João 13.31-35

João 13.31-35

PRÉDICA JOÃO PARA O 5º DMINGO DE PÁSCOA | 15 DE MAIO DE 2022 | Texto da prédica: João 13.31-35 | Anelise Lengler Abentroth |

TEXTOS LEITURAS: SALMO 148, APOCALIPSE 21.1-6                                                                               

Hoje quero iniciar esta pregação com uma pergunta diferente: “O que você gostaria que fosse escrito na sua lápide, em sua sepultura?” Qual a memória que você gostaria que permanecesse para seus amados e amadas da sua trajetória de vida? Sei que não é uma pergunta fácil de responder.

       Reunida com um grupo de adolescentes, perguntei com o que eles sonhavam em serem reconhecidos na vida? Uns queriam ser grandes atletas do futebol, reconhecidos mundialmente. Outros queria ser rappers famosos ou influenciadores digitais com milhares de seguidores, entre outras respostas. Questionei-os, então, sobre qual teria sido o grande serviço que prestariam à humanidade com sua escolha. A maioria disse que nunca tinham pensado nisso. Queriam apenas fama, reconhecimento, dinheiro e uma vida de fortuna.

      No Evangelho de João, quando Judas saiu, Jesus disse que chegara a hora da natureza divina do Filho do Homem ser revelada. E por meio dele, a natureza gloriosa de Deus. Sempre que leio este texto, estranho o termo “gloriosa”. O que é glorioso para nós? O que temos glorificado, dado glórias?

     No dicionário Aurélio, glória é definida como fama obtida por ações extraordinárias, grandes serviços prestados à humanidade; brilho, esplendor, honra, homenagem. É por isto que quando pensamos em glória, logo lembramos dos holofotes, da mídia, da fama, de fortuna e poder. Assim sendo, o que essa compreensão tem a ver com a natureza gloriosa revelada no Filho do Homem que foi perseguido, caluniado, traído, torturado e morto como inimigo público perigoso? Não há uma grande contradição em tudo isso?

     Mais uma vez, a glória de Deus é diferente da glória que o mundo, a sociedade dá. É o escândalo da cruz que glorifica Jesus. Esse é o grande feito em favor da humanidade, pois o oposto da morte, da derrota da cruz é o amor que vivifica, que ressuscita, que permanece.

     Decididamente, esse não é um texto fácil para nós, pessoas do nosso tempo… Não nos é fácil suportar as reações contrárias, os xingamentos e difamações recebidos por meios virtuais ou presenciais, quando enfrentamos poderes estabelecidos injustos. Também não tem sido fácil procurar reconciliar as divergências, os embates e até perseguições existentes nas famílias, nas comunidades, nos grupos sociais. Nosso medo, nossa fraqueza, nossa dureza de coração, tem causado muito sofrimento. Martin Luther King, certa vez disse: “O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons.” Porém, como saber quem são os bons e quem são os maus?

     A partir do Evangelho lido, fica claro que quem vive a partir da glória da nossa sociedade tem outra ética. Experimenta e busca vitórias, acúmulo, competição, intimidação dos outros. Porém o ministério que levou Jesus a cruz nos indica outro caminho: a caminho do amor que sai de si mesmo, que vivifica, que faz ressuscitar. É a ética do amor fraterno. Ela é capaz de curar cisões, dispersões, pois tem como caminho a empatia, o olhar amoroso, a compreensão, o diálogo, o perdão.

     A Madre Tereza de Calcutá disse, certa vez: “Não é o quanto fazemos, mas o amor que colocamos naquilo que fazemos. Não é quanto damos, mas quanto amor colocamos em dar.” Portanto, fazemos por amor às pessoas, à natureza, ao bom convívio da criação de Deus nas mais diferentes formas, jeitos, culturas e cores. Madre Tereza desnuda nossa falta de amorosidade e nosso coração materialista quando diz: “O senhor não daria banho num leproso nem por um milhão de dólares? Eu também não! Só por amor se pode dar banho em um leproso.”

      Agora, gostaria de ampliar esta pergunta que fiz no início e fazê-la para a Comunidade: “Como nós gostaríamos que nossa Comunidade fosse reconhecida?” Quais as marcas que temos deixado na vida do povo? Queremos ser reconhecidos pela pureza de nossa doutrina, pelas nossas tradições, pelas nossas belas construções?

     Madre Tereza completa, colocando o mais genuíno Evangelho: “No final de nossas vidas não seremos julgados pelos muitos diplomas, por quanto dinheiro fizemos ou por quantas coisas grandes realizamos. Seremos julgados pelo “Eu tive fome e você me deu de comer, estava nu e me vestiu. Eu tinha casa e você me abrigou.” O amor fraterno não é egoísta, nem corporativo, nem excludente. Ele é solidário, coletivo, acolhedor e justo. Ele é a força transformadora das relações e da realidade de sofrimento e injustiças que vivemos. Anunciemos este amor não somente em palavras, mas em atitudes que transformam a realidade das minorias, dos grupos e das pessoas que sofrem pela sua condição econômica, social, de raça, gênero ou religião.

     A morte foi vencida! Essa certeza de fé nos faz resistir, pois Cristo se faz presente por meio das atitudes solidárias de amor. E respondendo à pergunta inicial, eu gostaria de ter escrito na minha lápide: “Aqui jaz ela que recebeu o Amor e partilhou em seu viver.” Amém

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Pa.em. Anelise Lengler Abentroth

Santa Cruz do Sul – Rio Grande do Sul (Brasilien)

anelisevilmar@gmail.com

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