Efésios 2. 11-22

Efésios 2. 11-22

PRÉDICA PARA  O 8 º DOMINGO APÓS PENTECOSTES  | 8 de julho de 2021 | Texto bíblico: Efésios 2. 11-22 | Kurt Rieck |

Outrora excluído, agora incluído

“Que a graça e a paz de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo estejam com vocês!” (Ef 2.2)

Essas palavras de saudação são um convite para que todos se sintam incluídos nesse momento de reflexão inspirados no texto da epístola aos Efésios capítulo 2, versículos 11 a 22.

Sermos excluídos ou incluídos são situações corriqueiras em nossa existência. Em meio à pandemia de COVID 19, constantemente estamos sendo informados do número de pessoas que já foram incluídas na vacinação. A alegria é enorme quando da chegada da sua vez de ser incluído. Redobra a esperança de não ser molestado por esse mal.

Outrora a exclusão – v.11 e 12

Você já se sentiu excluído? É um sentimento nada agradável. Ao pensar sobre essa pergunta lembrei-me de quando tinha 13 anos. Fui ao grupo de jovens da igreja para aprender a jogar pingue-pongue. Entrei na roda por duas vezes e depois me excluíram. Eu jogava muito mal e estragava o jogo dos “bons”. Na oportunidade havia prometido nunca mais pôr os pés naquele grupo que se dizia cristão, mas que não era capaz de aceitar alguém com as suas limitações. Histórias de exclusão acontecem em todos os segmentos e em todas as faixas etárias. Ainda bem que a raiva que senti daqueles que me rejeitaram foi passageira, pois ali onde fui rejeitado, tornou-se espaço de vida onde o amor de Deus chegou ao meu encontro e me incluiu.

Esse fenômeno ocorre frequentemente na esfera religiosa. É o que se passa na epístola lida. Os judeus desconsideravam os demais povos, chamando-os de gentios na carne, pagãos, deixando de compartilhar com eles o conhecimento que tinham de Deus. A circuncisão era sinal visível da fé judaica. Os incircunsisos  eram considerados pessoas sem Deus, pois lhes faltava o “sinal do pacto abraâmico”.

Desprezar toda uma história vivida pelo povo judeu, marcada pela circuncisão, negando seu valor institucional, seria cometer o mesmo erro apontado nestes versículos. Certamente os judeus fazem parte do povo de Deus. Mas o povo de Deus não se restringe ao antigo estado teocrático de Israel.

Será que nós também não carregamos pesos semelhantes aos do povo judeu? Facilmente nos fechamos em nós mesmos. Temos dificuldade de chegar naqueles que se encontram sem rumo, sem Deus.

Agora a Inclusão – v. 13a18

Em Cristo iniciou um novo ciclo.Os que outrora eram julgados de estar sem Deus, agora são “… trazidos para perto dele pela morte de Cristo na cruz” (NTLH). “ Menção semelhante verificamos em Efésios 1.7 que diz: “… pela morte de Cristo na cruz, nós somos libertados, isto é, os nossos pecados são perdoados” (NTLH).

O que separa as pessoas de Deus é o pecado. Cristo na cruz opera a redenção. Quem nos restaura é a graça de Deus. A redenção tem um preço. O preço apontado no texto é o sangue de Cristo. Não há valor maior que a pessoa do Messias. No pensamento judaico, a redenção do povo escravizado no Egito, celebrada na Páscoa, estava relacionada a um sacrifício. “Pecado requeria sacrifício; “sem derramamento de sangue não há remissão” (Lv 17.11, Hb 9.22). “O pecado implica escravidão da mente, vontade e membros, ao passo que remissão é liberdade, é aphesis, … que literalmente significa a soltura de uma pessoa de algo que a prenda. ” (Francis Foulkes) A morte de Cristo na cruz é o elemento que altera padrões.

A morte questiona e nos faz reavaliar a vida. Em meio à pandemia, a vacinação em massa mostra a sua eficácia. Semelhante a inquietante busca por uma saída contra esse vírus que espalha a morte, Cristo torna-se a poderosa vacina contra a maldade humana.

Cito o teólogo Vítor Westhelle:  “Uma teologia da cruz tem, por assim dizer, um princípio alopático em seu cerne; um veneno é, ao mesmo tempo, um remédio (ambos denotados pelo mesmo termo grego pharmakon). É em face da morte que a vida é uma dádiva; é em face da cruz que a ressurreição é uma palavra de graça; é no sofrimento que a salvação (saúde) é recebida gratuitamente”. Da mesma forma como ocorre com a vacinação da humanidade, Jesus opera na inclusão de todos em favor da vida, concedendo o perdão dos pecados, promovendo uma vida santificada.

A inclusão é tema sempre atual. A Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil é constitucionalmente uma Igreja ecumênica, que lamentavelmente também sofreu cisões motivadas por orientação de ordem carismática. Respeitamos as igrejas pentecostais, sem a necessidade de precisarmos das suas ênfases. Cada denominação deve manter a sua identidade sem desmerecer a forma de ser do outro. As instituições são frágeis, são humanas. Se por desapontamento quisermos criar a instituição perfeita, certamente a nossa participação a tornará imperfeita.

“A obra redentora de Cristo, de reconciliar todas as coisas com Deus, de justificar gratuitamente os pecadores pela mediação da nova aliança, está inteiramente contida nesta palavra: Paz ” (J.J. von Allmen).

            Igreja: a família de Deus – v. 19 a 22

A fé monoteísta deixa de ser exclusividade dos circuncidados. Estrangeiros e peregrinos, pessoas que eram tratadas com antipatia e desconfiança são reclassificadas socialmente. Lhes é dada a dignidade de serem membros da família de Deus.

Brota uma figura de linguagem: um edifício. Ele é construído. É uma obra que se encontra em movimento. Seu alicerce são os apóstolos e os profetas. A pedra angular é uma: Jesus Cristo. O parâmetro desta construção é Jesus quem dá.

Deus espera que sejamos como uma casa, tijolo por tijolo posto em ordem, unidos, juntos, onde Cristo vive por meio de seu Espírito Santo. Não somos um amontoado de pedras que não tem vida. Somos vidas que se somam a outras vidas, tornando-se um corpo. É preciso se deixar encaixar. É preciso querer fazer parte. Os corações conquistados por Cristo somarão num mesmo propósito.

Façamos uma analogia com a construção do edifício chamado Igreja com um quebra cabeça, na quantidade de peças que representam o número de pessoas que integram a sua comunidade. Entregue uma peça para cada participante. Valorize a importância de cada parte. Monte o que for possível nessa celebração. As peças que ainda não tem seu encaixe aguardarão a sua vez. Deixe o desafio para que ao longo de determinado tempo o quebra cabeça possa ser construído. Cada pessoa encaixa apenas a sua peça. Exponha num lugar visível, compondo-o, seja nos cultos, seja nos grupos existentes. Cada peça terá seu espaço no quebra cabeça, tal qual cada membro será motivado a ocupar o seu espaço em sua comunidade. Quanto tempo será necessário para finalizar este quebra cabeça (edifício)? Essa dinâmica quer mostrar de forma plástica a importância de cada um na construção do todo de uma comunidade cristã.

A Igreja tem a oferecer uma palavra que estrutura as pessoas, que faz elas se encontrarem consigo mesmas, que lhes auxilia a chegar “até a presença do Pai” (v.18 NTLH), que faz elas descobrirem o valor da solidariedade, da fraternidade, do amor ao próximo.

“Ubi Christus ibi Ecclesia”. Onde está Cristo ali está a Igreja. A Igreja está para ser morada onde habita o Espírito de Cristo e onde todos os que amam a Cristo podem encontrar-se em seu Espírito. (William Barclay)

Toda essa reflexão converge no terceiro artigo do Credo Apostólico que confessa: “Creio no Espírito Santo, na santa Igreja cristã, a comunhão dos santos, na remissão dos pecados, na ressurreição do corpo e na vida eterna.”

Ser Igreja de Cristo, ser comunidade cristã: eis o desafio que nunca se encerra. Amém.

P. Kurt Rieck

Porto Alegre – Rio Grande do Sul (Brasilien)

kurtrieck@gmail.com

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