Daniel 12.1-3

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Daniel 12.1-3

PENÚLTIMO DOMINGO DO ANO ECLESIÁSTICO | 14 de novembro de 2021 | Texto: Daniel 12.1-3 | Eloir Enio Weber |

Que a graça e a paz do Deus que é Pai, Filho, Espírito Santo esteja conosco e que essa presença nos dê a esperança da vida eterna.

Há um poema, cujo título é “Não tenho medo da morte”. Ele diz:

 

Eu não tenho medo da morte,

conheço muito bem

seu corredor escuro e frio

que conduz à vida.

 

Tenho medo dessa vida

que não surge da morte,

que paralisa as mãos

e entorpece nossa marcha.

 

Tenho medo do meu medo,

e ainda mais do medo dos outros,

que não sabem para onde vão

e continuam apegando-se

a algo que creem que é a vida

e que nós sabemos que é a morte!

 

Vivo cada dia para matar a morte,

morro cada dia para parir a vida,

e nesta morte da morte,

morro mil vezes

e ressuscito outras tantas,

neste amor que alimenta,

do meu Povo, a esperança!

(Texto de: Julia Esquivel, Guatemala – Trad. Inés Simeone)

 

Prezada comunidade, estamos no penúltimo domingo do ano eclesiástico. Nesse tempo de final do Ano Eclesiástico, voltamo-nos de forma especial para esperança de que o Reino de Deus virá e que a nossa salvação será plena, pela graça de Cristo.  Muitas vezes, os textos bíblicos nessa época do ano são carregados de teor apocalíptico. Esse estilo literário está presente em alguns fragmentos nos profetas do Antigo Testamento; mas é no livro de Daniel que ele aparece com claridade, destaque e evidência. No Novo Testamento está presente em algumas falas de Jesus, nos evangelhos, e, especialmente no livro de Apocalipse de João. Não é diferente no texto bíblico de hoje, do profeta Daniel 12.1-3 (fazer a leitura do texto)

Prezada comunidade, o texto de Daniel traz a temática da ressurreição, que aliás não é um tema muito comum no Antigo Testamento. Daniel traz um texto rico em promessas de Deus. Essas promessas são um verdadeiro evangelho, que quer animar as pessoas da época a permanecerem fiéis na fé em Deus. Esse é o grande legado do estilo apocalíptico na Bíblia: trazer esperança às pessoas apesar do caos momentâneo e da fragilidade da vida. O texto de Daniel é melhor compreendido se for lido em seu contexto maior. A moldura dentro da qual está inserido, compreende os três últimos capítulos do livro (Dn 10-12). Ali está retratada a realidade de perseguição, dor, pobreza e morte.

Movido por essa realidade de perseguição e morte, o livro de Daniel traz a reflexão sobre a ressurreição. Diante da realidade da morte, a esperança na ressurreição é sempre fonte de consolo e de conforto. E esse é o assunto central do texto para este domingo. Ao tratar desse tema, Daniel deu uma nova orientação à esperança escatológica no Antigo Testamento, pois é a primeira vez que aparece na Bíblia a formulação da doutrina da ressurreição de justos e injustos. Trata-se do texto mais claro do Antigo Testamento sobre uma futura ressurreição do corpo.

Essa esperança, no Novo Testamento, está presente em todas as partes, e proclama a ressurreição de Jesus; e, como consequência, a bendita esperança do retorno de nosso Senhor, para trazer os mortos de volta à vida e, ao fazê-lo, derrotar o último inimigo: a Morte. Pode parecer que a esperança da ressurreição é exclusiva do Novo Testamento. Mas se pinçarmos essa esperança e começarmos a desemaranhá-la, descobriremos que ela tem raízes profundas que vêm do Antigo Testamento. Deus proveu a esperança da ressurreição a seu povo desde o princípio.

Daniel se confrontou com a implacável perseguição aos justos, que trouxe, para muitas pessoas, a morte. Esse quadro necessitava uma resposta que satisfizesse de forma plena o clamor dos fiéis. A doutrina da ressurreição acabou com a concepção de retribuição em vida e ultrapassou a ideia de que apenas os justos irão ressurgir. Os ímpios também ressuscitarão e receberão a sua porção. Assim, o texto conseguiu articular uma resposta satisfatória à angústia e morte, e, ao mesmo tempo, cumprir a função de dar esperança aos que estavam resistindo e, por isso, eram perseguidos.

O texto se encerra, no recorte dado para esta pregação, com a promessa de que os “sábios e pessoas que conduzirem muitos à justiça” irão brilhar no céu, como estrelas, eternamente. A ética que leva à misericórdia provém da fé. A fé, por sua vez, provém de Deus, se alimenta nele e se dá, em amor, para continuar amainando dores, sofrimentos, fome e morte. Ou seja, torna-se diaconia.

Para nós, ainda hoje, a esperança da ressurreição é o evangelho encarnado em Jesus Cristo. Nessa esperança somos convidados a depositar a nossa vida e os nossos mais profundo sonhos. Essa esperança é, necessariamente, vivida e fortalecida em comunidade… na comunidade de fé. Gosto muito do escritor Moçambicano Mia Couto que escreveu em seu livro “Um Rio Chamado Tempo, uma Casa Chamada Terra” que “Num mundo de dúvidas, onde tudo se desmorona, a igreja surge como a memória mais certa e permanente.”

O que essa afirmação nos diz? A vida é passageira, o tempo leva consigo a nossa juventude, transforma o nosso corpo e o jeito com o qual percebemos a vida e o próprio tempo. Em muitos aspectos a fragilidade da nossa vida nos coloca em situações nas quais temos a impressão de que tudo está desmoronando e que temos nenhuma certeza, somente dúvidas. Em inúmeras situações temos a impressão de que tudo está desmoronando, tudo está virando pó. Nessas situações, a igreja é, sim, a “memória mais certa e permanente”, porque ela aponta e nos conduz para o Senhor da Vida, aquele que venceu a morte ao morrer na cruz e nos dá a esperança da ressurreição porque ele também ressuscitou: Jesus Cristo.

A humanidade, em especial nós, no Brasil, ainda estamos vivendo sob o impacto muito forte da pandemia do novo Corona vírus. Milhares de mortes no Brasil, mais de 5 milhões no mundo. Tivemos, no Brasil, um dos quadros mais graves da pandemia em relação aos outros países. Entre todos os países, somos o segundo colocado em número total de mortes e o oitavo em termos percentuais. Há milhares de filhas e filhos, mães e pais, irmãs e irmãos, avós e avôs, familiares e pessoas amigas que choram e lamentam profundamente a perda de alguém. Vivemos em um mundo recheado de vazios. Para dentro dessa realidade de morte e de luto, a vinda do Reino de Deus é mais do que uma esperança, é um clamor que tem seu lugar no fundo da alma de cada ser humano que sofre.

Aliado ao número de mortes, vivemos a realidade do desemprego nas alturas, do trabalho precário e da inflação assustadora que arrasta milhões de pessoas que são levadas abaixo da linha de pobreza e de seguridade alimentar. O IGPM acumula alta de em torno de 30% nos últimos doze meses e o IPCA, em torno de 10% nesse período. Esses não são só números e siglas, pois significam que a situação de milhões de pessoas está muito mais difícil e cuja vida está em risco real. Tudo isso são situações que facilmente podem ser colocadas como similares ao que o povo vivia no Antigo Testamente, na época em que o livro de Daniel foi escrito. Para aquele povo, o texto de Daniel, escrito em estilo apocalíptico, convidou para esperançar, lutar por dignidade e manter-se fiel a Deus, pois Ele intervém na história em favor daquelas pessoas que mais sofrem.

Nesse sentido, somos desafiados a nos preocuparmos além da pergunta se o nosso nome está escrito no livro da vida, conforme o texto do profeta Daniel, que é tema do culto de hoje. A nossa preocupação, pela graça de Deus, não deve ser essa. Diante de um mundo com tanta dor, luto, fome e perseguição temos um papel, uma função, um chamado. O Reino de Deus virá sem que nós façamos algo por ele. Cabe a nós, então, colocar sinais do reino já aqui e agora. Tem um trocadilho que diz que “a igreja que não serve, não serve.” Ou seja, a igreja precisa ser diaconal, servir como Jesus serviu, estender a mão solidária, generosa e amorosa para servir ao mundo. Essa igreja tem serventia ao mundo, pois ela está à serviço de Deus, que se manifestou pela morte e ressurreição de Cristo. E é nessa perspectiva que ela é um sinal da presença concreta de Deus em meio às situações nas quais tudo desmorona.

Para terminar, convido para refletirmos na “litania da esperança” que faremos juntos, em responsório:

 

Quando as forças se abatem…

Creio na graça* de Deus que me fortalece.

Se é noite e os pesadelos querem me dominar…

Creio na graça* de Deus que me fortalece.

Na angústia das tempestades…

Creio na graça* de Deus que me fortalece.

Quando as lágrimas desejam ser meu alimento…

Creio na graça* de Deus que me fortalece.

Se na caminhada eu ousar desistir…

Creio na graça* de Deus que me fortalece.

Na saudade de um tempo de alegria…

Creio na graça* de Deus que me fortalece.

Quando a voz estiver fraca para clamar…

Creio na graça* de Deus que me fortalece.

Se no abraço o amor universal estiver ausente…

Creio na graça* de Deus que me fortalece.

Inês de França Bento & Alexandre Filordi.

Extraído de Culto Arte – celebrando a Vida.

organizador Rubem Alves.

* magia, no texto original.

 

Desejo que o amor de Deus nos conduza e nos anime a vivermos a vida no presente e na esperança da vida eterna no provir. Amém.

Pastor Eloir Enio Weber

São Leopoldo – Rio Grande do Sul (Brasilien)

eloir@sinodal.com.br

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