3º DOMNGO DA PÁSCOA

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3º DOMNGO DA PÁSCOA

PRÉDICA PARA 3º DOMNGO DA PÁSCOA – 18 DE ABRIL DE 2021 | Texto bíblico: Lucas 24, 36b – 48 | Harald Malschitzky |

Querida comunidade.

Voltemos no tempo; tentemos fazer de conta que nada sabemos da Páscoa; façamos de conta de que a última notícia que temos do nosso maior amigo e mestre Jesus é de alguém executado  como pessoa perigosa tanto para os líderes judeus como para líderes romanos que, de alguma forma temiam que ele poderia estar tramando algum golpe.  Para os executores o fim de uma suposta ameaça, para os amigos e seguidores, chamados discípulos e discípulas – é havia muitas mulheres no grupo! – uma grande decepção! Havia tantas esperanças, havia  uma história – curta, é verdade – de relacionamentos radicalmente novos, onde o ser humano era respeitado pelo simples fato de ser criatura de Deus e não por suas posses, sua sabedoria, sua esperteza ou o poder que exercia. Uma coisa totalmente inacreditável no mundo que se vivia, este mundo cheio de preconceitos, cheio de “mais iguais”, cheio de miseráveis e desprezados – agora, aquele que inaugurou essa novidade morreu executado do jeito que nem o pior bandido romano deveria ser executado!

Acho que ao menos  conseguimos sentir um pouco da decepção que esses amigos estavam sentindo. Para piorar, entrou em vigor uma lei que proibia o uso ou menção do nome do Nazareno. Um pequeno grupo continuou reunido, meio acuado, outros saíram em busca de outro destino. É verdade que algumas mulheres vieram contar que Jesus estava vivo e que ele tinha mandado um recado aos seus amigos. Mas aí já surgiu um novo problema: Naquela época (só naquela?) uma mulher não podia depor em juízo ou outro lugar. Sua palavra simplesmente não valia nada! Embora as mulheres pertencessem ao grupo dos discípulos/as, amigos/as de Jesus, seu depoimento estava “sob suspeita” simplesmente pelo fato de serem mulheres.  Sem dúvida também entre os discípulos esse senso comum deixava suas marcas. E tem ainda a outra cena, passagem muito bonita,  dos discípulos que iam embora e foram alcançados por Jesus, mas não o reconheceram. Quando os seus olhos lhes foram abertos e reconheceram a Jesus, voltaram para Jerusalém. Aí estavam os demais discípulos ainda desarrumados com a morte de Jesus, as mulheres que contaram o que viram, mas não foram tomadas a sério… Quem toma a palavra é o próprio visitante: Paz seja convosco! Os discípulos ficam apavorados, pensando que estavam vendo algum espírito. Foi preciso que Jesus se identificasse – como anteriormente aos que iam a Emaús –   de forma muito humana, pedindo alguma coisa de comer, para em seguida lembrar o que já lhes havia falado sobre seu caminho para o perdão dos pecados humanos. E pela ação e presença  de Jesus, o vivo, eles foram sendo transformados de medrosos e assustados em testemunhas da novidade de vida e de esperança.

Na verdade nós hoje não estamos tão distantes desse cenário. O sofrimento e a crucificação de Jesus são humanamente imagináveis. Historiadores desde os primórdios de nosso calendário o atestam. Mas falar da ressurreição já foge aos critérios verificáveis de historiadores e de nossa pura e simples racionalidade. E a história da teologia de dois milênios é marcada pelos traços da busca dessa compreensão. Para grande parte não é tão difícil seguir as pegadas do nazareno, ainda que a gente nem sempre concorde com ele e nem se esteja disposto de com ele caminhar até o fim. Quanta gente em nosso país invoca Jesus, mas maquina o ódio, é a favor de armar a população e divide o povo entre amigos e inimigos? Isso não se sustenta no que o Nazareno ensinou! Nem todos os que exclamam Senhor, Senhor, entrarão no reino dos céus, significa, não estão vivendo já aqui e agora a vontade do Nazareno!

Por outro lado, há “adoradores” que preferem deixar o ressurreto no céu, confinado a igrejas e catedrais. A gente o reverencia em determinados momentos mais como um ídolo de religiosidade difusa, sem maiores consequências para a vida cotidiana. Aqui vale lembrar a voz que os discípulos ouviram no momento da transfiguração (Lucas 9.28s), quando eles propuseram construir tendas, pois “é bom estarmos aqui”, a voz que deu outro rumo às suas vidas: “Este é o meu Filho, o meu eleito, a ele ouvi”.

A passagem que ouvimos une magistralmente as duas imagens que muitas vezes se têm de Jesus: O ressurreto, que até foi tido como um fantasma por seus amigos, é o mesmo Jesus de Nazaré com quem conviveram, discutiram e que nem sempre compreenderam.

Isso significa que não podemos ter apenas uma das imagens de Jesus. Ele é um todo e a partir da ressurreição suas palavras e sua vivência têm caráter definitivo. Ser cristão é adorar, ouvir e se deixar pôr em dúvida pelo Cristo todo.  Ninguém é dono do Cristo. Por isso falar de um país cristão como se ouve por aí, é não só temerário, mas blasfemo. Jesus quer sentar-se à nossa mesa, ter comunhão não para confirmar o que nós pensamos, mas para confirmar a sua missão, a razão de sua vinda, a novidade de vida que ele veio inaugurar e que temos tanta dificuldade de aceitar, porque o velho Adão em nós não quer arrependimento e nem perdão, porque receber o perdão implica em arrependimento e mudança de vida. Peçamos que Jesus, o Cristo, entre sempre de novo em nossas portas com a saudação: “Paz seja convosco”, aquela paz que não se sustenta com armas, mas concede plenitude de vida a todas as criaturas. O amor e a paz de Deus estejam e permaneçam conosco. Amém

P.em. Harald Malschitzky

São Lepoldo – Rio Grande do Sul, Brasilien

harald.malschitzky@gmail.com

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