Eu vi o Senhor! Ele vive!

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Eu vi o Senhor! Ele vive!

Prédica para o Domingo de Páscoa – 12 de Abril de 2020 | sobre João 20.1-18 | por Anelise Lengler Abentroth |

Mais uma vez é Páscoa! Celebramos a ressurreição de Jesus. Ele vive! Ele está no meio de nós. Mas é preciso perguntar: “Que diferença este anúncio, esta boa-nova faz em nossa vida, hoje? ” Estamos vivendo tempos difíceis, onde uma pandemia ameaça a vida em todo o planeta. A morte nos espreita. Recolhidos em nossas casas, com medo do contato social, com muitas notícias alarmantes e até mentirosas que testam nossa lucidez. Famílias estão passando pela apreensão de amados/as doentes. Outros ainda, pela perda de seus queridos/as. A humanidade está perplexa!

A situação é diferente, mas quem sabe, o sentimento é semelhante. Naquele domingo de manhã bem cedo, ainda escuro, Maria Madalena foi ao túmulo. Mataram Jesus. Sentimento de impotência, de raiva, de tristeza profunda se misturam com a vontade de fazer algo para honrar o amigo amado. Era preciso fazer a última homenagem. Ela não queria abandoná-lo assim. Porém, ao chegar, viu a pedra removida. Mais uma decepção. Violaram o sepulcro de Jesus. Quanta dor! Já não bastou tudo o que Ele passou? Já não bastou todo o sofrimento? Mais isso…. Ela corre até onde estão os discípulos e lhes dá mais essa triste notícia.

Desse momento em diante, há pelo menos dois relatos que foram colocados lado a lado. Atitudes diferentes. Com consequências bem diferentes. Todos estavam profundamente abalados, arrasados pelos acontecimentos. Pedro e o discípulo que Jesus amava foram ao túmulo. Olharam para dentro e viram os lençóis e o sudário. Chegaram mais perto e tiveram a certeza de que Jesus não estava lá. Diz o texto: “Ele viu e creu. ” Jesus havia dito que ressuscitaria. Suas palavras se confirmaram. Ele disse a verdade. Seus corações devem ter se enchido de espanto, de consolo, de grande alegria!  Porém, diz o texto que os dois voltaram para casa. Simples assim: voltaram para casa!

Nos domingos de Páscoa, normalmente as igrejas ficavam repletas de pessoas. A maioria das famílias cristãs tratava de ir ao culto. Celebravam e até se emocionavam revivendo os principais acontecimentos da fé cristã. Mas, depois disso, voltavam para suas casas! Como os discípulos: creram que Jesus ressuscitou, mas esta fé ainda não convence, ela fica sem consequência. A vida continua, o almoço vai ser preparado, os chocolates são presenteados, votos e mensagens de “Feliz Páscoa! ” são distribuídos, mas no outro dua,  tudo volta a ser igual. Não há manifestação de verdadeira alegria, nem testemunho da ressurreição. Tudo fica no íntimo, no coração, no “eu me sentir bem, porque Jesus me salvou”.

Cara comunidade, irmãos e irmãs! A fé no ressuscitado que não se traduz em atitudes concretas fica inerte, não modifica, não transforma vidas. Ela não produz o seguimento para o qual o ressuscitado nos chama na Páscoa. Ainda está faltando algo que é essencial. Talvez por isto o texto continua e há um outro relato.

Maria Madalena ficou fora chorando. Sua dor era tanta… Dor que tantas vezes sentimos, que nos tira o chão, nos faz apenas olhar para baixo, sem perspectivas, sem saber direito o que sentimos, o que pensamos. É neste momento que Deus se manifesta e seus anjos perguntam: “Mulher, por que você está chorando? ”  É importante que ela identifique a sua dor e a coloque em palavras. Palavras são libertadoras! Dizem os especialistas que identificar o motivo da dor e traduzi-la em palavras é a boa parte do processo de cura. Os anjos perguntam, Jesus pergunta. Mas será que a resposta dada por Maria foi completa? Seria esse o real motivo da sua dor? Então, Jesus aparece na sua frente e repete a mesma pergunta, porém vai além: “Quem é que você está procurando? “ Ela o reconhece quando Ele a chama pelo seu nome.

Um pouco antes, Jesus tinha dito: “ Mas quem entra pela porta é o pastor do rebanho. O porteiro abre a porta para ele, e as suas ovelhas ouvem a sua voz quando ele as chama pelo nome. ” João 10.2-3. Maria Madalena estava quase cega pelo seu sofrimento, pela sua dor. Mas agora vem a palavra da vida que mexe com o mais profundo desta mulher. Jesus a chama pelo nome. Ele A conhece. E ela também O conhece, pois o chama carinhosamente de Rabbouni, que quer dizer: meu Mestre, nosso Mestre! Aquele que parecia ter sucumbido à maldade, à inveja, ao escárnio, à injustiça, à mais terrível violência que os seres humanos são capazes de fazer, agora está na sua frente, chamando-a pelo nome e lhe dando uma tarefa: “Vá e diga aos meus irmãos…”

Poderíamos parar por aqui e nos admirar com o acontecido com Maria Madalena, mas ainda não compreendemos o inusitado, o inesperado, o libertador desta Boa-nova. Jesus ressuscitado aparece para Maria Madalena, uma mulher. Aquela mulher que foi curada por Jesus e de quem saiu sete demônios. Mulheres por si só não eram consideradas como os homens. Elas não serviam de testemunhas em julgamentos. Mulheres, crianças, pessoas com deficiências, doentes eram considerados seres de menos valor. Por isto, com toda a certeza, discípulos e a sociedade da época encontrariam muitos motivos para apontar o dedo para esta mulher. Como ainda fazem hoje, quando querem desqualificar as atitudes e as determinações das mulheres. Quando não agradam, parte-se para desqualificá-las pessoalmente. Essa prática é recorrente ainda em nossos tempos. Por isto, é tão libertador ver que uma mulher se torna a primeira testemunha pública do ressuscitado. Ela fica tomada de alegria, tudo se modifica em seu ser. Ela vai e testemunha aos discípulos: “ Eu vi o Senhor! “ E qual a reação dos discípulos? O texto não diz, mas podemos imaginar. Todos acreditaram nas suas palavras? O que fizeram a partir desta mensagem? Creram também?

Caros irmãos e irmãs! Nós também não vimos o Senhor ressuscitado. Nós temos o testemunho de Maria Madalena. O que este testemunho modifica o nosso ser e fazer? Jesus disse a ela que não o segurasse. Mas que era para ela ir e dizer aos seus irmãos. Sua presença não era mais a mesma de antes da crucificação. Agora, a relação pessoal com o Mestre se dá em comunhão com irmãos e irmãs. É vida comunitária!

Cristo Vive! Ele está no meio de nós. Ele pergunta pela nossa dor. Ele quer saber o que se passa conosco. Ele vê e ouve o clamor da humanidade de geme, chora, está com medo, angustiada com tudo que está acontecendo. Ele nos chama pelo nosso nome, nos abençoa, nos empodera e nos envia para uma nova comunhão. Da Sua Comunidade Cristo espera um testemunho atuante, não de super-heróis ou heroínas, mas de pessoas solidárias, sensíveis às dores e sofrimentos das outras pessoas. Há tantas Marias Madalenas entre nós que, por causa da sua fé, agem, trabalham, se dedicam ao serviço comunitário com responsabilidade, com profundo carinho e dão o melhor de si. A pergunta que precisamos fazer é: isto nos motiva? Mexe com nossa inércia? Ou também tratamos de desqualificar estas mulheres e estes homens no seu fazer? Deveríamos nos perguntar se não estamos sendo aqueles discípulos que viram, creram, mas voltaram para casa… Há muito por fazer, pois há muita dor em nossa sociedade. Crer que Cristo vive, nos faz mais sensíveis e corajosos quando necessário denunciar e buscar transformar as injustiças e as mazelas humanas.

Que esta Páscoa, seja um momento de renovo pessoal, para nos voltar ao principal da fé cristã, de tal forma que o anúncio de que “ Cristo vive! “ se torne um sinal de uma nova caminhada de fé, onde rememoramos o nosso Batismo e o amor que recebemos de Deus e aprendemos a vivenciar este amor a cada dia de nossas atribuladas existências. Amém.

 

 

Pa. Anelise Lengler Abentroth

Santa Cruz do Sul – Rio Grande do Sul, Brasilien

anelisevilmar@gmail.com

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