13º Domingo após Pentecostes

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13º Domingo após Pentecostes

13º Domingo após Pentecostes – 30 de agosto de 2020 | Texto da prédica: Mateus 16.21-28 | Romeu Martini |

Estando num círculo de amizade, costuma-se compartilhar planos para o futuro. – Ah, eu quero ser enfermeira! – No final deste ano vamos passar dez dias na praia! – Ano que vem vamos reformar nossa casa! – Quando a Covid passar,……!!

Se numa dessas rodas de conversa alguém dissesse: – Convido vocês para nos reunirmos no próximo sábado à noite para festejar minha despedida. Viajarei pra capital do Estado e lá serei assassinado, qual seria a nossa reação? (pausa) Pois o texto da prédica deste culto nos traz um relato semelhante.

A partir do capítulo 14 do Evangelho de Mateus lemos alguns episódios da vida de Jesus. Ele saciou a fome de uma multidão, contrariando os discípulos que queriam resolver a fome mandando o pessoal pra casa. Ao caminhar sobre a água, Jesus testou a fraca fé dos discípulos. Jesus curou pessoas. Discutiu com um grupo de seguidores obcecados pela lei. Jesus acolheu uma mulher estrangeira, mais uma vez contrariando os discípulos. Finalmente, em meio às polêmicas pelo „whatsup da época“ sobre quem seria esse tal de Jesus, Jesus perguntou: E vocês discípulos, quem vocês dizem que eu sou? Pedro respondeu: O Senhor é o Messias, o Filho do Deus vivo (Mt 16.16).

Bah! Que confissão! Quanta clareza de Pedro! Pelo jeito, ele e os discípulos entenderam quem é Jesus. Será?

Ouçamos de Mateus, 16.21-28 (leitura).

Sentado no círculo dos seus discípulos, Jesus anuncia que (1) será submetido a sofrimento pelas lideranças religiosas, (2) será morto e (3) ressuscitará. Diante dessa notícia, o mesmo Pedro que pouco antes com aparente clareza e convicção confessara que Jesus era o enviado Filho de Deus, o mesmo Pedro repreende Jesus. Pedro repreende Jesus. Repreender é o que a mãe e o pai fazem para evitar que o filho faça alguma bobagem. Pedro repreende Jesus: Não, Jesus! Não fale bobagem. Sofrer,morrer e ressuscitar? Pare, Jesus! Isso não.

Sou da opinião de que, por um lado, a reação de Pedro é compreensível. Ora, não é normal alguém dizer que terá de sofrer e ser morto. Não seria normal ouvir e aceitar isso com frieza. Mas, há um detalhe nesse anúncio de Jesus. Jesus não somente afirma que será morto. Ele também diz que ressuscitará. Pedro, porém, parece não ter ouvido essa parte final da frase dita por Jesus. Jesus será morto? Não. Não, não e não.

Repito. Por um lado, a reação de Pedro é compreensível. Porém, por outro lado, a reação de Pedro demonstra como é difícil assumir as consequências da confissão de que Jesus é o Filho de Deus (repetir esta frase, pois é o foco desta prédica). Como é difícil arcar com as consequências depois de entrar no barco para navegar com Jesus. Como é difícil resistir em meio aos vendavais que podem se abater sobre quem crê em Jesus Cristo.

Mateus escreveu seu Evangelho para as comunidades cristãs  mais ou menos uns 40 anos depois da morte e ressurreição de Jesus. E dá para deduzir que essa era a crise das comunidades dessa época: quais podem ser as consequências para quem confessa a fé em Cristo? Será que isso está claro para nós?

Para os discípulos, não era novidade que seguir Jesus poderia trazer consequências dramáticas. Recordemos dois exemplos.

Conforme Mateus 5 (no Sermão do Monte), Jesus afirmou: Felizes as pessoas que sofrem perseguição por fazerem a vontade de Deus, pois o Reino do Céu é delas (v. 10) Felizes são vocês quando os insultam, perseguem e dizem todo tipo de calúnia contra vocês por serem meus seguidores (v. 11).

Conforme Mateus 10.1ss, Jesus alertou os discípulos: Vão, ensinem, curem. Anunciem a paz (v. 12). Mas escutem com atenção: Vocês estão indo como ovelhas para o meio de lobos. Tenham cuidado. Por serem meus seguidores, vocês serão presos, levados aos tribunais e chicoteados (v. 16ss).

Portanto, o anúncio de Jesus aos seus discípulos que ele sofreria, seria morto e ressuscitaria não podia ser novidade para os discípulos. Mas então, por que Pedro repreende Jesus diante desse anúncio? Onde então está a dificuldade? A dificuldade está em assumir as consequências quando se confessa a fé em Jesus (falar pausadamente esta frase).

E é isso que o próprio Jesus vai repetir depois da repreensão de  Pedro. Jesus diz: Sai, diabo! E lemos nos vv. 24 e 25: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me. Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á. Outra tradução deste texto é mais direta: Quem quiser me seguir, esteja pronto para morrer como eu vou morrer.

Talvez o dito de Jesus nos assuste, assim como Pedro se assustou. Seria humano e compreensível alguém hoje dizer: Pô, nunca desejei ser suicida. E não é isso que o texto bíblico desta prédica nos está propondo. O texto está reafirmando com clareza o que já ouvimos inúmeras vezes nos cultos e encontros da comunidade: Ser seguidor ou seguidora de Jesus traz consequências que podem ser amargas (pausa). Se isto é assim, qual a motivação que temos para permanecer no seguimento a Jesus, para persistir na fé no Deus Criador de céus e terra?

Essa motivação foi apresentada por Jesus nessa mesma conversa com seus discípulos. Jesus disse que virá em glória e recompensará de acordo com o que cada qual terá agido nesta vida (v. 27). Pode ser que agora vocês pensem: Iiii, lá vem moralina! Afirmo que não. Convido vocês a rememorar as ações de Jesus. E pensando como humanos que somos (dotados de alma e coração!), sejamos sinceros: existe algo que nos dá maior alegria e sentido de vida do que fazer o que Jesus ensinou? Por exemplo: apoiar pessoas enfermas, inclusive para que tenham acesso à assistência médica digna; acolher e apoiar pessoas que buscam trabalho; empenhar-se para que crianças e adolescentes tenham acesso ao pão diário e à escola; caminhar com quem sofre, não importa o sofrimento; opor-se onde pessoas são exploradas; empenhar-se para que a justiça seja a vencedora; corrigir-se para acabar com todo tipo de preconceito. Como eu me senti no dia em que recebi apoio por que estava em alguma dessas situações? Pois muito mais feliz e humano eu me sentirei toda vez que eu puder estar ao lado de pessoas, famílias, grupos, quem quer que seja que passam por situações assim! Ser humano com humanos é a grande lição de vida de Jesus. E é isso que promove a paz e me faz sentir a paz!

É verdade. Pode ser que a gente se complique ao dar do seu tempo e envolver-se em alguma dessas situações. Mas essa será uma bendita complicação, pois será consequência da nossa fé e do nosso comprometimento com o Cristo morto e ressurreto. E é ali que Deus Pai, o Filho ressurreto e o Espírito vivificador estarão conosco. Nossa recompensa maior será a de estar com Deus na Eternidade. Isto a ressurreição de Jesus já garantiu. Pois o Filho do Homem virá na glória do seu Pai com os seus anjos e então recompensará  cada um de acordo com o que fez (v. 27). Nisso cremos. Importa assumir com alegria e gratidão – e preferencialmente na companhia de irmãos e irmãs – as consequências que derivam dessa fé. Amém.

 

P. Dr. Romeu Martini

Porto Alegre – Rio Grande do Sul, Brasilien

romeurubenmartini@gmail.com

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