Romanos 8 .14-17

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Romanos 8 .14-17

PRÉDICA PARA O DOMINGO DE PENTECOSTES | 5 de junho de 2022 | Texto da prédica: Romanos 8. 14-17 | Leonídio Gaede |

Prezados irmãos e irmãs, prezada comunidade

Chegou a hora do sermão. É um momento de grande importância no culto, especialmente para nós luteranos, que costumamos dispor o púlpito em lugar de destaque no altar. É carregado de sentido porque tem a firme pretensão de fazer a palavra de Deus se tornar uma palavra que admoesta e acalenta ao mesmo tempo. Fazer isto acontecer, fazer a palavra de Deus ser palavra dita para ti e para mim é tarefa que só acontece com o toque do próprio Deus. “Creio que por minha própria inteligência ou capacidade, não posso crer em Jesus Cristo, meu Senhor, e nem chegar a ele. Mas o Espírito Santo me chamou pelo Evangelho, iluminou com seus dons, santificou e conservou na verdadeira fé”, explica Lutero no 3º Artigo do Credo Apostólico. Se a seiva alimentadora, que corre em nós, for o Espírito de Deus, então seremos filhos e filhas de sangue, isto é, de espírito da matriz que nos gerou. Poderemos chamar esta matriz de “Aba” e então a sua palavra será para nós tanto admoestação como alento.

Peço licença para começar com a admoestação: tu és um grande pecador, tu és uma grande pecadora. Digo que és grande porque inicias os relacionamentos com teus semelhantes com um grande pecado. É claro, “grande pecado” é força de expressão.  Pode se tratar de um relacionamento com um grande amigo ou uma grande amiga, mas tu insistes em iniciá-lo com pecado. E é com o pecado da mentira que o inicias! Sim, estou querendo dizer que somos tão pecadores e pecadoras que, quando encontramos um amigo ou uma amiga, a primeira coisa que fazemos é dizer-lhe uma “grande mentira”. E o pior é que recebemos o amigo ou a amiga de braços abertos com um largo sorriso no rosto e uma baita mentira. O nosso amigo ou nossa amiga se apressa para vir ao nosso encontro, e vem com uma pergunta digna de quem nos quer bem. A pergunta é “-Como vais?” E nós lhe devolvemos a mentira, dizendo: “-Tudo bem, graças a Deus”. Vejam só: ainda temos a petulância de misturar o nome de Deus. Lá se foram dois mandamentos: mentimos e usamos o nome de Deus em vão.

Como ousas dizer, “está tudo bem, graças a Deus”? Esqueceste o preço da gasolina? Esqueceste o salário insuficiente? Esqueceste os desentendimentos e desavenças familiares? Como assim, “está tudo bem”? Esqueceste a guerra na Ucrânia? Esqueceste a vida difícil nos grandes campos de refugiados pelo mundo afora? Esqueceste a fome e a miséria nas periferias do mundo? Decididamente, tu recebes teu amigo e tua amiga pecando contra o sétimo e o segundo mandamentos, quando dizes “está tudo bem, graças a Deus”.

Peço, porém, calma. Até aqui trouxe a admoestação. Vamos agora buscar alento na Palavra de Deus.

Todas as pessoas que são guiadas pelo Espírito de Deus são filhas de Deus. Esta é a primeira afirmação da palavra bíblica de hoje (v14). Nossa filiação divina não se define pelo tipo de sangue que corre em nossas veias, mas pela seiva espiritual que inunda nossa alma. A resposta a todas as perguntas sobre as dores e os prazeres da vida já está dentro de nós. Nossa resposta aos desafios da vida nasce de nosso interior de acordo com o espírito que banha a nossa existência. A segunda frase que Paulo diz à comunidade romana (v15) é que ela não recebeu o espírito de escravidão para viver atemorizada, mas o espírito de adoção que faz a gente chamar Deus de “Aba”. O Espírito da filiação divina não é, portanto, um tangedor que impõe um caminho de uma servidão que atemoriza. O Espírito da filiação divina é como se fosse uma combustão que impulsiona para frente. “O próprio Espírito confirma ao nosso espírito que somos filhos de Deus” (v16), continua Paulo. Se assim é, então o impulso que recebemos indicará a direção e isto não precisará mais ser feito por um agente externo que exige conduta serviçal atemorizante. A filiação também garante herança. A pessoa torna-se herdeira de Aba, que é a matriz de onde tudo flui, e coerdeira com Cristo, que definitivamente solucionou a dicotomia entre sofrimento e glorificação.

Dediquemos um minuto a isso: a união entre sofrimento e glorificação. Nosso texto encerra com as palavras “com ele sofremos, para que também com ele sejamos glorificados”. Quando julgamos o reino de Deus com os parâmetros do mundo, aplicamos a equação de uma política de resultados e concluímos: precisamos sofrer para receber, como recompensa, a glorificação. Jesus Cristo superou isso. Jesus Cristo disse, justamente quando Judas saiu para trai-lo: “-Agora foi glorificado o Filho do Homem” (João 13.31). A glorificação se confunde com o processo da crucificação. Com o evento protagonizado por Judas revela-se a verdadeira natureza humana do verbo que se tornou carne. A partir disso, a glorificação dos filhos e filhas não é mais endeusamento do humano, mas é a humanização do divino. Por isso damos eco ao apelo: faça como Deus, vire gente!

“Se o espírito de Deus se move em mim, eu canto, salto, corro, luto, … como o rei Davi”, diz uma canção infantil. Penso que os sinais do reino de Deus são os impulsos que as pessoas recebem pelo Espírito de Deus. Existe sim, por outro lado, a tarefa de denunciar pecados e expressar o Kyrie Eleison. Este não é, porém, o assunto da palavra bíblica de hoje. Ela nos convida a testemunhar o espírito de filiação a Deus em nosso campo de atuação. Por isso digo agora, no final desta prédica, o contrário do que disse lá no início: tu não és um grande mentiroso, tu não és uma grande mentirosa, quando recebes teu amigo ou tua amiga de braços abertos com um largo sorriso no rosto, dizendo que está tudo bem, graças a Deus. Essa acolhida de braços abertos e esse sorriso largo é a expressão de que estamos conscientes dos grandes problemas que tem o mundo ao nosso redor. Por isso abraçamo-nos conscientes de que o espírito de Aba pulsa em nós e por isso está tudo bem, graças a Deus!

Quando nosso destino é uma bela cidade onde vamos encontrar pessoas amigas e parentes, devemos sim, reparar as curvas, as condições do pavimento, da sinalização e demais questões que dizem respeito ao trecho da estrada que percorremos. A estrada não é, porém, o nosso destino. A expressão poética “caminheiro, o caminho se faz ao andar” apresenta o caminho como lugar da estratégia para chegar. O caminho não é apresentado como destino. Assim, na vida não podemos substituir aquilo que verdadeiramente é por aquilo que eventualmente está sendo. Convido, por isso, todos os irmãos e todas as irmãs para que mintam muitas vezes e o façam conscientemente sempre quando acolherem um amigo ou uma amiga em um afetuoso abraço e um largo sorriso. Quando o Espírito de Deus se move em nós damos sempre a garantia de que está tudo bem, graças a Deus, a todas as pessoas que temos a oportunidade de agasalhar com o nosso abraço e sorriso. Que assim seja! Amém.

P.Leonídio Gaede

Itati – Rio Grande do Sul (Brasilien)

leonidiogaede@hotmail.com

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