bordada só de belas flores. A verdade, a demonstração dela, pode ser dolorosa, principalmente quando sempre de novo nos desviamos dela, ofuscando e cobrindo-a com os nossos bordados.

Prezar pela verdade, demonstrá-la aos olhos de nossa gente nem sempre foi fácil. Veja, João Batista, cujo profeta lembramos neste mês. O resultado foi o martírio, para este profeta. A história da vida de seguimento a Cristo está repleta de martírios.

A bela toalha pode ser equiparada ao discurso de paz e tranquilidade, que procura agradar as pessoas, e que esconde a sujeira.  O profeta Jeremias, bem como as palavras de Jesus são como “espada” que coloca a descoberto as injustiças deste mundo.

Jeremias sofre diante do chamado de ser profeta, trazendo as suas “confissões” a Deus, lamentando o sofrimento que a sua missão lhe causa, e acusa Aquele que o chamou como responsável pelas dores sofridas em decorrência de seu ministério.

  1. 7: Tu me seduziste, SENHOR, e eu me deixei seduzir; tu me agarraste e me dominaste. Sou motivo de riso todo dia, todos zombam de mim.

O profeta é motivo de chacota por causa de sua insólita mensagem.

  1. 8: Pois, sempre que falo, preciso berrar; tenho que gritar: “Violência! Opressão!” Além de ser caluniado e enganado por pessoas amigas, o profeta também sofre perseguição e atentados contra sua vida, inclusive por membros da própria família (cf. Jr 11.18s).

Nossa, que dureza esta realidade de ser profeta. Fico a imaginar sobre as nossas vocações para o ministério pastoral. Você topa ser ministro da Igreja, fazer parte do presbitério, enfim, ser cristão de fato, viver o evangelho até as últimas consequências?

Fico a pensar sobre um colega, agora aposentado, quando recebeu como lema bíblico da sua confirmação o seguinte versículo: “– Se alguém quer ser meu seguidor, que esqueça os seus próprios interesses, esteja pronto para cada dia para morrer como eu vou morrer e me acompanhe.” (Lucas 9.23) O colega dizia na sua adolescência, eu quero viver a minha vida, tenho os meus interesses. Nada disso de seguir a Jesus, perder a vida… Mesmo assim, este se lançou e seguiu o ministério pastoral e foi uma bênção na vida de muitas pessoas.  Este perder-se foi na realidade um achar-se com a verdadeira vida com Cristo.

O sentido maior da vida provém da doação, da entrega a boa causa de Deus. Este perder-se, na verdade significa ganhos imensuráveis. Esta cria satisfação, bem-estar.  No seguimento a Cristo, assumir a cruz, até as últimas consequências, também é um ressurgir diário para a ressurreição com e em Cristo.

Eis a questão, com toda razão, busca-se o seguimento a Deus para ter paz, consolo, esperança. Agora também nos é dito, quem deseja este seguimento, esteja pronto para a perseguição, zombaria.

Então, onde está a sustentação de seguimento a Jesus Cristo diante das adversidades deste mundo? O que nos sustentará nesta caminhada de perseverança no Reino de Deus?

A sustentação está em focar-se, confiar-se nas promessas de Deus.

O próprio Jeremias assim expressa a promessa de Deus sobre ele: Não temas diante deles, porque eu sou contigo para te livrar! (1.8).  Veja, colocar-se confiante sobre as promessas de Deus não sufoca a nossa dor, sentimento de injustiças sofridas. A fé nos liberta, inclusive, para expressá-las e colocá-las diante de Deus e da comunidade, inclusive. A liturgia de nossas celebrações contempla muito bem esta situação quando confessamos os nossos pecados e também cantamos” Kyrie – Pelas dores deste mundo”.

A vida cristã é muitas vezes um dilema entre obedecer a Deus e agradar pessoas. Jeremias, rejeitado e castigado, foi tentado a calar sua voz, mas o fogo que ardia em seu coração foi mais forte, e ele terminou afirmando que não podia deixar de falar e reafirmando sua confiança no Senhor. Este é o desafio: mesmo castigados por amor à Palavra, apresentemos nossa queixa e avaliemos nossa condição, reafirmando a nossa fé em Deus.

Pedro e João tiveram atitude semelhante à de Jeremias – Ameaçados pelas autoridades a não mais falar em nome de Jesus, responderam: “Julguem os senhores mesmos se é justo aos olhos de Deus obedecer aos senhores e não a Deus. Pois não podemos deixar de falar do que vimos e ouvimos” (Atos 4.19-20). Eles tiveram a mesma paixão de Jeremias: calar para eles era impossível.

A fidelidade a Deus tem a ver com as nossas atitudes, testemunho, no qual faz parte a denúncia, uma afirmação do amor de Deus. Amor este revelado na cruz, fidelidade a vida, a nossa salvação.

As dificuldades sempre fizeram parte da vida cristã. Mas determinante é a fidelidade de Deus que nos faz saber de que nada nos pode separar do amor de Deus, nem sofrimento, perseguição.  A vitória está visualizada na ressurreição de Jesus, que perpassa pela cruz, que perturba os confortados. Mas a ressurreição é poder de Deus que nos conforta quando nos sentimos perturbados (2).

Que a paz e a graça de Deus que nos inquieta e aquieta, esteja nos assistindo e cuidando da Igreja, de nossas vidas. Amém

  1. A imagem é de autoria de Milton Schwantes, que a utilizou numa prédica de leitura no extinto Distrito Uruguai sobre o texto do evangelho: “eu vim trazer a paz e não a espada!”)

Sugestão, poderia se levar uma bela toalha toda bordada e colocar sobre cartazes que refletem situações de injustiças, espalhadas frente ao altar. No decorrer da pregação, tampar estes cartazes, escondendo-os.

  1. O papel da Igreja “perturbar os confortados”, mas também de “confortar os perturbados” (MORAES, 2013, p. 221)

Werner Kiefer

Ivoti – Rio Grande do  Sul  (Brasilien)

pwkiefer@hotmail.com.br

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